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FUTEBOL
Lendo e resmungando
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Ler jornal, para mim, é
sempre um diálogo. Converso
com as matérias, os entrevistados,
os repórteres e com o leitor que estiver ao lado. Faço anotações, recortes, escrevo para o Painel do
Leitor, o colunista ou o ombudsman (que bom que a Folha tem
um). Acho uma bobagem o tempo
gasto na TV com revistas de fofocas, mas adoraria ter um programa para ler e comentar os jornais
-forma e conteúdo, ênfases e
omissões, informações e pontos de
vista. No mínimo para esclarecer
coisas que ainda são misteriosas
para grande parte da população
(como "títulos da dívida pública"
e, vá lá, "direitos federativos").
Conversando com o Esporte de
ontem, resmunguei a respeito de
algumas notícias do futebol, todas ligadas a dinheiro. A primeira apareceu no Painel FC: a Federação Paulista assumiu a dívida
de R$ 2,4 milhões do Corinthians
perante a CBF e vai descontá-los
da cota a que o time tem direito
no Estadual. Uma manobra engenhosa (uma triangulação em
que as três partes ficam quites).
Mas há implicações estranhas.
Não consigo entender como, no
Brasil, temos federações ricas -a
ponto de poderem emprestar milhões de reais- e clubes quebrados. São os clubes que disputam
campeonatos, fazem excursões,
vendem ingressos, camisas e patrocínio; são os torcedores dos clubes os consumidores desse negócio. Como não são eles -os clubes- os ricos, os poderosos?
Conversei com pessoas que respeito que não vêem mal no fato
de a federação socorrer um clube
em dificuldades, mas acho estranho. Se o socorro fosse mais equânime, eu entenderia. Por que um
clube recebe milhões de empréstimo ou ajuda para comprar um
jogador, e outro não? Por que é
grande? Sendo grande ele não deveria ser mais capaz de levantar
recursos sozinho? Quantos pequenos estão com a corda no pescoço?
Se a ajuda existisse na forma de
investimentos na qualidade em
geral, seria diferente. Digamos
que a federação trouxesse um
bom atleta para cada clube de
uma divisão ou investisse em todos os estádios -todos ganhariam. Em vez disso, faz empréstimos vultosos para um ou outro.
Claro que essa ajudinha tem implicações políticas (quem votará
contra um credor tão generoso?).
Outra notícia incômoda vinha
na página seguinte. Até prova em
contrário, o presidente da Federação Paranaense assumiu as despesas da seleção em um hotel em
São José dos Pinhais e não pagou
até hoje. A estadia foi em novembro, para o jogo das eliminatórias
em Curitiba. Lamentável.
A terceira também estava no
Painel: a Topper preparou dois
modelos de camisas do São Paulo
por não saber quem será, afinal, o
patrocinador. Será que "preparou" significa que ela, de fato,
confeccionou uniformes que não
serão usados? Se for isso mesmo,
que desperdício de recursos... Como se gasta dinheiro à toa...
Não pretendia falar de coisas
tão áridas hoje, mas o jornal de
ontem me incomodou demais para eu conseguir ignorar o assunto.
Sobra para os leitores ouvir os
meus resmungos, desculpem.
Medalha, medalha!
Eu me empolgo de verdade
com a perspectiva de uma medalha de ouro para o futebol, e
não é por influência do Zagallo
ou da mídia. Gosto muito de futebol e adoro Olimpíada! Além
disso, a seleção sub-23 costuma
ser bem interessante, com jogadores muito promissores.
Documento
A Globo divulgou pesquisa sobre as maiores torcidas do Brasil, sem grandes surpresas. É
impressionante como os torcedores se importam com essa
história de tamanho e ficam
ofendidos ou orgulhosos com
os resultados.
Bem-vindo
Rivaldo repatriado... Não esperava que isso acontecesse tão
cedo. Essa moda podia pegar.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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