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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Cartola deixa o cargo que ocupou por 15 anos, dá lugar a Marco Polo del Nero e agora pretende se tornar consultor

Farah renuncia à FPF, mas não ao esporte

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Após 15 anos nas mãos de Eduardo José Farah, a Federação Paulista tem novo presidente.
Enfraquecido, o cartola de 69 anos, que já foi um dos mais poderosos do esporte nacional, renunciou ao cargo que ocupava desde 1988. Foi substituído ontem mesmo pelo advogado Marco Polo del Nero, 62, ex-presidente do Tribunal de Justiça Desportiva-SP e conselheiro do Palmeiras.
Engana-se, no entanto, quem imagina que a renúncia encerra o ciclo Farah no futebol, como o próprio cartola definiu em carta de despedida a presidentes de clubes e à imprensa.
A Folha apurou que, depois de um período de descanso, o ex-presidente da FPF planeja abrir uma empresa de consultoria no futebol. Sua ambição é dar palestras sobre gerenciamento do esporte e ter sua experiência aproveitada por clubes e outras federações. O cartola também estuda dar uma série de entrevistas para alvejar seus inimigos e reclamar do fim do passe.
Apesar de oficialmente dizer que quer somente se dedicar à família, o dirigente também terá que se preocupar em se defender das acusações de irregularidades em sua longa gestão.
Baseado nas conclusões da CPI do Futebol, no Senado, o Ministério Público paulista ainda investiga a era Farah na FPF, que também foi alvo de inquérito na Polícia Civil. Mesmo sendo ex-presidente da entidade, o dirigente continuará a ter que responder por seus atos, "condenados" pelos congressistas.
A saída de Farah foi discreta e em nada lembrava as pomposas reuniões de dirigentes nas eleições que o aclamaram para quatro reeleições seguidas.
Ontem, o cartola nem sequer foi ao suntuoso prédio que leva seu nome para se despedir dos subordinados. Sua renúncia foi feita por carta e lida, com voz embargada, por seu braço-direito na entidade, o vice Reynaldo Carneiro Bastos.
Segundo relatos obtidos pela Folha, Bastos estava emocionado e disse que nunca imaginara ter que ler um documento como aquele. Imediatamente, foi dada posse a Del Nero, que só ganhou o cargo por ser 13 anos mais velho que seu colega de vice-presidência, conforme previa o estatuto.
Em seu discurso, o advogado disse que Farah nunca deixaria de fazer parte da história do futebol. "Estamos herdando uma entidade vitoriosa e bem financeiramente e vamos mantê-la assim", disse, mais tarde, aos jornalistas.
Na reunião, que durou pouco mais de uma hora, a diretoria decidiu dar a Farah o título figurativo de presidente de honra da FPF, que até ontem era ocupado por Rubens Approbato Machado, presidente da OAB.
Apesar de deixar a federação, Farah continuará com alguns tentáculos na entidade. Além de ter na diretoria homens de confiança como Bastos, José Maria Marin e Jorge Abicalan, Jorge Farah Neto, um de seus filhos, permanecerá na área de marketing, uma das mais importantes da FPF.
Ao contrário das outras quatro vezes, Farah não voltou atrás em sua ameaça de renunciar. Segundo pessoas próximas, o cartola esperava pressão para ficar.
Como seus antigos aliados Alberto Dualib (presidente do Corinthians), Mustafá Contursi (do Palmeiras) e Marcelo Teixeira (do Santos) não se manifestaram, Farah decidiu sair do centro do poder do futebol. Pelo menos por enquanto.


Colaborou Eduardo Arruda, da Reportagem Local

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