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TÊNIS
Sir Fernando Meligeni
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Naquele distante ano, no
início de 1993, Fernando
Meligeni ainda era um garoto.
Nem sobra do sujeito seguro e
abusado que hoje atua com desenvoltura pelas quadras mundo.
Aos 21 anos, Meligeni buscava
naquela temporada o seu lugar
ao sol. Disputava basicamente os
torneios de segunda categoria,
aqueles chamados challengers, e
raramente ganhava uma vaga
nas competições mais expressivas.
Se hoje, quase dez anos depois,
Meligeni pode puxar da memória
partidas inesquecíveis que disputou em quadras famosas do mundo, Montecarlo, Roma, Nova
York, Paris, até 1993 a sua lista
não era das mais atraentes: jogos
fora do país mesmo só em lugares
como Cali, Punta del Este, Jerusalém, Porto, Ponte Vedra...
Três vitórias e as oitavas-de-final em Roland Garros-1993 começaram, então, a dar um espaço
maior a Meligeni. Já havia quem
reparasse naquele sujeito alto,
magricelo, narigudo, carismático,
o "Fininho".
Foi naquele ano também que
"Fininho" fez sua estréia na Copa
Davis. E a estréia não poderia ter
sido... pior!
Inexperiente, sem qualquer preparo, Meligeni foi "jogado aos
leões". Longe de casa, contra uma
equipe belga bastante acertadinha, coube ao jovem Fernando
Meligeni a missão ingrata de não
falhar, sob hipótese alguma.
Com Jaime Oncins, Cássio Motta e Luiz Mattar, o Brasil já havia
falhado diante da Itália, na primeira rodada. Contra a Bélgica,
uma nova falha significaria jogar
a segunda divisão. E o Brasil, que
um ano antes, em 92, fez uma
campanha memorável e chegou à
semifinal, tinha poucas chances.
No primeiro dia, Meligeni não
conseguiu a vitória, e o time ficou
a um passo do rebaixamento. A
dupla formada por Mattar e Motta manteve a esperança viva, e lá
foi Fininho para o quarto jogo,
que definiria se o Brasil teria uma
chance com Oncins no jogo de
fundo ou iria à segunda divisão.
Meligeni resistiu como pode, ganhou o segundo set, levou o terceiro ao tie-break, mas não evitou a
derrota. Em um time de feras,
com Mattar, Motta, Oncins, parecia que a culpa era do garoto ali,
aquele tal Fernando Meligeni.
Mas, que fique claro, não era.
Agora, "Fininho" anuncia que
não joga o primeiro confronto da
Davis deste ano. É provável que
não volte mais. Torcedores e fãs
lamentam essa decisão, que vai
deixar de fora o tenista mais raçudo e empolgante da equipe,
mas não ele.
Inteligente, Fernando Meligeni
sabe que esta é a melhor hora para dar espaço a outro jovem, André Sá. Generoso, sabe que, contra
a Suécia, lá, no carpete, em uma
primeira rodada de Copa Davis,
Sá pode jogar à vontade, perder
até, sem levar consigo qualquer
crítica ou trauma.
Esperto, ele já poderia ter dado
espaço a Sá no ano passado,
quando o Brasil encarou o fraco
Canadá. Mas havia uma chance,
remota, de alguma zebra obrigar
Sá a ganhar um eventual quinto
jogo, contra um tenista franco-atirador, diante da fanática torcida brasileira em pleno Rio.
Meligeni quer para Sá aquilo
que não deram a ele: tranquilidade e serenidade para ocupar o espaço de titular da equipe brasileira na Copa Davis; a possibilidade
de perder e não ser criticado, de
perder e não afundar o Brasil à
segunda divisão.
Esse Fernando Meligeni é mesmo um cavalheiro.
Nova tentativa
André Sá abre 2003 com um novo técnico. Após Marcus Vinícius
Barbosa, o Bocão, Sá treina com o uruguaio Enrique Perez, também o treinador de Fernando Meligeni. O mineiro caiu na estréia
em Auckland, um jogo que poderia ter vencido, mas é preciso esperar um tempo para ver se a parceria dá certo. Tomara que dê!
Confronto interessante
Ricardo Acioly, nosso capitão na Davis, viaja neste fim de semana
para acompanhar brasileiros e suecos no Aberto da Austrália. Comenta que a pressão e o favoritismo estão do lado dos suecos. Acha
que lesões podem atrapalhar um pouco a formação da equipe deles, e que isso aumenta a pressão. "Para nós é interessante", diz.
Retorno impressionante
Em grande estilo. Assim foi a volta de Guga ao circuito. A atuação
diante de Martin Verkerk foi ótima. Vem mais por aí, com certeza.
E-mail reandaku@uol.com.br
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