São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Parreira não vai gostar

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Os técnicos das categorias de base dos clubes e das seleções geralmente repetem os conceitos e os esquemas táticos dos treinadores das equipes principais. Isso facilita a adaptação dos jovens ao time de cima e agrada aos técnicos hierarquicamente superiores. São esses que indicam e/ou aprovam os colegas que vão dirigir os times de base.
Por isso, se esperava que o Ricardo Gomes mantivesse o esquema tático da seleção principal. O aluno seguiria o mestre. Mas Ricardo Gomes surpreendeu, mostrou que tem as suas convicções e escalou a seleção do seu jeito, diferentemente do time dirigido pelo Parreira. Ele trocou um volante (Dudu Cearense ou Wendell) por mais um meia-atacante (Daniel Carvalho). Ricardo Gomes fez o que muitos pedem para o Parreira fazer.
Se os jogadores do Santos atuarem como no seu clube, o time pré-olímpico terá um esquema revolucionário, com apenas um volante (Paulo Almeida), Elano, defendendo e atacando pela direita, e Diego, na ligação com três atacantes (Robinho, Dagoberto e Daniel Carvalho). Seria como se Parreira, Leão e Luxemburgo trocassem os volantes Zé Roberto, Renato e Wendell por atacantes.
Na prática, serão quatro atacantes, já que o Diego atua do meio para a frente e não participa da marcação no meio-campo. Será quase o antigo 4-2-4. Parreira e Zagallo não vão gostar. Se der certo, os torcedores e a imprensa vão pedir a mesma formação para a seleção principal.
Há 34 anos, Zagallo assumiu o comando da seleção de 70 e trocou um ponta avançado (Edu) por um armador (Rivellino). Na época, o técnico disse que no 4-2-4 o Brasil não teria chances de ganhar a Copa. Será?
Quando o time perder a bola, Ricardo Gomes quer que os meias e atacantes recuem para marcar. Isso raramente funciona. As funções precisam ser definidas, o que não significa que os jogadores precisam ter posição fixa. A alternância de funções confunde o adversário.
Se eu fosse o técnico, repetiria o desenho tático da Copa Ouro, que deu certo. O time jogaria com dois volantes (Elano atuaria no Pré-Olímpico de volante, e não de meia-direita) Robinho mais recuado pela esquerda (defendendo e atacando) e o Diego próximo dos dois atacantes (Dagoberto e Daniel Carvalho). Essa formação já seria um avanço.
A diferença desse esquema com o da seleção principal seria o Robinho como um terceiro jogador de meio-de-campo, numa função parecida com a de Zé Roberto. E aí que quero vê-lo no time pré-olímpico e, se jogar bem, na seleção principal.
Por causa de sua leveza, Robinho tem mais condições do que Alex, Kaká e Diego para joga nessa posição. Ele pode se tornar tão bom quanto Paulo César Caju, o jogador que fez essa função com mais brilhantismo no futebol brasileiro.
Com dois ou três atacantes, o time pré-olímpico não terá um centroavante fixo. Dagoberto, Daniel Carvalho e Robinho recuam para receber a bola. No início da Copa Ouro, o técnico fez o mesmo, ao escalar Diego, Robinho, Kaká e Ewerthon e não deu certo. O time melhorou com a entrada do centroavante Nilmar no lugar do Ewerthon. Marcel e Nilmar, que jogou mal o Mundial sub-20, estão na reserva.
Não será surpresa se Ricardo Gomes mudar de idéia na última hora, influenciado ou não pelo Parreira e Zagallo, e repetir o esquema da seleção principal com a entrada do volante Wendell no lugar do atacante Daniel Carvalho.
Com qualquer esquema tático, desde que o técnico não coloque o Edu Dracena de atacante e o Robinho de zagueiro, a seleção tem ótimas chances de se classificar e, depois, reforçada de três craques da seleção principal (Dida, Roberto Carlos e Ronaldo), ganhar a medalha de ouro olímpica.

Cruzeiro mais forte
A contratação do Rivaldo foi boa para o jogador, para a seleção e para o Cruzeiro. Rivaldo vai atuar num excelente time, terá chances de recuperar a forma, será acompanhado de perto pelo Parreira e o Cruzeiro vai ficar ainda mais forte.
Rivaldo deverá atuar de segundo atacante, como na seleção. Poderá também jogar mais recuado, de armador pela esquerda, na posição do Wendell. No Palmeiras, quando o time era dirigido pelo Luxemburgo, Rivaldo atuou nesta função. Djalminha era o meia de ligação, como Alex.

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