São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

Dia da independência



Vitória no Chile dá sobrevida a Dunga, que ganha mais autonomia diante da CBF, de Lula e da imprensa


"VOCÊS VÃO ter que me engolir", poderia ter dito Dunga depois do jogo de ontem contra o Chile. Com a vitória, o carrancudo treinador ganha sobrevida no comando da seleção. Se tivesse perdido, dificilmente permaneceria no cargo. Talvez por isso, nunca vi tantos brasileiros torcendo para o Brasil perder como ontem, antes e durante o jogo contra o Chile. O fato de ser um 7 de Setembro, "dia da pátria", só acrescenta ironia à situação. Obviamente, a torcida não era propriamente contra o Brasil, mas sim contra o futebol que a seleção brasileira vinha apresentando. Mais precisamente, contra Dunga, na esperança de que a mudança de treinador trouxesse de volta ao escrete um futebol bonito e bem jogado. A torcida, portanto, era "a favor" do Brasil, ou pelo menos de um Brasil que, verdadeiro ou ilusório, aprendemos a amar: um país de ginga e força, de criatividade e esperteza, de magia e garra. É natural isso: queremos uma seleção na qual possamos identificar qualidades que gostamos de acreditar que são nossas. Quando vemos essas qualidades num time ou num jogador estrangeiro, o que se produz é uma sensação incômoda, de amor ao proibido, de violação de um interdito. Foi assim um dia com Zidane, é assim hoje com Messi. Foi por isso que o elogio de Lula ao craque argentino produziu tanto mal-estar. Ao que parece, ao exaltar Messi em vez de nossos astros, o presidente mexeu com os brios do time. Mesmo sem ser brilhante, a seleção jogou com empenho e teve lampejos de belo futebol, como nos lances dos gols e na tabela de Robinho com Luís Fabiano que culminou com um chute fraco do primeiro. O Brasil, em suma, não foi "mesquinho", para usar a expressão de Maradona, outro argentino que é uma eterna pedra no nosso sapato. Gostei em especial da atuação de Diego, Luís Fabiano e Robinho, apesar da ineficiência deste último nas conclusões. Ronaldinho continua devendo, não tanto pelo pênalti perdido, mas pela falta de mobilidade e constância. Dunga agiu bem ao substituí-lo quando se tornou necessário recompor a defesa. No fim das contas, a euforia que tomou conta do Chile antes da partida beneficiou o Brasil. Mais que ofensivo, o time chileno se mostrou afoito, abrindo muitas brechas para o contra-ataque brasileiro. O técnico do Chile, o argentino Bielsa, foi mais cauteloso nas declarações pré-jogo ("cinco títulos mundiais não se compram em qualquer farmácia") do que na escalação do time e na condução do duelo. Alguém pode me perguntar: mas se a partida foi contra o Chile, por que você só fica falando de argentinos? Ora, todo jogo brasileiro, em competições sul-americanas, no fundo é contra a Argentina. Para não dizerem que não falei mal do Dunga: quando Kléber estava tinindo, ele insistia com Gilberto. Agora que o santista está mal, virou titular da seleção. Ontem, além de não jogar bem, Kléber conseguiu ser expulso, "dedurado" pelos próprios companheiros por ocasião do primeiro cartão amarelo, que o juiz dera por engano a Luisão. E Valdivia aprendeu uma lição: quem chora por último chora melhor.

jgcouto@uol.com.br


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