São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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Fantasmas dão o tom na hora da convocação

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Dois espectros rondaram ontem a convocação da seleção: o do atacante Romário, fora da lista de 23 jogadores, e o do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que estava a mais de 400 km de distância do local onde Scolari anunciou os seus eleitos.
Para pedir por Romário, mais de 60 manifestantes, a maioria de evangélicos da Assembléia de Deus, se concentraram em frente ao hotel onde houve a convocação -o mesmo dos anúncios para as Copas de 1994 e 98.
Sobre a ausência de Teixeira, Scolari calou. O assessor Rodrigo Paiva disse que ele seria representado pelo vice, José Bastos.
Na convocação de 1998, na condição de presidente da confederação detentora do título quatro anos antes, Teixeira ficou no lugar central da mesa. De lá para cá, duas CPIs no Congresso devassaram os negócios pessoais de Teixeira e da CBF. Diversas irregularidades -negadas pelo dirigente- foram apontadas.
No ano passado, Scolari reclamou a amigos da distância que o presidente mantinha da seleção. Em fevereiro deste ano, Teixeira disse que, passadas as CPIs, viveria mais o dia-a-dia da equipe. No mesmo mês, teve um almoço com Romário, cuja convocação defendia.
Seu tio e braço-direito, Marco Antônio Teixeira, secretário-geral da CBF, estava no hotel da convocação. Participou de reuniões, mas assistiu ao anúncio da lista de um quarto, pela TV.
A convocação estava prevista para ocorrer de manhã. Scolari afirma ter pedido para passar para a tarde, a fim de saber da condição física de atletas no exterior.
Às 14h, começou uma reunião em São Paulo do Ministério do Esporte da qual Teixeira participou. Ao chegar, disse ontem estar licenciado da CBF. Mas que estava lá representando a própria CBF.
Outra mudança de 1998 para 2002: o administrador Américo Faria, homem de fidelidade absoluta a Teixeira, não disse sequer uma palavra na entrevista da convocação. Foi o único dos quatro da mesa (Scolari, Faria, o auxiliar Flávio Teixeira e o coordenador Antônio Lopes) a não sair do silêncio.
Scolari disse que não se sentiu abandonado pela CBF quando foi cercado por dezenas de manifestantes pró-Romário na sexta. Mas sublinhou que só duas pessoas o ajudaram: Volpi, que trabalha na reserva de viagens do time, e o roupeiro Barreto, chamado de ""mordomo" pelo técnico. Scolari, ao contrário de Ricardo Teixeira, não anda com seguranças.
Como chegou ao hotel da convocação anteontem à noite, o técnico não passou ontem pelos manifestantes que pediam Romário. Os evangélicos disseram que vão orar pela seleção mesmo sem o vascaíno. O compositor José Carlos Ferreira vendia por R$ 5 o CD com uma canção a favor do preterido. O refrão: "Hoje o futebol é transação/ O craque já não serve à seleção/ Ronaldo e Romário é [sic] solução/ Por isso, cala a boca, Felipão".


Com a Reportagem Local



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