São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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Scolari deixa Romário fora e diz que prefere ser ele o bode expiatório

A escolha é minha
(GANHANDO OU PERDENDO)

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil vai à Copa do Mundo sem Romário e com 23 jogadores enquadrados na disciplina linha-dura de Luiz Felipe Scolari. Mas, se não conquistar na Ásia o pentacampeonato, a seleção volta também sem treinador.
Quem decretou a degola de Scolari em caso de fracasso foi o próprio, ao anunciar, ontem à tarde no Rio, a sua "família" no Mundial - o termo foi cunhado pelo técnico para definir seu ideal de grupo de trabalho.
"Ganhando ou perdendo, a escolha seria minha. Prefiro passar por bode expiatório e resolver com a minha cabeça a resolver com a dos outros e ser crucificado da mesma maneira. Não ganhou, está morto igual", afirmou Scolari, ao responder se não temia ser culpado por um eventual insucesso no Mundial por decidir, contra o clamor da opinião pública, não convocar Romário.
O treinador de 53 anos, que vai pela primeira vez comandar uma seleção em uma Copa do Mundo, mudou de idéia em relação às suas pretensões na competição. Se antes dissera que o Brasil chegaria pelo menos às semifinais, ontem anunciou que sua única opção é o título.
"Saio com a obrigação de ganhar. Infelizmente, não temos a cultura do segundo. O segundo sempre vai ser o último. É como me disse ontem o meu menino: o segundo é o primeiro dos últimos", justificou.
Para tentar cumprir a "obrigação", Scolari também desprezou, na última hora, o talento do meia Djalminha, do La Coruña (ESP).
O motivo do boicote ao meia foi o mesmo que tirou Romário: indisciplina. De temperamento considerado inadequado à "família Scolari", Djalminha atacou na semana passada o técnico de sua equipe durante um treino. Saiu da lista para a entrada de Kaká, 20, modelo de "garoto família".
O meia são-paulino não foi propriamente a surpresa da lista. Mais que ele foi Vampeta, o volante do Corinthians preterido das últimas convocações, apesar da boa fase e de ter sido presença constante nas eliminatórias sul-americanas para o Mundial.
Para chegar aos 23 nomes divulgados ontem, Scolari chamou, em menos de um ano à frente da seleção, 57 atletas, mais de 20 a mais do que previu ao assumir o cargo, em junho do ano passado.
Desde a última Copa, período em que a seleção foi comandada por três outros técnicos (Luxemburgo, Candinho e Leão) e amargou vexames inéditos na história, quase 110 jogadores vestiram a camisa verde-amarela.
Agora, o treinador tem mais 15 dias para fazer alguma mudança no grupo, já que a data final estipulada pela Fifa para a inscrição na Copa é 21 de maio, dez dias antes da abertura do torneio.
A antecipação foi uma forma de preparar o time no curto tempo até a estréia no Mundial, em 3 de junho, contra a Turquia.
A seleção brasileira viaja no próximo domingo para Barcelona, onde passa uma semana e faz um amistoso, mesma programação da Malásia, última escala antes de Ulsan (Coréia do Sul), local da concentração na primeira fase da Copa do Mundo.
Embora possa mexer na lista nas duas próximas semanas, Scolari não deve fazê-lo, a menos que haja uma contusão.
E, como avisou ontem, não adianta pressioná-lo, como vêm fazendo milhares de brasileiros há alguns meses.
"É uma opção minha. Sou o técnico da seleção e quero ter a oportunidade de dizer: escolhi esses jogadores por entender que eles são os melhores para esse momento. Agora, na base da força e da pressão, não. Ninguém vai fazer eu mudar de idéia."


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