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FUTEBOL
Melhor que medalha
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Valdirene Silva, mineira,
19, jogava futebol -era zagueira. Ganhou a medalha de
bronze no Sul-Americano-02,
mas em seu novo esporte: levantamento de peso. Welison Rosa
era lateral do Atlético de Viçosa e
agora é companheiro de Valdirene na modalidade. Ivi Monteiro
começou a nadar por causa de
uma bronquite e hoje defende o
Brasil nos 4 x 100 m medley.
Amanda Costa trocou o basquete
pelo remo; Euvaldo Ramos surfava antes de aderir à canoagem.
É fascinante folhear o manual
do Comitê Olímpico Brasileiro
com o perfil de cada esportista
que representa o país em Santo
Domingo. Um é de Orleans, SC, e
trabalhava em uma fábrica de
montagem de móveis (José Bagio,
marcha atlética de 20 km). Outro
é do Recife, estuda fisioterapia e
sonha saltar de pára-quedas (Jessé de Lima, salto em altura). Ana
Paula Rodrigues, de Curitiba, é
prima de acrobatas que trabalhavam no circo do avô e serviram de
inspiração para ser ginasta.
Durante o Pan, esses brasileiros
tão diferentes entre si sentem um
pouco a dor e a delícia de vestir
uma camisa de seleção. Do orgulho ao desprezo, a distância é minúscula às vezes, de 0,05 ponto, 1
centésimo de segundo ou 0,5 centímetro. Se o sujeito trancou a faculdade, perdeu o emprego ou está suportando dores terríveis para
estar lá, pouco sabemos. Às vezes
reagimos a uma medalha perdida como se a nossa decepção pudesse ser maior que a do próprio
competidor. Nessas ocasiões, somos tão implacáveis com os amadores (seja qual for a medida do
amadorismo) quanto com os bem
remunerados jogadores de futebol. Mas lidar com as expectativas da torcida faz parte das obrigações do atleta, tanto quanto se
alongar antes do jogo.
Com bons ou maus resultados,
a mera exposição de todas essas
modalidades desperta o interesse
de muitos outros pequenos esportistas. E isso nos leva ao discurso
que chega a ser enfadonho de tão
repetido: imagine que lindo seria
oferecer boas condições para a
prática de esporte para milhões
de crianças e adolescentes!
Precisaríamos de boas instalações, equipamentos, profissionais.
Se investíssemos seriamente, teríamos ganhos fantásticos em termos de educação, lazer e sociabilidade e geraríamos milhares de
empregos diretos e indiretos (mas,
quando se fala em gerar emprego,
parece que só se pensa em indústria automobilística...).
Como em outras áreas, há falta
de recursos, mas também uma
péssima distribuição dos que existem. É um exemplo simplista, eu
sei, mas uma diária de viagem à
Europa de um funcionário do ministério equivale a um mês de bolsa para um atleta. A viagem é
útil, sem dúvida, mas há que se
rever alguns valores.
Para discutir isso tudo, acontecerá em setembro no Rio o Congresso Brasileiro de Esporte e Cidadania (www.congrex.com.br/esportecidadania), com a intenção de começar um trabalho que
tenha desdobramentos de impacto. O elenco é forte; eu recomendo. Porque medalhas dão prazer,
mas o esporte pode oferecer mais.
Maior o tombo
Ser americano e perdedor, como os garotos que não conseguiram classificar os EUA para
a final do basquete masculino,
deve ser dificílimo. Muito mais
triste do que ser brasileiro e
perder, imagino, pelo tamanho
da pressão para serem sempre
superiores.
"Mudanças"
Segundo o "Lance", Marco Polo del Nero, novo presidente (?)
da FPF, planeja nova fórmula
para o Paulista, com 21 clubes
divididos em dois grupos, um
com dez times, outro com 11.
Ganha um cubo mágico quem
conseguir imaginar uma tabela
minimamente racional. Segundo a Folha, Farah quer dar palestras sobre gerenciamento de
esporte. Como dizia o personagem do Jô, me tira os tubos.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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