São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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maquiagem

Jogos limpam até "embaixada"

Governo chinês corre para tentar deixar Pequim sem prostitutas e pirataria durante a Olimpíada

Principais ruas e avenidas da cidade ganham canteiros com flores modificadas para desabrocharem apenas em agosto, durante o evento


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Tantas são as prostitutas mongóis que desfilam no bar e na pista de dança que a casa noturna Maggies foi apelidada de "Embaixada da Mongólia".
Fica em bairro nobre de Pequim, exclusivo de embaixadas e com soldados em cada esquina, onde todos os imóveis pertencem ao governo chinês.
No último mês, o Maggies e outras três versões pequinesas dos paulistanos Bahamas e Café Photo foram fechados. Na fábrica de boatos que é Pequim a exatos dois meses da Olimpíada, a versão mais ouvida é que os "clubes para executivos" só serão reabertos após os Jogos.
A Olimpíada é tratada pela China como o maior evento que o país já abrigou nos alegados 5.000 anos de história.
Além do cuidado reforçado com a segurança, Pequim sofre uma limpeza à medida do que o regime comunista quer mostrar ao mundo -oficialmente, o país não tem prostituição.
A higienização para turista ver também atinge uma das diversões mais familiares na cidade. Como há poucos cinemas e os ingressos, equivalentes a R$ 18, são caríssimos para o salário médio, o país é o maior produtor e comprador de DVDs piratas no mundo.
Várias lojinhas de DVDs e CDs falsificados espalhadas pela cidade também vêm sendo fechadas. Mas os próprios vendedores avisam que as lojas serão reabertas em outubro.
Caixas com temporadas inteiras de seriados americanos são vendidas ao equivalente a R$ 40. Um filme sai por R$ 2.
Mas há lugares que dificilmente conseguem ser varridos, pois não cabem sob nenhum tapete. Há vários shoppings de produtos falsificados que fazem a paulistana 25 de Março parecer uma pequena galeria.
Um deles, o Mercado da Seda, fica na principal avenida de Pequim. Com sete andares, tem milhares de tênis Nike, bolsas Louis Vuitton e camisas Polo Ralph Lauren que dificilmente saem por mais de R$ 100. Há apreensão entre os vendedores, que temem ser o próximo alvo.
Não que o governo desconheça tais lugares. O metrô tem uma saída dentro do próprio mercadão. Mas o comitê organizador de Pequim-2008 lançou na terça-feira um pacote de proibições contra ações publicitárias durante a Olimpíada.
Nem a distribuição de brindes ou cartazes será permitida -direito exclusivo para os patrocinadores oficiais da festa.
De 1º a 27 de agosto (os Jogos acontecem de 8 a 24), são proibidas propagandas com atletas e técnicos que não sejam as dos patrocinadores oficiais.
A "limpeza" é acompanhada por um embelezamento forçado e às pressas da cidade, que não conseguiu reduzir a poluição e a poeira permanentes.
As principais avenidas ganharam vasos de flores, dos canteiros aos postes, ao lado das torres dos semáforos e sobre as muretas dos viadutos elevados. A imprensa estatal as chama de "flores olímpicas". Algumas foram geneticamente modificadas para desabrochar em agosto, auge do verão chinês, quando a sensação térmica chega facilmente aos 40C.
"As autoridades estão querendo esconder tudo o que elas acham feio, mas certamente as prostitutas e os mendigos voltarão em setembro", afirma o escritor americano Paul Mooney, há 24 anos na cidade. "Há paranóia, medo pela segurança e muito nonsense."


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