São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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GRUPO C/ HOJE

A partir de 92, futebol se profissionaliza, vê entrada de investidores e supera crise

Projeto de Estado criado há dez anos leva China à Copa

Reuters
Sob uma bola inflável gigante, atletas chineses fazem o reconhecimento do campo em que hoje enfrentam o Brasil, em Seogwipo


ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A seleção que enfrenta o Brasil hoje é fruto de um projeto desembrulhado pelo governo chinês há menos de dez anos.
Foi só depois de naufragar no Pré-Olímpico de 1992 que o país decidiu criar um plano para desenvolver seu futebol. Uma reunião nos subúrbios de Pequim -o Encontro de Hongshankou (literalmente, "Boca da Montanha Vermelha")- decidiu levar o profissionalismo a campo.
A reforma não aconteceu sem traumas. "Os técnicos e os jogadores eram identificados como membros do governo", diz Tan Hua, da Universidade do Sul da China, que estudou o processo.
O primeiro campeonato profissional, ainda em caráter experimental, aconteceu já no final de 1992. Tempos depois foi oficializado o objetivo do projeto: colocar sua seleção, que nunca participara de uma Copa, entre as 16 melhores do mundo em dez anos.
Ter sucesso nos campos era um projeto de Estado. "Quando vencemos, há grande diferença no humor do país. Todos comemoram", disse Huang Pu, do Ministério do Esporte, à revista "Far Eastern Economic Review".
Foi só a partir dali que o país criou leis para transferências de jogadores, que os clubes arrumaram patrocinadores e que o presidente da Associação Chinesa de Futebol deixou de ser oficialmente nomeado pelo governo.
Em 17 de abril de 1994, pelas mãos da gigante de marketing esportivo IMG, começou a Copa Marlboro, principal marco da profissionalização chinesa. Uma rede de TV comprou os direitos de transmissão, e a média de público passou de 20 mil por jogo.
Quando o processo parecia engatado, o governo começou a reduzir sua influência. Cortou pela metade os repasses ao futebol.
Veio a crise e a decepção por ficar fora da Olimpíada de 1996 e da Copa de 1998. Para reagir, houve o incentivo à ida de atletas para o Brasil e para a Europa, a vinda de técnicos estrangeiros e a transformação de clubes em empresas.
O negócio passou a dar certo. A atual liga chinesa tem contrato de US$ 6 milhões com a Pepsi. Os salários dos boleiros sobem -o atacante Hao Haidong, do Dalian, ganha US$ 120 mil anuais.
O influxo de dinheiro levou a China a enfrentar problemas conhecidos do futebol brasileiro, como pirataria de produtos esportivos e suborno de árbitros. Mas levou a China à sua primeira Copa, após um esforço de guerra que envolveu a contratação de Bora Milutinovic e a suspensão do rebaixamento no último campeonato, para privilegiar a seleção.
O modelo do futebol poderá ser usado em outras áreas, pois o país abrigará os Jogos de 2008. Mas é preciso correr. "O futebol fez a transição com uma rapidez que outros [esportes" não devem conseguir", diz Trevor Slack, da Universidade de Alberta, que estudou a mudança do esporte na China.


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