São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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Cannavaro quer ser Maradona

Zagueiro da Itália, que foi gandula para ver argentino jogar no Napoli, pode erguer taça como o ídolo

Capitão da Azzurra também se espelha em Ferrara para comandar defesa que só sofreu um gol e ser líder em desarmes na sua posição


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A DUISBURGO

Fabio Cannavaro não se conformava em ficar nas arquibancadas do estádio San Paolo. Para ver o ídolo de perto, tentou ser gandula. Conseguiu.
Dentro do campo do Napoli, clube mais popular da região onde nasceu, acompanhou momentos geniais de Diego Armando Maradona, atleta que encantou os locais entre 1984 e 1991. Sonhava jogar como ele.
Hoje, aos 32 anos, sabe que não conseguiu copiar o estilo do argentino. Não fez fama por dribles nem por gols marcados.
Nada, porém, que o deixe frustrado. Cannavaro seguiu outro caminho. Virou zagueiro.
Mesmo assim, terá a chance de erguer a taça da Copa no domingo com status de estrela, exatamente como fez seu ídolo Maradona na edição de 1986.
"Motivação não vai faltar. Celebramos muito a vitória sobre a Alemanha, porque ganhamos merecidamente, mas não estamos satisfeitos. Resta ainda uma partida", declara.
Será um momento especial. Em Berlim, o capitão Cannavaro vai realizar seu centésimo jogo pela Azzurra. Só o lateral-esquerdo Maldini (126) e o goleiro Zoff (112) registraram mais atuações pelo elenco nacional.
A efeméride, aliada a suas performances no Mundial, produziram cena incomum em Duisburgo, cidade onde está concentrado o time. Sem ser provocado, Marcello Lippi interrompeu a entrevista que concedia para enaltecer virtudes do comandado.
"Eu queria prestar uma homenagem ao Cannavaro por tudo o que ele fez e está fazendo pela seleção. Nós temos a oportunidade de ver em ação o melhor zagueiro do mundo", disse.
Pode soar exagerado, mas seu desempenho nos seis jogos da competição é realmente impressionante. Ele executou 24,3 desarmes por duelo, a melhor média para atletas da sua posição. Mais: a Itália, até o momento, só levou um gol (e ainda foi contra), no embate com os EUA, durante a primeira fase.
O curioso é que Cannavaro não tem o biótipo ideal para a posição. Ele mede 1,75 m, o que o faz baixo para um zagueiro de elite. Mesmo assim, ganhou disputas pelo alto no Mundial de jogadores como Mark Viduka, australiano de 1,88 m, e Michael Ballack, 1,89 m, capitão da anfitriã Alemanha.
"Ele compensa a baixa estatura com um poder incrível de antecipação. Parece adivinhar o que vai acontecer", afirma o também zagueiro Alessandro Nesta, seu colega de seleção.
Cannavaro diz que só atua assim porque teve um bom professor. Apesar de gostar do futebol de Maradona, buscou em Ciro Ferrara, zagueiro vencedor de sete títulos italianos, os macetes da profissão.
"Aprendi com Ciro que um defensor também pode ser admirado pelo que faz no jogo. Não somos apenas coadjuvantes", escreve em seu site oficial.
É um discurso muito parecido com o que faz agora na seleção. Ele diz que a Itália só consegue anotar gols -soma 11 em seis jogos, ataque mais positivo ao lado da Alemanha- porque confia na retaguarda.
"O time sabe que temos uma ótima capacidade de compactação. Fica difícil para os adversários furarem nossa barreira."
Há também uma forte motivação extracampo. Cannavaro defende a Juventus, equipe envolvida no esquema de manipulação de resultados investigado na Itália. Seu clube, caso seja punido, poderá desabar para a terceira divisão. "Tudo isso foi positivo. Acumulamos raiva e liberamos tudo em campo."
O rancor armazenado, entretanto, não é apenas recente. Há algo mais remoto, oriundo das participações da Itália nos Mundiais de 1998 e 2002.
Ele esteve em ambas, sempre deixando os torneios antes da decisão. Agora, terá a chance da redenção. "É horrível voltar frustrado de uma Copa. Vou fazer de tudo para ganhar."


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