São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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Reserva de efeito

Se a China complicar o jogo, ou mesmo se desejar ampliar o placar a seu favor, Luiz Felipe Scolari vai fazer hoje uma alteração que já entrou para a história da seleção. Em toda a trajetória da equipe nas Copas, iniciada em 1930, ninguém jogou tanto vindo do banco como o atacante Denílson, 24. Em 1998, com Zagallo, ele entrou no decorrer de seis das sete partidas da campanha do vice-campeonato -no jogo restante, contra a Noruega, começou como titular. Agora, na Coréia, Scolari também já lançou o jogador do Betis no segundo tempo contra a Turquia. "Fico feliz de poder disputar uma Copa e de ser útil quando solicitado", diz o atleta, mostrando que a situação de reserva de luxo não o incomoda.

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A JEONJU

Ele foi a "arma secreta" de Zagallo, que nos tempos de jogador era sua antítese. Agora, caiu nas graças de Luiz Felipe Scolari, que nunca foi um fã confesso de quem exagera nos dribles, sua principal característica.
Agradando técnicos tão diferentes, Denílson é o jogador brasileiro que mais sentiu o gosto de entrar no meio de uma partida de Copa para mudar um resultado desfavorável, segurar uma vitória ou para buscar mais gols.
No total, foram sete vezes, uma a mais do que Zico, o antigo recordista. Com seu estilo "incendiário", o atacante, revelado pelo São Paulo e que foi para a Espanha por quase US$ 30 milhões, resgata a aura de futebol mais técnico do mundo para o Brasil e dá espetáculo, mas nem sempre garante bons resultados.
Somando a campanha de 1998 com o jogo contra a Turquia agora, a seleção marcou 13 gols e sofreu apenas oito enquanto Denílson não estava em campo.
Já no tempo em que ele esteve no gramado, foram três gols marcados e três sofridos.
Das sete vezes que deixou o banco, Denílson só melhorou o placar duas vezes -contra a Escócia, em 1998, e na estréia de 2002, contra a Turquia. Em ambas as vezes ele entrou com o placar apontando um empate.
Na única vez que começou como titular, contra a Noruega, o Brasil perdeu. Na semifinal de 1998, contra a Holanda, ele entrou com o time vencendo por 1 a 0. Depois, os europeus empataram, e a disputa foi para os pênaltis.
O Datafolha atesta que Denílson é garantia de show, mas nem tanto de resultado. Mesmo com só 35 minutos, em média, por jogo em Copas, ele tem o maior número de dribles da seleção nacional nas últimas duas edições do Mundial -8,4 de média por partida.
Já nas finalizações, Denílson é uma decepção. Em quase 300 minutos de bola rolando, o equivalente a mais de três partidas, ele só chutou quatro bolas para o gol, sendo que todas sem sucesso. Até hoje, o atacante do Betis nunca marcou um gol em Copas. Nenhum outro jogador da sua posição que tenha disputado tantos jogos pelo país no torneio não teve o gosto de balançar as redes.
Passes que deixaram um companheiro em boa situação para marcar um gol foram raros -apenas quatro em oito jogos.
"É importante ter consciência do que você está jogando. Continuo feliz, mas é claro que vão ter dias que vou levantar com o pé esquerdo. Até agora não aconteceu", diz, sobre seu desempenho, Denílson, que joga com o número 17, um dos preferidos de Scolari.
Sem aparecer na foto tirada tradicionalmente antes do início das partidas dos jogadores titulares, Denílson já pode vislumbrar mais recordes com a camisa da seleção.
Aos 24 anos, ele já acumula mais jogos de Copas (oito) do que Pelé com a mesma idade (seis).
Se o Brasil for à final em 2002, e ele participar de todas as partidas, ficará a quatro jogos de igualar Taffarel e Dunga, os brasileiros que mais atuaram por Mundiais.


Colaboraram os enviados a Seogwipo



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