São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2011

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Pesado

Andres Sanchez, presidente do Corinthians, admite que com Mano Menezes no comando a história do time poderia ter sido outra na Libertadores

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC

Após as confusões envolvendo a torcida, o presidente corintiano, Andres Sanchez, diz ser injustiçado, reclama da pressão, e da forma como ela respinga em sua família. Argumenta, na primeira entrevista exclusiva após a eliminação da Libertadores, concedida à Folha, que, com Mano Menezes, a história desta competição poderia ter sido bem diferente.

 


Folha - Se você pudesse voltar atrás, o que faria de diferente para mudar a história do Corinthians na Libertadores? Andres Sanchez -
Não ter saído o Mano [Menezes]. Ele montou o grupo, era o mestre desse projeto, o que infelizmente foi interrompido por uma coisa maior. Mas comandar a seleção é o ápice que um profissional pode alcançar. Jamais me perdoaria se não desse a chance a ele.

Ele é melhor do que o Tite?
Não, não, não. Estou dizendo que o grupo foi ele [Mano] quem montou. Ele sabia das características de cada um, ele que escolheu os jogadores, então ele teria muito mais facilidade em uma situação difícil para achar a solução do que tiveram os outros. O Tite perdeu o jogo do Tolima? Perdeu. Mas se for ver seu índice de aproveitamento, é um dos maiores da história do clube.
Você não acha muito dividir a atenção entre o time e o projeto do estádio de Itaquera?
Há quase um ano não só eu como minha diretoria nos dedicamos mais ao estádio. Não é só pegar o dinheiro e construir. Tem muita burocracia. Mas o estádio é uma realidade. [Das 109 observações feitas pela Fifa e pelo COL], muitas eram problemas menores, o que pesou foram três itens já solucionados. Foi tudo encaminhado [à Fifa]. Vou a Zurique, na Fifa, e depois vou a Paris [onde está a seleção]. Querem me conhecer. Mas não foi o estádio a causa da eliminação.

O que foi, então?
Foi um pouco de relaxamento de todos nós. Estamos dando agora um choque de gestão, com a vinda do William. Não vai ser uma caça às bruxas, mudar tudo, até porque toda vez que se fez isso nós quase caímos para a segunda divisão. Para mim, seria fácil acabar com a crise: manda o treinador embora, manda quatro ou cinco jogadores embora e acabou. Mas seria como faziam antigamente: manda esse e aquele jogador embora, não pagam, e três, quatro, sete, oito anos depois aparece a conta.


Como o ex-presidente Lula vê o Corinthians hoje?
Ele tem criticado, como todo mundo. Acha que tinha de ser assim ou assado. Mas ele ajudou o clube com conselhos e outras coisas mais.

O que acha de Ronaldo ser chamado de pipoqueiro?
Se tem um cara no Brasil, e diria até no mundo, que não é pipoqueiro, que é guerreiro, ele se chama Ronaldo Nazário. Ele pediu para ir ao jogo domingo, eu o proibi de ir. Até para evitar uma situação de confronto [com a torcida].

Você está chateado?
O que magoa perante a imprensa é que a partir da derrota para o Tolima, até ontem [domingo], parece que toda a culpa é minha. Tenho a minha culpa, como a comissão técnica tem a dela, e os atletas têm a deles. E todos nós estamos juntos. Agora, não é por causa de um resultado, que tudo o que foi feito em três anos não vale nada.
Alguns ex-presidentes diziam: ""Vocês não sabem o valor que tem um título". Hoje talvez eu saiba que, com um título, você ganhando um campeonato, pode fazer qualquer coisa de errado que está tudo certo. Isso é muito simplista no futebol. Deixo uma estrutura, mas a maioria dos torcedores não liga para isso. É uma pena.

O que você achou dos protestos da torcida?
Sempre fui sindicalista, minha família também. O protesto é válido, necessário. Só que passaram um pouco do limite. Foi coisa de torcedor, mas é um ano eleitoral.
Quando assumi o clube, sabia da pressão, mas não que pessoas de dentro queriam tão mal ao Corinthians. Já me indispus e briguei com muita gente, com amigo. Quando perdemos a Libertadores ano passado, eu não abri o Parque São Jorge para o torcedor? Xingaram a mim, a todos, reclamaram. Mas o que não pode é violência.
Estou preocupado, toda essa pressão acaba chegando até a minha família. Minha filha tem só 14 anos. Isso tudo que acontece é pesado. Existem pessoas que acham que meu filho tem que entrar no campo e fazer gols.


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