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Cannavaro quer ser Maradona
Zagueiro da Itália, que foi gandula para ver argentino jogar no Napoli, pode erguer taça como o ídolo
Capitão da Azzurra também se espelha em Ferrara para comandar defesa que só sofreu um gol e ser líder em desarmes na sua posição
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A DUISBURGO
Fabio Cannavaro não se conformava em ficar nas arquibancadas do estádio San Paolo. Para ver o ídolo de perto, tentou
ser gandula. Conseguiu.
Dentro do campo do Napoli,
clube mais popular da região
onde nasceu, acompanhou momentos geniais de Diego Armando Maradona, atleta que
encantou os locais entre 1984 e
1991. Sonhava jogar como ele.
Hoje, aos 32 anos, sabe que
não conseguiu copiar o estilo
do argentino. Não fez fama por
dribles nem por gols marcados.
Nada, porém, que o deixe
frustrado. Cannavaro seguiu
outro caminho. Virou zagueiro.
Mesmo assim, terá a chance
de erguer a taça da Copa no domingo com status de estrela,
exatamente como fez seu ídolo
Maradona na edição de 1986.
"Motivação não vai faltar.
Celebramos muito a vitória sobre a Alemanha, porque ganhamos merecidamente, mas não
estamos satisfeitos. Resta ainda uma partida", declara.
Será um momento especial.
Em Berlim, o capitão Cannavaro vai realizar seu centésimo jogo pela Azzurra. Só o lateral-esquerdo Maldini (126) e o goleiro Zoff (112) registraram mais
atuações pelo elenco nacional.
A efeméride, aliada a suas
performances no Mundial, produziram cena incomum em
Duisburgo, cidade onde está
concentrado o time. Sem ser
provocado, Marcello Lippi interrompeu a entrevista que
concedia para enaltecer virtudes do comandado.
"Eu queria prestar uma homenagem ao Cannavaro por
tudo o que ele fez e está fazendo
pela seleção. Nós temos a oportunidade de ver em ação o melhor zagueiro do mundo", disse.
Pode soar exagerado, mas
seu desempenho nos seis jogos
da competição é realmente impressionante. Ele executou
24,3 desarmes por duelo, a melhor média para atletas da sua
posição. Mais: a Itália, até o momento, só levou um gol (e ainda
foi contra), no embate com os
EUA, durante a primeira fase.
O curioso é que Cannavaro
não tem o biótipo ideal para a
posição. Ele mede 1,75 m, o que
o faz baixo para um zagueiro de
elite. Mesmo assim, ganhou
disputas pelo alto no Mundial
de jogadores como Mark Viduka, australiano de 1,88 m, e Michael Ballack, 1,89 m, capitão
da anfitriã Alemanha.
"Ele compensa a baixa estatura com um poder incrível de
antecipação. Parece adivinhar
o que vai acontecer", afirma o
também zagueiro Alessandro
Nesta, seu colega de seleção.
Cannavaro diz que só atua assim porque teve um bom professor. Apesar de gostar do futebol de Maradona, buscou em
Ciro Ferrara, zagueiro vencedor de sete títulos italianos, os
macetes da profissão.
"Aprendi com Ciro que um
defensor também pode ser admirado pelo que faz no jogo.
Não somos apenas coadjuvantes", escreve em seu site oficial.
É um discurso muito parecido com o que faz agora na seleção. Ele diz que a Itália só consegue anotar gols -soma 11 em
seis jogos, ataque mais positivo
ao lado da Alemanha- porque
confia na retaguarda.
"O time sabe que temos uma
ótima capacidade de compactação. Fica difícil para os adversários furarem nossa barreira."
Há também uma forte motivação extracampo. Cannavaro
defende a Juventus, equipe envolvida no esquema de manipulação de resultados investigado na Itália. Seu clube, caso
seja punido, poderá desabar para a terceira divisão. "Tudo isso
foi positivo. Acumulamos raiva
e liberamos tudo em campo."
O rancor armazenado, entretanto, não é apenas recente. Há
algo mais remoto, oriundo das
participações da Itália nos
Mundiais de 1998 e 2002.
Ele esteve em ambas, sempre
deixando os torneios antes da
decisão. Agora, terá a chance da
redenção. "É horrível voltar
frustrado de uma Copa. Vou fazer de tudo para ganhar."
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