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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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FUTEBOL

11 de Setembro na Alemanha

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu estava em um salão do automóvel em Frankfurt. Depois, fui para Munique. Quando saí do avião, umas 16 horas do nosso horário, 9 horas de Nova York, vi as televisões no aeroporto mostrando o World Trade Center queimando. Achei que era um filme de ficção. Depois, as pessoas me disseram que era verdade. Desde então, é um outro mundo."
Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador da Copa de 2006, é um filho de 11 de setembro. Marcado agora como tantos por ter nascido na data que ficou associada ao terrorismo, mostra só um medo para ""seu" Mundial.
""Você nunca pode fazer nada contra o terrorismo, contra algo como o 11 de Setembro. Não dá para controlar tudo. A área esportiva não tem nada a ver com terrorismo, mas você nunca sabe. Aparece um louco com a idéia de entrar em um estádio de futebol e explodir tudo", disse o maior jogador alemão de todos os tempos em entrevista na terça à Folha.
Presidente do Bayern, o ""Kaizer" não contemporiza a situação. Ao contrário. ""É uma luta diária contra o terrorismo. Lamento muito, mas é o mundo de hoje. Está ficando cada vez mais louco. Não há respeito pela vida. Todo dia tem uma notícia de uma explosão. Para mim, é difícil falar sobre isso em inglês. Há expressões na Alemanha para isso."
De Alemanha ele entende como poucos. ""O terrorismo começou em 1972, em Munique. Antes daquela Olimpíada, mal existia policiamento em Jogos ou Copas. No México, em 1970, havia um policial que ficava sentado de olho fechado. Quatro anos depois, na Alemanha, teve polícia para todo lado por causa do terrorismo."
Beckenbauer ""apenas" não dá garantias de que a próxima Copa estará livre de ações terroristas. No resto, uma beleza. ""Os estádios estarão prontos no máximo até a metade de 2005. O governo vai investir 2,5 bilhões. Conseguimos o controle sobre os ingressos após acordo com a Fifa. O Comitê Organizador tem 27 gerentes de projeto. Tenho uma equipe boa de 50 funcionários que deverá passar a ter talvez uns 300."
Deixando a ameaça de terrorismo de lado, o único homem que ganhou a Copa como jogador, como técnico e como dirigente espera uma atmosfera bem diferente daquela de 74, fria, intimidante.
""A Alemanha era um país dividido. Agora, não há bloco do Leste, Tchecoslováquia, não tem muro. Penso que em 2006 será uma celebração. Esperamos fazer um grande trabalho para mostrar ao mundo uma grande Copa."
O plano de Beckenbauer tem muito de irreal. Algumas de suas afirmações não são verdadeiras. ""Nós não temos qualquer tipo de racismo na Alemanha no momento. Não temos a presença de neonazistas, nem de hooligans. Temos que ter cuidado porque os ingleses e os holandeses gostam de brigar entre eles. Os alemães também gostam se alguém desafiar. Conhecemos o perigo. Nossos policiais, nosso ministro do Interior, grande fã de futebol, tenta resolver todos esses problemas."
O ""Kaizer" fechou os olhos para o neonazismo e o racismo. Está com eles abertos para o terrorismo, mas diz nada poder fazer.

Copa de 1970
""Não é verdade que entregamos o jogo para a Alemanha Oriental. Nosso técnico, Helmut Schön, é do Leste e queria vencer. Mas, depois, vimos que tivemos sorte porque caímos no grupo mais fácil."

Copa de 1982
""Foi uma história diferente [Alemanha 1 x 0 Áustria, que classificou ambos]. Foi triste e afetou nossa reputação. Os jogadores falavam a mesma língua, fizeram uma negociação e foi um desastre."

Copa de 2006
""Convencemos os asiáticos. Charles Dempsey, da Oceania, se absteve de votar. Mas eu tenho uma promessa dele por escrito de que ele votaria em nós [se ele votasse na África do Sul essa ganharia]."


E-mail rbueno@folhasp.com.br


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