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TOSTÃO
Craque-celebridade
Ele existe há muito tempo e vive agora o seu auge; Pelé, com sua simpatia, já vendia a sua imagem nos anos 60
HÁ EM TODO o mundo críticas
aos jogadores famosos que
vivem parte de suas carreiras em encontros comerciais e festivos e não se preparam bem para as
competições.
Muitos craques-celebridades passam a ser mais celebridades do que
craques, independentemente se estão atuando bem ou mal. Beckham é
o maior exemplo.
De uma forma ou de outra, nenhum deles escapa das badalações.
Os seus empresários querem também as suas presenças em certos lugares para vender suas imagens.
É também difícil para o craque-celebridade saber o momento em que
esses compromissos atrapalham
suas carreiras. O problema principal
é a desconcentração que eles passam a ter durante treinos e jogos, e
não somente o cansaço com esses
encontros.
O craque-celebridade existe há
muito tempo e vive agora o seu auge.
Nos anos 60, Pelé, com seu sorriso e
simpatia, já vendia a sua imagem.
Pelé gostou tanto de ser garoto-propaganda que continua até hoje.
Ronaldinho é um dos craques brasileiros que mais aparecem e faturam. Esses compromissos aumentaram bastante após ser eleito o melhor do mundo por duas vezes seguidas. Isso certamente contribuiu para a queda do seu rendimento no último ano. No máximo, o jogador
consegue ter duas excepcionais
temporadas seguidas.
Como Kaká deve ser eleito o melhor do mundo, não será surpresa se
piorar em 2008. Temos de torcer
para que nenhum brasileiro ganhe
esse título no ano anterior à próxima Copa, para que não repita a queda que teve Ronaldinho em 2006.
O craque-celebridade está presente no esporte, na arte, na ciência, no
jornalismo e em todas as atividades.
Faz parte da sociedade atual de consumo, de espetáculo, da aparência e
da representação.
Além de divulgar e vender a sua
imagem, as pessoas cada vez mais
precisam ser admiradas e aplaudidas para se sentirem bem. Freud e
Lacan, na época em que havia grande repressão dos desejos, falaram
muito disso. Mas eles não imaginavam que o ser humano se tornaria
tão exibido. Além disso, muitos fãs
se interessam mais pelo craque-celebridade do que pela sua obra.
O culto à celebridade chegou à literatura. É o autor-celebridade. A
Folha mostrou no domingo passado uma reportagem sobre isso e sobre a Flip, a quinta festa literária de
Paraty, que começou na quarta-feira e termina hoje.
Muitos escritores, mesmo os
mais brilhantes, incentivados pelas
editoras, estão com freqüência presentes nesses encontros para falar
de suas obras. Como ocorre com os
jogadores de futebol e outros profissionais, corre-se o risco de sobrar pouco tempo para o seu trabalho e de piorar a qualidade.
Na Flip, houve várias homenagens a Nelson Rodrigues. Fui convidado para debates sobre a sua
obra no futebol e não aceitei por
causa de minhas atividades e de minha estranheza diante desse mundo. Me arrependi. Seria muitos
mais prazeroso e interessante rever a bela Paraty, estar ao lado de
grandes escritores e escutá-los do
que assistir às partidas da Copa
América. Iria me sentir quase uma
celebridade.
tostao.folha@uol.com.br
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