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Gasto público com o Pan aumenta 684% em 5 anos
Orçado em R$ 409 milhões em 2002, evento já tira R$ 3,2 bi dos cofres oficiais
Maior estouro relativo é o do Estado do Rio, que saltou de R$ 31 milhões para R$ 500 milhões, o que equivale a um aumento de 1.513%
MÁRIO MAGALHÃES
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O custo dos Jogos Pan-Americanos de julho para os cofres
públicos já é 684% maior do
que o previsto em 2002. Em
proporção, o que consumiria
R$ 1 vai exigir quase R$ 8.
Há cinco anos a União, o Estado e o município do Rio de
Janeiro afirmaram por escrito
que, juntos, gastariam R$ 409
milhões (em valores atualizados pela inflação). A conta hoje
alcança R$ 3,2 bilhões.
O maior estouro relativo é do
Estado do Rio: 1.513% (de R$ 31
milhões para R$ 500 milhões).
O desembolso da União se multiplicou quase por 11 (de R$ 138
milhões para R$ 1,5 bilhão,
crescimento de 987%). A fatia
da Prefeitura pulou de R$ 239
milhões para R$ 1,2059 bilhão
(404% a mais).
As cifras originais foram divulgadas em 2002 pelos governos e submetidas formalmente
à Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana).
Constam de uma brochura
bilíngüe (em inglês e espanhol)
de 196 páginas à qual a Folha
teve acesso. O documento é assinado também pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
É em relação a esses números que deve ser feita a comparação entre a (primeira) previsão e o resultado. Vista de hoje,
a planilha orçamentária de
2002 parece peça de ficção.
Os governos e o COB definiram os gastos de segurança em
R$ 10 milhões. Agora, a União
anuncia o salto para R$ 385 milhões. A fatura da tecnologia,
que seria de R$ 27 milhões, bate em R$ 113 milhões.
A despesa com instalações
esportivas públicas seria de R$
251 milhões. Mal pagaria a reforma do complexo esportivo
do Maracanã (R$ 232 milhões
desde 2005, em melhorias voltadas para o Pan). O Estádio
Olímpico João Havelange consumiu R$ 380 milhões.
Se a projeção de custos ruiu,
benefícios prometidos na brochura oficial da candidatura do
Rio não saíram do zero.
É o caso de uma linha do metrô de Botafogo à Barra da Tijuca (16 km) e outra da Barra ao
aeroporto Tom Jobim (38 km).
O orçamento do Pan não incluía o preço dessas obras.
"Tudo isso [o descompasso
entre previsão e resultado] demonstra no mínimo incompetência e, possivelmente, coisa
pior", diz o diretor-executivo
da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.
O secretário municipal de
Obras do Rio, Eider Dantas,
afirmou à Folha em dezembro:
"O político prefere chutar para
baixo, e não para cima".
Garantias
A projeção de R$ 1,5 bilhão
(União), R$ 1,2 bilhão (município) e R$ 500 milhões (Estado)
é oficial, dos governos.
Para atualizar os valores de
2002, expressos em dólar, a Folha fez a conversão para real
pela cotação da época da inscrição da candidatura e a atualização pelo IPC-Brasil, da Fundação Getúlio Vargas.
Adequada no geral, essa fórmula mascara algumas despesas com importações que deveriam ter diminuído -no entanto cresceram- devido ao fortalecimento do real. É o caso de
equipamentos de segurança e
do Velódromo.
A estimativa de custo público
do Pan era de US$ 128,6 milhões (cresceu para US$ 1,65
bilhão), 72% do total. É certo
que a porcentagem ficará acima, não se sabe quanto.
O restante (28%) viria da receita com ingressos, patrocínio, mídia e licenciamento de
produtos.
Outra mudança é que a
União, na origem responsável por um terço dos recursos públicos, virou a grande
contribuinte, com 46,8%.
Os governantes que deram "garantias financeiras" para os Jogos em cartas à Odepa foram os então presidente Fernando
Henrique Cardoso e governador Anthony Garotinho e o ainda hoje
prefeito Cesar Maia.
"Assustador"
A principal justificativa apresentada
para a multiplicação
do orçamento é que o
Pan se transformou
em teste para a candidatura carioca a um evento
maior, a Olimpíada de 2016. A
leitura da brochura de 2002 revela que, na verdade, as construções e reformas já estavam
quase todas previstas.
A novidade é a troca do estádio de atletismo para 10 mil
pessoas a erguer no autódromo
de Jacarepaguá por um -o
João Havelange, conhecido como Engenhão- para 45 mil,
também próprio ao futebol.
Ocorre que mesmo o Engenhão obedece à lógica do descontrole. O "Diário Oficial do
Município" informou em janeiro de 2003 que o estádio custaria R$ 60 milhões (R$ 75 milhões hoje). O custo já está em
R$ 380 milhões. Na sexta-feira,
operários da obra pararam para
protestar contra as condições
de trabalho.
"Se alguém no mundo fizer
um estádio desses por R$ 60
milhões é porque faz milagres",
diz Cesar Maia, que já era o prefeito quando o "DOM" divulgou
tal cifra.
"Nunca se viu superação de
orçamento assim, sem deixar
legado para a cidade", diz o deputado Brizola Neto (PDT-RJ).
Ele é vice-presidente da comissão de Turismo e Desporto da
Câmara.
A presidente, Lídice da Mata
(PSB-BA), fala em "crescimento assustador" dos custos e pede "transparência".
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