São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

O Corinthians, o Flamengo e as sogras

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Misógino leitor, misóloga leitora, nas duas últimas semanas falei que havia times que eram como mulheres feias e equipes que se assemelhavam a amantes. Pois bem, hoje veremos clubes que são como sogras.
As sogras, sabe-se lá por qual motivo, são consideradas tradicionais inimigas pelas esposas e rivais eternas pelos maridos. E há clubes que também são assim. Clubes que são inimigos naturais de todos os outros.
Queres exemplos? Dou-te.
Pergunte a um santista, a um são-paulino e a um palmeirense qual time ele prefere vencer. Provavelmente eles responderão em coro: "Corinthians!". O clube do Parque São Jorge conseguiu a difícil proeza de unir todos os outros torcedores paulistas. Tanto que se diz que ele já não tem mais a maior torcida do Estado, mas a segunda. A primeira seria a torcida anticorintiana.
Em casa mesmo tenho um exemplo: meu pai. O Santos, na verdade, é apenas seu segundo time. O primeiro é qualquer um que jogar contra o Timão, que ele chama de Timinho. No último Corinthians x Palmeiras, eu lhe disse que deveríamos torcer para o Corinthians, pois era melhor para o Santos. De nada adiantou. Ele passou o jogo todo torcendo por uma vitória palmeirense.
No Rio, a sogra é o Flamengo. Há muitos fluminenses que se consolam de seu mau estado com a pior situação do rubro-negro. Mas o Flamengo já não é o antípoda por excelência no Rio. Eurico Miranda conseguiu transmitir parte de sua antipatia para o Vasco, de modo que o time cruzmaltino, hoje, é quase um inimigo natural como o Flamengo.
No Paraná, há o Coritiba. Time considerado "de elite", é o Coxa quem concentra os ódios do Estado. Pode perguntar a um raro paranista ou a uma bela atleticana.
E qual o motivo deste ódio por Corinthians, Flamengo e Coritiba? Eu desconfio que é o mais comum dos pecados: a inveja. A verde e amarga inveja.
Os torcedores dos outros clubes invejam o Flamengo porque ele tem uma torcida imensa, espalhada pelo Brasil e apaixonada feito um adolescente cheio de espinhas. De certa forma, esse excesso de amor também é o motivo do ódio de muitos cônjuges por suas sogras.
O caso do Coritiba é diferente. Também há a inveja, mas ela surge pelo motivo de o Coritiba representar uma casta. O clube vencedor, rico e ligado aos poderosos acabou atraindo a ira dos menos afortunados. Mesmo que estes menos afortunados tenham hoje mais fortuna que o Coritiba.
E, no caso corintiano, ultimamente há os dois motivos. Os outros torcedores invejam, ao mesmo tempo, sua grande torcida e seu enriquecimento. O Corinthians com a MSI une os "defeitos" de ser popular e rico, nobre e plebeu. Para piorar a situação houve ainda o Brasileiro de 2005, quando o STJD tomou decisões que beneficiaram o clube.
Ou seja, o Corinthians hoje é a grande sogra do futebol brasileiro. Mas os corintianos devem é ficar alegres com isso.

Intentona mossoroense
Os pequenos clubes pareciam ter se insurgido contra os grandes. O Ipatinga desafiava o Cruzeiro, o Madureira provocava o Botafogo, o Adap media forças contra o Paraná. Mas o primeiro já tombou, e os outros estão a caminho. Porém, em alguns lugares, os revoltosos vêm tendo sucesso. Na Bahia, o Colo Colo, de Ilhéus, venceu o primeiro turno. Em Alagoas, o Coruripe ponteou o campeonato, pondo um fim ao domínio das siglas ASA e CSA. Mas a grande revolução foi acima. Assim como a Intentona Comunista deu mais certo no RN, os insurgentes potiguares se saíram bem, e a final será Baraúnas x Potiguar, ambos de Mossoró, e não entre os tradicionais times de Natal. Como dizia a velha música: "Avanti popolo, a la riscosa! La Stella Rosa triumphera!"

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Extra-extragrande
Próximo Texto: Futebol: Derrota retorna ao Morumbi após 19 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.