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país do futebol?
Puro sangue
Indaiatuba reúne endinheirados e peões em mais de 40 campos de polo a cavalo, esporte ainda pouco popular no país e que sonha atingir o nível dos argentinos
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A INDAIATUBA
O cenário é bucólico: um
imenso campo verde, pássaros,
mansões, crianças brincando
na grama, adultos papeando
sob a sombra das árvores.
Atletas em campo, e a calmaria some. Em cima de cavalos,
eles se esbarram, correm, disputa acirrada, viril, que espanta
um olhar desacostumado.
Antes distante e pouco empolgada, a torcida se agita. Entre goles de cerveja e suco de limão com iogurte, gritam gol como se assistissem a um jogo de
futebol. Muitos ainda ostentam
calças sujas da montaria.
A pacata Indaiatuba, a 102
quilômetros de São Paulo, é o
principal refúgio de um esporte
ainda pouco popular no país,
mas sucesso em um seleto grupo de praticantes e aficionados.
"Campo de polo a cavalo aqui
brota como água", diz o secretário de governo da prefeitura,
Odair Gonçalves de Oliveira.
Não é exagero. A cidade tem
3.000 cocheiras. Não há dados
oficiais sobre o número de cavalos. Relatórios citam números de 2.000 a 15 mil. A região
tem cerca de 40 gramados, um
campo de polo para cada 5.000
habitantes. Quase o mesmo número de toda a Argentina.
Comparação que é motivo de
orgulho. O polo do país vizinho
é o paradigma dos brasileiros.
Os argentinos conseguem reunir 20 mil pessoas em um estádio com transmissão pela TV
em competições patrocinadas
por mais de 20 empresas.
A admiração pelos argentinos estava em comentários de
torcedores e em camisas que
transitavam tranquilas entre
uma cerveja e outra na final do
Brasileiro, acompanhada pela
Folha no clube Helvétia. Imagem impensável em um jogo do
mais popular esporte do Brasil.
A decisão reuniu cerca de
400 pessoas, de bebês a idosos,
que se dividiam entre o jogo, o
papo e os quitutes servidos no
lounge do patrocinador, com
dois carrões em exposição. Em
torneios mais badalados, o número de visitantes chega a mil.
Cenário elitista que também
inclui quem não faz parte desse
mundo. Sentados sob a sombra
das árvores, refrigerantes nas
mãos, peões e funcionários fazem coro na torcida, com o
mesmo entusiasmo do patrões.
"Antes, havia até mais integração, mas alguns começaram
a abusar da bebida. Não souberam se comportar", relembra
Maria Edileuza Feitoza, 59.
Ela vive de fazer bicos pelo
condomínio. O marido trabalha com cavalos de polo.
"No começo, eu achava um
esporte besta, até porque quem
sofre é o cavalo, mas depois me
apaixonei. De esporte, eu gosto
mesmo só de polo e do meu
Palmeiras", afirma Maria.
Como ela, muitos escolheram torcer pelo time da Invernada. Solidariedade com os
mais fracos. Do outro lado, no
São José, estava Rodrigo Andrade, melhor jogador do país.
Os atletas de polo recebem
pontuação que varia de - 2 a 10
em um ranking que é usado para manter o equilíbrio dos times. Andrade é o único brasileiro com pontuação máxima.
São suas as jogadas que levantam a pequena arquibancada, onde mulheres se esforçam
para se equilibrar nos saltos.
Crianças, com pequenos tacos na mão, agitam-se, gritam e
levam bronca dos pais por repetir palavrões proferidos pelo
ídolo. "Imagina se estivessem
em Palermo, seria muito pior",
diz Eduardo Junqueira, 11, referindo-se ao principal evento
argentino de polo a cavalo.
No Brasileiro, Andrade levou
seu time ao título: 9 a 8.
O esporte é herança familiar,
de pai para filho. Mas os praticantes buscam cada vez mais
levá-lo para além de sobrenomes e revistas de celebridades.
Querem torná-lo mais popular.
"Ainda se fala pouco do esporte e mais do lado social. É
um esporte de elite, mas que
está evoluindo no mundo todo
e qualquer um pode apreciar,
como a F-1", diz Pedro Bordon
Neto, presidente do Helvétia.
Os preços, porém, afastam
qualquer possibilidade de massificação. Jogar polo é caro.
Um atleta monta seis cavalos
por jogo para evitar o desgaste.
"Não é real a ideia de que cavalo de polo é descartável. Bem
cuidado, vai longe", diz Thyago
Escodro Dércoli, do Hospital
Veterinário Indaiatuba.
Uma montaria, geralmente
das raças puro sangue inglês ou
polo argentino, pode custar entre R$ 10 mil e R$ 100 mil. Por
mês, pode consumir até R$
1.200 em rações e cuidados.
As cifras altas, porém, não
desanimam a cidade. Indaiatuba pôs os campos de polo em
seus roteiros turísticos e sonha
virar referência internacional.
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