São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Lendo e resmungando

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Ler jornal, para mim, é sempre um diálogo. Converso com as matérias, os entrevistados, os repórteres e com o leitor que estiver ao lado. Faço anotações, recortes, escrevo para o Painel do Leitor, o colunista ou o ombudsman (que bom que a Folha tem um). Acho uma bobagem o tempo gasto na TV com revistas de fofocas, mas adoraria ter um programa para ler e comentar os jornais -forma e conteúdo, ênfases e omissões, informações e pontos de vista. No mínimo para esclarecer coisas que ainda são misteriosas para grande parte da população (como "títulos da dívida pública" e, vá lá, "direitos federativos").
Conversando com o Esporte de ontem, resmunguei a respeito de algumas notícias do futebol, todas ligadas a dinheiro. A primeira apareceu no Painel FC: a Federação Paulista assumiu a dívida de R$ 2,4 milhões do Corinthians perante a CBF e vai descontá-los da cota a que o time tem direito no Estadual. Uma manobra engenhosa (uma triangulação em que as três partes ficam quites). Mas há implicações estranhas.
Não consigo entender como, no Brasil, temos federações ricas -a ponto de poderem emprestar milhões de reais- e clubes quebrados. São os clubes que disputam campeonatos, fazem excursões, vendem ingressos, camisas e patrocínio; são os torcedores dos clubes os consumidores desse negócio. Como não são eles -os clubes- os ricos, os poderosos?
Conversei com pessoas que respeito que não vêem mal no fato de a federação socorrer um clube em dificuldades, mas acho estranho. Se o socorro fosse mais equânime, eu entenderia. Por que um clube recebe milhões de empréstimo ou ajuda para comprar um jogador, e outro não? Por que é grande? Sendo grande ele não deveria ser mais capaz de levantar recursos sozinho? Quantos pequenos estão com a corda no pescoço?
Se a ajuda existisse na forma de investimentos na qualidade em geral, seria diferente. Digamos que a federação trouxesse um bom atleta para cada clube de uma divisão ou investisse em todos os estádios -todos ganhariam. Em vez disso, faz empréstimos vultosos para um ou outro. Claro que essa ajudinha tem implicações políticas (quem votará contra um credor tão generoso?).
Outra notícia incômoda vinha na página seguinte. Até prova em contrário, o presidente da Federação Paranaense assumiu as despesas da seleção em um hotel em São José dos Pinhais e não pagou até hoje. A estadia foi em novembro, para o jogo das eliminatórias em Curitiba. Lamentável.
A terceira também estava no Painel: a Topper preparou dois modelos de camisas do São Paulo por não saber quem será, afinal, o patrocinador. Será que "preparou" significa que ela, de fato, confeccionou uniformes que não serão usados? Se for isso mesmo, que desperdício de recursos... Como se gasta dinheiro à toa...
Não pretendia falar de coisas tão áridas hoje, mas o jornal de ontem me incomodou demais para eu conseguir ignorar o assunto. Sobra para os leitores ouvir os meus resmungos, desculpem.

Medalha, medalha!
Eu me empolgo de verdade com a perspectiva de uma medalha de ouro para o futebol, e não é por influência do Zagallo ou da mídia. Gosto muito de futebol e adoro Olimpíada! Além disso, a seleção sub-23 costuma ser bem interessante, com jogadores muito promissores.

Documento
A Globo divulgou pesquisa sobre as maiores torcidas do Brasil, sem grandes surpresas. É impressionante como os torcedores se importam com essa história de tamanho e ficam ofendidos ou orgulhosos com os resultados.

Bem-vindo
Rivaldo repatriado... Não esperava que isso acontecesse tão cedo. Essa moda podia pegar.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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