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FUTEBOL
Um outro 2001
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
E eis que chegamos ao fim
do primeiro ano do novo
milênio. Foi realmente um ano
inesquecível. Quando ele começou, naqueles quentes dias de
janeiro e fevereiro, pouca gente
achava que seria um dos mais
marcantes na história do esporte brasileiro. Confesso que eu
era um dos otimistas. Não por
ser profeta, mas por causa de
um argumento que me parecia
bastante lógico: tínhamos chegado ao fundo do poço; pior do
que 2000, impossível.
Que fatores teriam levado a
tão inesperadas mudanças?
Logo de cara tivemos esperada
e oportuna cassação do pepebista Eurico Miranda. Uns dirão
que foi pouco e que, assim que
for possível, vascaínos inocentes
o reconduzirão a um cargo público, fazendo com que ele
abandone sua mansão em Miami e volte para Brasília de Corvette. Pode ser.
De todo modo, foi a primeira
vez que se puniu um cartola que
ignorava a lei, desrespeitava os
compromissos que assinava e
era suspeito de negócios escusos.
Mas o melhor ainda estava por
vir, e foi quando a CPI do Futebol conseguiu mandar para a
cadeia três dirigentes. Aí sim tivemos certeza de que seria um
grande ano. Alguns acharam
um exagero, mas sem punições
nunca iríamos sair da lama onde estávamos.
Foi uma dura luta para quebrar os sigilos bancários dos presidentes de clube, mas, como se
viu, valeu a pena. Ou você acha
que a renúncia de sete deles, a
fim de evitar processos, teve outra causa?
Também considerei positiva a
proposta de eliminar aqueles
torneios congestionadores de
calendário, como as taças regionais, a Copa dos Campeões e a
Copa Mercosul. Assim ficamos
com uma quantidade menor de
partidas, abrindo espaços para
as equipes se prepararem e oferecerem espetáculos mais bonitos para os torcedores. Os números da audiência não me deixam mentir.
A seleção brasileira também
saiu ganhando com isso, podendo se reunir mais cedo, treinar
mais e jogar melhor. Não por
acaso, terminamos o ano como
campeões absolutos das eliminatórias, com goleadas memoráveis sobre nossos tradicionais
vizinhos. Bem treinado, o Brasil
pode não ser imbatível, mas é
muito, muito mais forte do que
eles. Ainda mais com o Ronaldo
de volta, parecendo estar novinho em folha.
Foi ainda excelente a realização do Campeonato Brasileiro
com apenas 20 clubes e por pontos corridos. Mesmo com alguns
times disparando na ponta não
se verificou o tão temido desinteresse dos torcedores. O que se
quer ver, afinal, não é necessariamente uma decisão entre
dois times -lembrem-se do patético Vasco x São Caetano-, o
que se quer ver é uma competição animada, cheia de jogos
emocionantes, lances antológicos e gols memoráveis.
Havendo isso o torcedor
acompanha o campeonato até o
fim, mesmo que ele já esteja
mais ou menos decidido algumas rodadas antes do encerramento, como aconteceu nesse
ano com a disparada da Lusa.
Aliás, a Lusa foi a sensação de
2001. A conquista do Campeonato Paulista foi brilhante, e o
gol de Lúcio aos 45min do segundo tempo será lembrado por
muito tempo. Ao Santos, resta o
consolo de ser, de novo, vice.
Mas talvez o mais importante
tenha sido o fim do passe. Aquela instituição arcaica já devia
ter acabado há muito tempo.
Agora os próprios jogadores é
que decidirão onde irão jogar,
assim como qualquer trabalhador. E isso ainda trouxe outra
vantagem: sem possibilidade de
ganhar um dinheiro por fora, os
dirigentes desonestos, que só ficam nos clubes para encher o
bolso, estão se afastando do futebol e procurando outras áreas
mais afeitas ao seu comportamento. Não é à toa que alguns
deles abriram corretoras de valores e outros, igrejas.
Para não ficar restrito ao futebol, achei também muito animador o súbito apoio do governo e de empresas ao basquete,
ao vôlei e aos esportes amadores. Depois de tantos apoios e investimentos, já é possível sonhar
com um desempenho honroso
nos Jogos de Atenas-2004.
No mais, não foi um ano menos feliz: Guga ganhou novamente a Corrida dos Campeões,
Rubinho conquistou seu primeiro vice-campeonato, que é o
máximo que conseguirá na
equipe de Schumacher, Gil de
Ferran foi bicampeão da Indy e
Popó manteve seu título, dessa
vez massacrando lutadores respeitados.
Enfim, eis o balanço desse
2001. Felizmente a vida é assim:
tem reviravoltas que às vezes
surpreendem até o mais tresloucado dos ficcionistas.
E-mail torero@uol.com.br
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