São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Qual jogador a torcida mais odeia?


Há desde o "Falhei na Hora Agá" até o "Desta Vez Vai", mas estou certo: o torcedor é mais severo do que o eleitor


A PERGUNTA acima não tem uma, mas várias respostas. O torcedor odeia muitos tipos de jogadores, e a idéia deste texto é entender a tipologia dos odiados. Antes, explico como cheguei a este resultado: Estou fazendo em meu blog (http://uol.blogdotorero.
com.br) uma Copa dos Pesadelos, competição imaginária entre os piores times de todos os tempos. E estes piores times foram formados através de votos dos leitores do blog. A partir deles pude entender um pouco o coração, e o fígado, do torcedor. Entre os tipos mais odiados há, por exemplo, o "Falsa Promessa". Ele é aquele jogador que parece bom, pensa que é ótimo, mas é só regular. Há outros piores que ele, mas o "Falsa Promessa" gera uma grande expectativa e não corresponde a ela, e isso é um crime mais grave do que ser apenas grosso. Um bom exemplo é Lúcio, ex-lateral-esquerdo do Palmeiras. Ele fez um bom campeonato na Série B, mas, a partir do momento em que disse ser "o quarto melhor lateral-esquerdo do mundo", começou a ser mais cobrado. E aí começou a jogar pior. Lúcio acabou sendo eleito o lateral-esquerdo titular do Palmeiras na Copa dos Pesadelos e superou Denys, aquele que falhou na final contra a Inter de Limeira.
Denys, aliás, corresponde a outro tipo de jogador muito odiado: o "Falhei na Hora Agá". Às vezes um jogador tem uma carreira mediana e estaria condenado ao esquecimento. Mas, então, perde um gol decisivo ou comete uma falha que provoca a vitória adversária. É o que basta para ele ser lembrado até o fim dos tempos.
Por exemplo, todo palmeirense lembra da atrasada de Denys na final do Paulista contra a Inter de Limeira, todo fluminense lembra da falha de Alê na semifinal contra o Santos pelo Brasileiro de 95, e todo gremista lembra da falha do goleiro Eduardo Heuser na final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro. Para os torcedores de outros times, esse erro não tem tanto peso. Para os do próprio clube, é um pecado imperdoável. Pelo desejo do torcedor, os "Falhei na Hora Agá" deveriam queimar eternamente nas chamas do inferno.
Um terceiro tipo de jogador odiado é o "Cronicamente Inviável". Este é aquele que joga mal, mas continua no time por um bom tempo, inexplicavelmente. A torcida protesta, a imprensa alardeia, mas ele continua lá, em campo, "imexível" feito um ministro bem informado. Entre estes estão Reginaldo Araújo (lembrado na votação por santistas, flamenguistas e são-paulinos), a famosa dupla corintiana Baré e Embu ou o lateral-direito flamenguista Maurinho. Um último tipo interessante é o "Desta Vez Vai", que é aquele jogador que passa por vários clubes, sempre com uma aura de craque, mas que nunca deslancha. Jogadores que se encaixam nesta curiosa espécie são Rodrigo Fabri e Fernando Diniz, que mostraram ter potencial mas não o realizaram. O pior é que num ou noutro lance eles revelam certa pinta de craque. Mas ficam na pinta. E isso causa uma grande frustração no torcedor.
Curiosamente, na política também há os tipos "Falsa Promessa", como aqueles que assumem o poder parecendo uma coisa, mas fazem outra, o "Errei na Hora Agá", como os políticos do mensalão, o "Cronicamente Inviável", que sempre é ruim, mas que continua sendo eleito a cada quatro anos, e o "Desta Vez Vai", que vive mudando de partido e nunca faz nada. Mas esses políticos não sofrem a ira das massas. Não são xingados pelas ruas e seus nomes não ecoam pelas arquibancadas acompanhados de adjetivos pouco elogiosos. Pelo jeito, o torcedor é bem mais severo do que o eleitor.

torero@uol.com.br


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