São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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país do futebol?

Puro sangue

Indaiatuba reúne endinheirados e peões em mais de 40 campos de polo a cavalo, esporte ainda pouco popular no país e que sonha atingir o nível dos argentinos

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A INDAIATUBA

O cenário é bucólico: um imenso campo verde, pássaros, mansões, crianças brincando na grama, adultos papeando sob a sombra das árvores.
Atletas em campo, e a calmaria some. Em cima de cavalos, eles se esbarram, correm, disputa acirrada, viril, que espanta um olhar desacostumado.
Antes distante e pouco empolgada, a torcida se agita. Entre goles de cerveja e suco de limão com iogurte, gritam gol como se assistissem a um jogo de futebol. Muitos ainda ostentam calças sujas da montaria.
A pacata Indaiatuba, a 102 quilômetros de São Paulo, é o principal refúgio de um esporte ainda pouco popular no país, mas sucesso em um seleto grupo de praticantes e aficionados.
"Campo de polo a cavalo aqui brota como água", diz o secretário de governo da prefeitura, Odair Gonçalves de Oliveira.
Não é exagero. A cidade tem 3.000 cocheiras. Não há dados oficiais sobre o número de cavalos. Relatórios citam números de 2.000 a 15 mil. A região tem cerca de 40 gramados, um campo de polo para cada 5.000 habitantes. Quase o mesmo número de toda a Argentina.
Comparação que é motivo de orgulho. O polo do país vizinho é o paradigma dos brasileiros. Os argentinos conseguem reunir 20 mil pessoas em um estádio com transmissão pela TV em competições patrocinadas por mais de 20 empresas.
A admiração pelos argentinos estava em comentários de torcedores e em camisas que transitavam tranquilas entre uma cerveja e outra na final do Brasileiro, acompanhada pela Folha no clube Helvétia. Imagem impensável em um jogo do mais popular esporte do Brasil.
A decisão reuniu cerca de 400 pessoas, de bebês a idosos, que se dividiam entre o jogo, o papo e os quitutes servidos no lounge do patrocinador, com dois carrões em exposição. Em torneios mais badalados, o número de visitantes chega a mil.
Cenário elitista que também inclui quem não faz parte desse mundo. Sentados sob a sombra das árvores, refrigerantes nas mãos, peões e funcionários fazem coro na torcida, com o mesmo entusiasmo do patrões.
"Antes, havia até mais integração, mas alguns começaram a abusar da bebida. Não souberam se comportar", relembra Maria Edileuza Feitoza, 59.
Ela vive de fazer bicos pelo condomínio. O marido trabalha com cavalos de polo.
"No começo, eu achava um esporte besta, até porque quem sofre é o cavalo, mas depois me apaixonei. De esporte, eu gosto mesmo só de polo e do meu Palmeiras", afirma Maria.
Como ela, muitos escolheram torcer pelo time da Invernada. Solidariedade com os mais fracos. Do outro lado, no São José, estava Rodrigo Andrade, melhor jogador do país.
Os atletas de polo recebem pontuação que varia de - 2 a 10 em um ranking que é usado para manter o equilíbrio dos times. Andrade é o único brasileiro com pontuação máxima.
São suas as jogadas que levantam a pequena arquibancada, onde mulheres se esforçam para se equilibrar nos saltos.
Crianças, com pequenos tacos na mão, agitam-se, gritam e levam bronca dos pais por repetir palavrões proferidos pelo ídolo. "Imagina se estivessem em Palermo, seria muito pior", diz Eduardo Junqueira, 11, referindo-se ao principal evento argentino de polo a cavalo.
No Brasileiro, Andrade levou seu time ao título: 9 a 8.
O esporte é herança familiar, de pai para filho. Mas os praticantes buscam cada vez mais levá-lo para além de sobrenomes e revistas de celebridades. Querem torná-lo mais popular.
"Ainda se fala pouco do esporte e mais do lado social. É um esporte de elite, mas que está evoluindo no mundo todo e qualquer um pode apreciar, como a F-1", diz Pedro Bordon Neto, presidente do Helvétia.
Os preços, porém, afastam qualquer possibilidade de massificação. Jogar polo é caro.
Um atleta monta seis cavalos por jogo para evitar o desgaste. "Não é real a ideia de que cavalo de polo é descartável. Bem cuidado, vai longe", diz Thyago Escodro Dércoli, do Hospital Veterinário Indaiatuba.
Uma montaria, geralmente das raças puro sangue inglês ou polo argentino, pode custar entre R$ 10 mil e R$ 100 mil. Por mês, pode consumir até R$ 1.200 em rações e cuidados.
As cifras altas, porém, não desanimam a cidade. Indaiatuba pôs os campos de polo em seus roteiros turísticos e sonha virar referência internacional.


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