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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Melhor que medalha

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Valdirene Silva, mineira, 19, jogava futebol -era zagueira. Ganhou a medalha de bronze no Sul-Americano-02, mas em seu novo esporte: levantamento de peso. Welison Rosa era lateral do Atlético de Viçosa e agora é companheiro de Valdirene na modalidade. Ivi Monteiro começou a nadar por causa de uma bronquite e hoje defende o Brasil nos 4 x 100 m medley. Amanda Costa trocou o basquete pelo remo; Euvaldo Ramos surfava antes de aderir à canoagem.
É fascinante folhear o manual do Comitê Olímpico Brasileiro com o perfil de cada esportista que representa o país em Santo Domingo. Um é de Orleans, SC, e trabalhava em uma fábrica de montagem de móveis (José Bagio, marcha atlética de 20 km). Outro é do Recife, estuda fisioterapia e sonha saltar de pára-quedas (Jessé de Lima, salto em altura). Ana Paula Rodrigues, de Curitiba, é prima de acrobatas que trabalhavam no circo do avô e serviram de inspiração para ser ginasta.
Durante o Pan, esses brasileiros tão diferentes entre si sentem um pouco a dor e a delícia de vestir uma camisa de seleção. Do orgulho ao desprezo, a distância é minúscula às vezes, de 0,05 ponto, 1 centésimo de segundo ou 0,5 centímetro. Se o sujeito trancou a faculdade, perdeu o emprego ou está suportando dores terríveis para estar lá, pouco sabemos. Às vezes reagimos a uma medalha perdida como se a nossa decepção pudesse ser maior que a do próprio competidor. Nessas ocasiões, somos tão implacáveis com os amadores (seja qual for a medida do amadorismo) quanto com os bem remunerados jogadores de futebol. Mas lidar com as expectativas da torcida faz parte das obrigações do atleta, tanto quanto se alongar antes do jogo.
Com bons ou maus resultados, a mera exposição de todas essas modalidades desperta o interesse de muitos outros pequenos esportistas. E isso nos leva ao discurso que chega a ser enfadonho de tão repetido: imagine que lindo seria oferecer boas condições para a prática de esporte para milhões de crianças e adolescentes!
Precisaríamos de boas instalações, equipamentos, profissionais. Se investíssemos seriamente, teríamos ganhos fantásticos em termos de educação, lazer e sociabilidade e geraríamos milhares de empregos diretos e indiretos (mas, quando se fala em gerar emprego, parece que só se pensa em indústria automobilística...).
Como em outras áreas, há falta de recursos, mas também uma péssima distribuição dos que existem. É um exemplo simplista, eu sei, mas uma diária de viagem à Europa de um funcionário do ministério equivale a um mês de bolsa para um atleta. A viagem é útil, sem dúvida, mas há que se rever alguns valores.
Para discutir isso tudo, acontecerá em setembro no Rio o Congresso Brasileiro de Esporte e Cidadania (www.congrex.com.br/esportecidadania), com a intenção de começar um trabalho que tenha desdobramentos de impacto. O elenco é forte; eu recomendo. Porque medalhas dão prazer, mas o esporte pode oferecer mais.

Maior o tombo
Ser americano e perdedor, como os garotos que não conseguiram classificar os EUA para a final do basquete masculino, deve ser dificílimo. Muito mais triste do que ser brasileiro e perder, imagino, pelo tamanho da pressão para serem sempre superiores.

"Mudanças"
Segundo o "Lance", Marco Polo del Nero, novo presidente (?) da FPF, planeja nova fórmula para o Paulista, com 21 clubes divididos em dois grupos, um com dez times, outro com 11. Ganha um cubo mágico quem conseguir imaginar uma tabela minimamente racional. Segundo a Folha, Farah quer dar palestras sobre gerenciamento de esporte. Como dizia o personagem do Jô, me tira os tubos.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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