São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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FUTEBOL

Falso refúgio

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O futebol não pode ser o depositário de grandes esperanças... Não se deve atribuir a um jogo a responsabilidade de resgatar o orgulho cívico, a auto-estima e o vigor de uma nação. Porque a possibilidade de derrota não é uma nota pequena no pé da página; é um parágrafo inteiro no contrato que você assina quando se dispõe a torcer por um time. Que seja jogada fora, diante de um resultado adverso, apenas a possibilidade de se dar bem no campeonato, não a esperança de ser feliz na vida.
Parecia que a seleção verde-encarnada mudaria os rumos de Portugal no século 21. Talvez a onda de renovada auto-estima e felicidade tivesse mesmo efeitos positivos no país, mas não se podia estufar o peito antes de receber a faixa. Era preciso lembrar o tempo todo, como no chavão dos atletas: "Ainda não ganhamos nada" (embora o "ainda" tenha implícita aquela certeza de que "é só uma questão de tempo").
Mas os portugueses, emotivos e exagerados, lidaram bem com a decepção de domingo. Cumprimentaram o time por ter ido tão longe e agradeceram pelas alegrias que tiveram na Eurocopa. Reconheceram a importância de Felipão na condução de um time vibrante, altivo e corajoso (apesar das teimosias felipescas, como a insistência na presença de Pauleta e na ausência de Rui Costa).
Os rubro-negros, em sua maioria, não foram tão compreensivos após o fracasso na final da Copa do Brasil. Alguns protestaram contra Julio César e Felipe (como parte dos são-paulinos fez com Rogério e Luis Fabiano). Mas um torcedor, apesar de triste, reconheceu: "Fomos longe demais. Parabéns por terem chegado à final com um time mediano".
O Flamengo era favorito no Maracanã por ter torcida, tradição, experiência em grandes decisões (e por ter três resultados a seu favor -qualquer vitória e dois empates). Mas tem razão o andreense que diz: "Quem duvidava da nossa vitória não conhecia o Santo André". Muita gente falou do time sem ter visto nenhum jogo da sua campanha impressionante. A equipe não se intimidou no Mineirão, no Parque Antarctica ou no Olímpico, e superou desvantagens que costumam desanimar até os mais experientes. Ninguém mandou apostar que eles iam tremer (e deixar o Sandro Gaúcho desmarcado).
O Once Caldas também não tremeu -já o famigerado Boca... Tropeçou quando ainda dependia só de si mesmo (nos pênaltis). Com a vitória dos colombianos, um são-paulino perguntou: "Será que o tricolor era mesmo tão ruim? Afinal, o Once acabou ganhando de todo mundo". O São Paulo não era "tão ruim" por perder dos colombianos, nem seria "tão bom" se fosse campeão. Foi um time valente em alguns momentos, teve brilhos ocasionais com os talentos de três ou quatro jogadores, mas não chegou a ser uma equipe coesa, constante, 100% digna de confiança.
E o Brasil na Copa América, o que será? Confesso que estou animada e curiosa -mas sem loucas esperanças, como tem de ser.

Babões
Basta aparecer uma loirinha esguia que a imprensa esportiva se alvoroça toda: "musa", "deusa", "além de bonita, joga muito" (observem a ordem dos fatores!). Sim, Sharapova é uma graça, mas imaginem como seria se nós nos referíssemos aos tenistas sempre mencionando os atributos físicos: "o charmoso fulano", "o atraente sicrano", "o sedutor beltrano, com seus belos olhos azuis...". Parece coisa de kakazete!

Quem contou?
Um fala em 20 mil ingressos falsos no Maracanã, outro fala em 5.000... Gostaria de saber em que se baseiam para o cálculo.

Parlamen-tur
Lá vai um deputado "representar a Casa" em Atenas...

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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