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XICO SÁ
A carta dos sonhos
Me candidato a ser o escriba de uma possível carta de renúncia do mandatário poderoso da CBF
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, ainda intrigado com o estilo genial de escrita do "ghost-writer"
do Dunga na sua missiva ao ex-patrão, eu me candidato a escriba fantasma de uma possível carta de
renúncia do mandatário da CBF. É uma peça fictícia, infelizmente, mas tentarei uma linguagem que
esteja à altura, quiçá supere, a nossa herança beletrista de parnasos e Rolando Leros tão bem usada,
sem manchas de ironia, na despedida do ex-técnico. Sem galhofas, vamos ao que interessa à nação:
"Brava gente brasileira, embora entenda que
um mandato de só 21 anos seja uma bagatela diante de uma merecida e justa vitaliciedade na corte
máxima do nosso ludopédio pentacampeão do
mundo, venho por meio desta comunicar, em caráter irrevogável, a minha mais espontânea renúncia
ao cargo. Cônscio dos meus deveres e com todos os
desideratos convertidos no reluzente ouro das conquistas, adoto a mais nobre das medidas não pelo
clamor bipolar da malta e tampouco pela campanha de meia dúzia de abutres da imprensa. Trata-
-se de uma decisão lastreada em esmerada consciência e em algum pendor franciscano, óbvio.
Afinal, indago: quem, na história deste país, largou a maminha autárquica, pública ou privada, com tamanha altivez?
Não se larga nem o osso dos estafetas de terceiro escalão,
quanto mais o comando de uma
entidade que gere, de forma
transparente e longe das ações
ardilosas, uma empreitada honesta de bilhões!
Não deitarei a pena a contar vantagens e lembrar de tantas glórias nesse curto período à frente
dos meus confederados. Não o farei, embora guarde respeito, estima e consideração pela atitude do
cidadão Carlos Caetano Bledorn Verri, o nosso
Dunga, que não se furtou, em missiva a mim dirigida, em se vangloriar da herança deixada, inclusive
com êxito dos nossos patrocinadores, na sua gestão canarinha.
Deixo claro também que jamais, em momento
algum, faltei com elegância ou pisoteei os manuais
de etiqueta no relacionamento com o supracitado
súdito. Não o demiti por telefone. A sua garantia
era mesmo, reza o nosso contrato, só até a Copa.
Despeço-me aqui no aguardo de missão mais
nobre ainda, o feudo internacional do futebol association. Atenciosamente, o ex-todo-poderoso mandatário da CBF".
xico.folha@grupofolha.com.br
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