São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Um outro 2001

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

E eis que chegamos ao fim do primeiro ano do novo milênio. Foi realmente um ano inesquecível. Quando ele começou, naqueles quentes dias de janeiro e fevereiro, pouca gente achava que seria um dos mais marcantes na história do esporte brasileiro. Confesso que eu era um dos otimistas. Não por ser profeta, mas por causa de um argumento que me parecia bastante lógico: tínhamos chegado ao fundo do poço; pior do que 2000, impossível.
Que fatores teriam levado a tão inesperadas mudanças?
Logo de cara tivemos esperada e oportuna cassação do pepebista Eurico Miranda. Uns dirão que foi pouco e que, assim que for possível, vascaínos inocentes o reconduzirão a um cargo público, fazendo com que ele abandone sua mansão em Miami e volte para Brasília de Corvette. Pode ser.
De todo modo, foi a primeira vez que se puniu um cartola que ignorava a lei, desrespeitava os compromissos que assinava e era suspeito de negócios escusos. Mas o melhor ainda estava por vir, e foi quando a CPI do Futebol conseguiu mandar para a cadeia três dirigentes. Aí sim tivemos certeza de que seria um grande ano. Alguns acharam um exagero, mas sem punições nunca iríamos sair da lama onde estávamos.
Foi uma dura luta para quebrar os sigilos bancários dos presidentes de clube, mas, como se viu, valeu a pena. Ou você acha que a renúncia de sete deles, a fim de evitar processos, teve outra causa?
Também considerei positiva a proposta de eliminar aqueles torneios congestionadores de calendário, como as taças regionais, a Copa dos Campeões e a Copa Mercosul. Assim ficamos com uma quantidade menor de partidas, abrindo espaços para as equipes se prepararem e oferecerem espetáculos mais bonitos para os torcedores. Os números da audiência não me deixam mentir.
A seleção brasileira também saiu ganhando com isso, podendo se reunir mais cedo, treinar mais e jogar melhor. Não por acaso, terminamos o ano como campeões absolutos das eliminatórias, com goleadas memoráveis sobre nossos tradicionais vizinhos. Bem treinado, o Brasil pode não ser imbatível, mas é muito, muito mais forte do que eles. Ainda mais com o Ronaldo de volta, parecendo estar novinho em folha.
Foi ainda excelente a realização do Campeonato Brasileiro com apenas 20 clubes e por pontos corridos. Mesmo com alguns times disparando na ponta não se verificou o tão temido desinteresse dos torcedores. O que se quer ver, afinal, não é necessariamente uma decisão entre dois times -lembrem-se do patético Vasco x São Caetano-, o que se quer ver é uma competição animada, cheia de jogos emocionantes, lances antológicos e gols memoráveis.
Havendo isso o torcedor acompanha o campeonato até o fim, mesmo que ele já esteja mais ou menos decidido algumas rodadas antes do encerramento, como aconteceu nesse ano com a disparada da Lusa.
Aliás, a Lusa foi a sensação de 2001. A conquista do Campeonato Paulista foi brilhante, e o gol de Lúcio aos 45min do segundo tempo será lembrado por muito tempo. Ao Santos, resta o consolo de ser, de novo, vice.
Mas talvez o mais importante tenha sido o fim do passe. Aquela instituição arcaica já devia ter acabado há muito tempo. Agora os próprios jogadores é que decidirão onde irão jogar, assim como qualquer trabalhador. E isso ainda trouxe outra vantagem: sem possibilidade de ganhar um dinheiro por fora, os dirigentes desonestos, que só ficam nos clubes para encher o bolso, estão se afastando do futebol e procurando outras áreas mais afeitas ao seu comportamento. Não é à toa que alguns deles abriram corretoras de valores e outros, igrejas.
Para não ficar restrito ao futebol, achei também muito animador o súbito apoio do governo e de empresas ao basquete, ao vôlei e aos esportes amadores. Depois de tantos apoios e investimentos, já é possível sonhar com um desempenho honroso nos Jogos de Atenas-2004.
No mais, não foi um ano menos feliz: Guga ganhou novamente a Corrida dos Campeões, Rubinho conquistou seu primeiro vice-campeonato, que é o máximo que conseguirá na equipe de Schumacher, Gil de Ferran foi bicampeão da Indy e Popó manteve seu título, dessa vez massacrando lutadores respeitados.
Enfim, eis o balanço desse 2001. Felizmente a vida é assim: tem reviravoltas que às vezes surpreendem até o mais tresloucado dos ficcionistas.

E-mail torero@uol.com.br



Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Zona de perigo
Próximo Texto: Judô: Família Mamede encerra 31 anos de domínio na CBJ
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.