São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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Seleção não treinou a "linha burra"

Atletas negam versão de Roberto Carlos de que havia combinação para deixar franceses impedidos na jogada do gol

"Dida é que dava orientação para não entrar na área", diz Cicinho, que, como Rogério, lembrou que Parreira nunca levou em conta a estratégia


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No jogo mais importante da seleção na Copa, contra a França, tudo deveria estar combinado -marcação individual, jogadas ensaiadas. Mas versões diferentes de jogadores para a falha da defesa brasileira no gol francês mostram que ou as ordens de Carlos Alberto Parreira não foram seguidas ou havia instruções contraditórias sobre como parar os adversários.
No lance decisivo, Henry, autor do gol, e mais quatro jogadores franceses enfrentaram só três brasileiros, Juan, Lúcio e Gilberto Silva, após a cobrança de uma falta por Zidane. Cinco atletas ficaram parados próximos da linha da grande área.
Entre eles, Roberto Carlos, que era o mais próximo a Henry -ele abaixou para ajeitar a meia enquanto o francês avançava. O lateral se isentou de culpa ao afirmar que havia uma combinação para fazer a linha de impedimento, que não foi seguida por três deles.
"Tinha uma orientação de que se ficasse em linha, mas nem sempre era cumprida. O Dida que dá a orientação para não entrar [na área]", declarou o lateral reserva Cicinho, que entrou no fim do jogo e esteve ontem no centro de treinamento do São Paulo.
Mas o próprio jogador reconheceu que a jogada nunca foi treinada por Parreira. Segundo ele, era combinada apenas entre os atletas -o técnico somente tomava conhecimento. "É de improviso, na hora."
Parreira, realmente, incentivava os jogadores a se reunirem para conversarem sobre o time e até darem sugestões táticas.
Fora de campo, o goleiro reserva Rogério confirmou que o técnico nunca treinou linha de impedimento. E desconhecia a combinação. "Mas eu não estava jogando", ressalvou.
Ele afirmou que, no São Paulo, os atletas não usam a prática de deixar adversários em posição ilegal sem que exista uma instrução do treinador.
Integrante do elenco da seleção, depois cortado, Edmílson também não se lembra de o técnico ter treinado linha de impedimento. Disse que havia prioridade para treinos físicos.
Ao comentar a eliminação, Parreira disse que houve falha de marcação, mas não falou na prática da linha de impedimento. Disse que, no setor em que estava Henry, poderiam estar Kaká, um dos laterais (Cafu e Roberto Carlos) ou Zé Roberto.
Último citado, o meia e mostrou desconhecer a orientação de cobrir o setor ou a saída da área nas bolas paradas.
"Sempre recebi orientação de ficar na barreira ou no rebote. Henry estava só. Alguém deveria estar naquele setor. Foi falta de atenção. Ficou faltando algum jogador", explicou Zé Roberto à ESPN Brasil.
E ainda fez críticas indiretas a Parreira por não pedir marcação individual em Zidane. "Já na primeira parte ele teve liberdade. Cada treinador tem um conceito. De repente, seria viável botar um homem nele."
Sem se entenderem, o técnico e os atletas brasileiros deixaram os craques franceses jogarem, e o Brasil voltou mais cedo do que o previsto para casa.


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