São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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TÊNIS

Organizadores que pregavam preservação da história e da grama se rendem e aprovam teto retrátil para combater a chuva

TVs derrubam a tradição em Wimbledon

FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

Os interesses comerciais venceram a tradição no mais tradicional torneio de tênis do mundo.
O All England Club, local onde é disputado Wimbledon, anunciou ontem o plano para a instalação do teto retrátil na quadra central.
Após anos rejeitando a idéia, alegando que a grama e a tradição deveriam ser preservadas, os dirigentes do clube sucumbiram à pressão das TVs, que exibem o evento para um público estimado de 1,8 bilhão e sofriam com os atrasos provocados pela chuva.
"A quadra central é a jóia de nossa coroa e estamos tentando torná-la mais preciosa", afirmou o presidente do All England Club, Tim Phillips. "Por muito tempo, a preocupação era como manter as mesmas condições de jogo com a construção de um teto. Acredito que agora achamos a solução."
O dirigente citou a última edição do Aberto dos EUA, que sofreu grande atraso por causa do mau tempo, como um argumento para fazer a cobertura da quadra.
"O plano é manter a história e a tradição da quadra com mais conforto para os torcedores."
Entre os torneios do Grand Slam, somente o Aberto da Austrália conta um local para a disputa de partidas durante a chuva.
Os responsáveis pela obra na Inglaterra, que deve começar em 2006, ficar pronta para a disputa do torneio de 2009 e cujo orçamento não foi divulgado, são os mesmos que trabalham na reconstrução de Wembley.
O teto, que levará dez minutos para abrir ou fechar, será translúcido, o que é apontado como grande trunfo do projeto.
"Isso vai proporcionar melhores condições para o crescimento da grama do que temos hoje", afirmou o arquiteto Rod Sheard.
Em alguns estádios na Europa, a diminuição da ventilação e da iluminação natural provocou estragos na superfícies de grama.
"Umidade, iluminação, temperatura, tudo acaba afetando as quadras", disse Eddie Seaward, o jardineiro-chefe de Wimbledon.
Ele lembra um episódio de 1996, quando as quadras tiveram que ficar cobertas por três dias. Quando a proteção foi retirada, a vegetação estava em condição precária.
Desde então, o All England Club investiu em grandes ventiladores e material para proteger a grama de material translúcido. Único Grand Slam jogado no piso mais rápido do tênis, Wimbledon reserva preocupação com a grama.
Das 19 quadras do clube londrino, a central e a 1 são usadas exclusivamente para o torneio.
Logo após o final da disputa, se necessário, acontece a ressemeadura, e não a colocação de placas com a grama já crescida.
Fora do período da disputa, ao redor das quadras principais são instaladas pequenas cercas elétricas para evitar que raposas entrem e urinem na vegetação.
Em 1994, a organização chegou a fazer um apelo aos tenistas para que evitassem cuspir na quadra.
Antigamente, na semana anterior ao torneio, funcionários do clube esquadrinhavam com uma lupa cada parte da quadra.
Hoje, a seleção de sementes e preparação especial do solo deixaram o piso de Wimbledon com características mais parecidas com as quadras duras, dizem os responsáveis pela manutenção.
Os últimos anos dão razão a eles. Após o domínio de Pete Sampras, especialista no saque-voleio, na década de 90 (sete títulos), em 2002 e 2003 o troféu ficou com atletas que não se baseiam na tática de sacar e tentar bloquear a resposta do rival perto da rede: Lleyton Hewitt e Roger Federer.


Com agências internacionais

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