São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

A Copa não é tudo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A Copa do Mundo é o grande acontecimento do futebol. Isso não se discute. Porém não se pode analisar virtudes e deficiências de um jogador somente pelas suas atuações num Mundial.
Pelé, Maradona, Cruyff, Beckembauer, Garrincha, Didi, Platini, Zico, Gerson, Rivellino, Nilton Santos, Romário, Zidane, Ronaldo, Roberto Carlos e outros que vi atuar são ou foram fenômenos pelo que fizeram nas suas carreiras, e não somente porque brilharam na Copa e/ou foram campeões do mundo.
Di Stefano não participou de Mundial. Meu pai e muitos outros disseram que ele só não foi melhor do que Pelé. Outros craques indiscutíveis, como Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zé Carlos (do Cruzeiro), Coutinho, Reinaldo (do Atlético-MG), Alex e Dida, não jogaram e/ou tiveram discretas participações em Mundiais.
Muitos jogadores do passado e do presente, como Belletti, Edmilson, Roque Júnior, Lúcio, Júnior, Juninho Paulista, Kleberson, Gilberto Silva, atuaram bem na Copa, foram campeões do mundo, mas não são craques para serem tão valorizados nas convocações e na escalação da seleção atual. Incluiria nesse grupo o Juan, Emerson e Zé Roberto, que não estiveram no Mundial de 2002.
Não acho que todos esses atletas precisam ser substituídos ou barrados do time titular e nem que o Parreira comete graves erros. As mudanças têm de serem feitas aos poucos, sem pressa, por critérios técnicos, e não pela idade. Além disso, poucos que atuaram no Pré-Olímpico têm condições de jogarem no time principal.
Mas discordo das repetidas justificativas do Parreira, de que muitos dos atletas são convocados por serem experientes e campeões do mundo. Eles têm de ser chamados pelo que fizeram nas suas carreiras, nos clubes, na seleção, incluindo o Mundial, e, principalmente, pelo momento atual.
Alguns desses atletas merecem ser convocados. O tão criticado Emerson não jogou a Copa, mas sempre foi destaque nos times em que atuou e continua em forma. Ele nunca foi brilhante na seleção, mas não há opções melhores.
Parreira, apoiado pela maioria da imprensa, sente-se fortalecido porque disse antes do Pré-Olímpico que os jovens estavam ainda imaturos para atuarem na seleção principal. Mesmo se não houvesse jogos pela Libertadores, os atletas de Santos e Cruzeiro que estiveram no Chile não seriam chamados para esse amistoso.
Se alguns desses jovens fossem convocados para a seleção principal (poucos merecem), eles não participariam de um time de garotos, sob o comando de um técnico inexperiente e confuso, e sim ao lado de jogadores consagrados, tarimbados e de um técnico experiente. Seria bem diferente.
Luisão já atuou bem na seleção principal. Foi melhor do que os quatro zagueiros convocados. Se estivesse no Pré-Olímpico, diriam que ele é imaturo. O mesmo ocorreria com Júlio Baptista. Fábio Rochemback, que não tem talento para jogar na seleção principal, foi chamado para o lugar do Emerson porque não há outro.
Parreira e Zagallo, numa atitude corporativista, pouparam Ricardo Gomes e criticaram os atletas, ao dizerem que houve muita brincadeira e pouca seriedade. Todo atleta já participou de um time apático. Não é garra e disciplina que fazem uma equipe ser vibrante, organizada e unida. É o time desorganizado, como o do Pré-Olímpico, que faz os jogadores serem apáticos e jogarem mal.
Após o Pré-Olímpico, faria o raciocínio inverso. Como não existe mais a seleção olímpica e não há etapas para serem queimadas, como falava o Parreira, não há motivos para se adiar a presença de alguns desses jogadores no elenco da seleção principal.
Como o Parreira diz sempre que é necessário experiência para disputar as eliminatórias e esse torneio vai terminar perto do Mundial de 2006, o elenco e o time já estão praticamente definidos para a próxima Copa. Será o mesmo desse amistoso e mais o Rivaldo, Emerson e talvez o Renato.
Parece até que a seleção está muito bem nas eliminatórias. Na anterior, havia motivos para o time jogar mal já que estava em formação e não estavam presentes os dois Ronaldinhos. A seleção atual é quase a mesma da Copa e já está entrosada. Ela tem a obrigação de jogar muito melhor.
O Brasil tem todas as condições para formar uma equipe superior ao time de 2002. Mas, se o Parreira continuar fascinado pela experiência e pelo título de campeão do mundo de alguns atletas, vai ser muito pior do que o anterior.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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