São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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TÊNIS

Sir Fernando Meligeni

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Naquele distante ano, no início de 1993, Fernando Meligeni ainda era um garoto. Nem sobra do sujeito seguro e abusado que hoje atua com desenvoltura pelas quadras mundo.
Aos 21 anos, Meligeni buscava naquela temporada o seu lugar ao sol. Disputava basicamente os torneios de segunda categoria, aqueles chamados challengers, e raramente ganhava uma vaga nas competições mais expressivas.
Se hoje, quase dez anos depois, Meligeni pode puxar da memória partidas inesquecíveis que disputou em quadras famosas do mundo, Montecarlo, Roma, Nova York, Paris, até 1993 a sua lista não era das mais atraentes: jogos fora do país mesmo só em lugares como Cali, Punta del Este, Jerusalém, Porto, Ponte Vedra...
Três vitórias e as oitavas-de-final em Roland Garros-1993 começaram, então, a dar um espaço maior a Meligeni. Já havia quem reparasse naquele sujeito alto, magricelo, narigudo, carismático, o "Fininho".
Foi naquele ano também que "Fininho" fez sua estréia na Copa Davis. E a estréia não poderia ter sido... pior!
Inexperiente, sem qualquer preparo, Meligeni foi "jogado aos leões". Longe de casa, contra uma equipe belga bastante acertadinha, coube ao jovem Fernando Meligeni a missão ingrata de não falhar, sob hipótese alguma.
Com Jaime Oncins, Cássio Motta e Luiz Mattar, o Brasil já havia falhado diante da Itália, na primeira rodada. Contra a Bélgica, uma nova falha significaria jogar a segunda divisão. E o Brasil, que um ano antes, em 92, fez uma campanha memorável e chegou à semifinal, tinha poucas chances.
No primeiro dia, Meligeni não conseguiu a vitória, e o time ficou a um passo do rebaixamento. A dupla formada por Mattar e Motta manteve a esperança viva, e lá foi Fininho para o quarto jogo, que definiria se o Brasil teria uma chance com Oncins no jogo de fundo ou iria à segunda divisão.
Meligeni resistiu como pode, ganhou o segundo set, levou o terceiro ao tie-break, mas não evitou a derrota. Em um time de feras, com Mattar, Motta, Oncins, parecia que a culpa era do garoto ali, aquele tal Fernando Meligeni. Mas, que fique claro, não era.
Agora, "Fininho" anuncia que não joga o primeiro confronto da Davis deste ano. É provável que não volte mais. Torcedores e fãs lamentam essa decisão, que vai deixar de fora o tenista mais raçudo e empolgante da equipe, mas não ele.
Inteligente, Fernando Meligeni sabe que esta é a melhor hora para dar espaço a outro jovem, André Sá. Generoso, sabe que, contra a Suécia, lá, no carpete, em uma primeira rodada de Copa Davis, Sá pode jogar à vontade, perder até, sem levar consigo qualquer crítica ou trauma.
Esperto, ele já poderia ter dado espaço a Sá no ano passado, quando o Brasil encarou o fraco Canadá. Mas havia uma chance, remota, de alguma zebra obrigar Sá a ganhar um eventual quinto jogo, contra um tenista franco-atirador, diante da fanática torcida brasileira em pleno Rio.
Meligeni quer para Sá aquilo que não deram a ele: tranquilidade e serenidade para ocupar o espaço de titular da equipe brasileira na Copa Davis; a possibilidade de perder e não ser criticado, de perder e não afundar o Brasil à segunda divisão.
Esse Fernando Meligeni é mesmo um cavalheiro.

Nova tentativa
André Sá abre 2003 com um novo técnico. Após Marcus Vinícius Barbosa, o Bocão, Sá treina com o uruguaio Enrique Perez, também o treinador de Fernando Meligeni. O mineiro caiu na estréia em Auckland, um jogo que poderia ter vencido, mas é preciso esperar um tempo para ver se a parceria dá certo. Tomara que dê!

Confronto interessante
Ricardo Acioly, nosso capitão na Davis, viaja neste fim de semana para acompanhar brasileiros e suecos no Aberto da Austrália. Comenta que a pressão e o favoritismo estão do lado dos suecos. Acha que lesões podem atrapalhar um pouco a formação da equipe deles, e que isso aumenta a pressão. "Para nós é interessante", diz.

Retorno impressionante
Em grande estilo. Assim foi a volta de Guga ao circuito. A atuação diante de Martin Verkerk foi ótima. Vem mais por aí, com certeza.

E-mail reandaku@uol.com.br


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