São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

A mala e o troféu


São inúmeros os relatos de jogadores sobre dinheiro circulando para lá e para cá, na vitória ou na derrota

O PROCURADOR-GERAL do STJD, Paulo Schmitt, jura que vai ouvir todos os que falaram nas últimas semanas sobre a "mala branca". Os que disseram que o dinheiro será bem-vindo e os que afirmaram já ter recebido no passado. Não será por causa da "mala branca" que o Grêmio, ou o São Paulo, será ou deixará de ser campeão. Paulo Schmitt faz jogo de cena e alguém dirá sobre ele: que mala!
Mas não deixa de ser importante a quantidade de histórias recolhidas sobre os que turbinam o adversário do rival pela vaga na Libertadores ou pelo título. Na semana passada, o comentarista Caio Ribeiro, do Sportv, lembrou uma situação que se passou no Napoli, em 1997: "Jogávamos contra a Fiorentina.
Tabelei com o Beto, ex-Botafogo, e ele fez o gol. Corri para abraçá-lo e, quando olhamos para trás, o time inteiro estava no meio-de-campo, de braços cruzados e nos olhando feio", contou. "Estava claro que tinha algum tipo de arranjo. Beto e eu não sabíamos", diz Caio. Sua impressão é que a "mala branca" correu e o empate estava acertado para permitir que a Fiorentina chegasse à Copa da Uefa. História imprecisa, porque quem lutou por vaga na Uefa naquele ano foi a Lazio, em quem o ex-botafoguense fez um gol que empatava a partida em 2 a 2. Apenas quatro minutos depois, Fuser marcou o gol da estranha vitória da Lazio por 3 a 2. Nesse caso, o resultado não interessava ao Napoli, apenas à Lazio. E o arranjo não foi pelo empate, mas pela derrota. A Fiorentina empatou com o Napoli, mas no meio do segundo turno e sem gol de Beto.
É comum que outros jogadores com passagem pela Itália falem a respeito das malas que correm por lá. As histórias italianas são muito menos inocentes e já houve condenações de gente que recebeu para perder. As malas são mais pesadas.
Caio diz nunca ter vivido coisa parecida no Brasil, mas o são-paulino Hugo afirmou, semana passada, que já recebeu de rivais para fazer sua parte: vencer.
Mês passado, o São Paulo ganhou do Internacional por 3 a 0 e gente da delegação do Inter escutou no vestiário a conversa sobre o dinheiro que chegaria do Palmeiras. A conversa não prova que o dinheiro chegou nem que o Palmeiras chegou a fazer contato. Mostra apenas que os jogadores acreditam, sim, que podem ter a conta corrente recheada.
Às vezes, em jogos improváveis. O Rio Claro, condenado ao rebaixamento no Paulistão, recebeu o Santos, que se aproximava timidamente da zona de classificação para as semifinais. Um dos jogadores do elenco do Rio Claro conta que foram premiados por conseguirem um empate. De onde e por que veio o dinheiro? A informação era a de que um importante funcionário do Palmeiras, já classificado, teria enviado a quantia por conta própria, sem conhecimento do clube, para evitar que o técnico do Santos, Emerson Leão, conseguisse a vaga nas semifinais do Paulista.
No Brasil, até pouco tempo atrás dizia-se que vice e último representavam a mesma coisa. Hoje, soltam-se rojões e "malas brancas" por terminar em quarto lugar. Mas, às 19h deste domingo, em Brasília ou em Porto Alegre, o São Paulo e o Grêmio darão o exemplo do que vale mesmo quando a bola rola: o troféu.

pvc@uol.com.br


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