São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Rio vê facções criminosas tomarem arquibancada

Torcedores dos mesmos times, adeptos de grupamentos rivais, brigam entre si

Decisão da Copa do Brasil foi exemplo desse tipo de confronto; polícia diz que falta de filiação às torcidas dificulta a identificação

Fernando Soutello - 26.jul.06/Gazeta Press
Tumulto no meio na torcida do Flamengo na decisão da Copa do Brasil deste ano, contra o Vasco, no estádio do Maracanã


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A violência das torcidas organizadas ganhou uma nova face no Rio. A guerra de facções criminosas nas comunidades carentes é apontada pela Polícia Militar como pivô dos recentes e inusitados confrontos nos estádios. Agora, torcedores do mesmo clube brigam entre si.
O exemplo mais explícito foi na final da Copa do Brasil, há cerca de dois meses, quando integrantes da Torcida Jovem do Flamengo entraram em confronto por cerca de cinco minutos durante o segundo tempo.
""É uma realidade no Rio. Moradores de várias áreas carentes dominadas por essas facções se encontram na arquibancada, e a confusão acontece", constata o major Marcelo Pessoa, comandante do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios).
No caso da final da Copa do Brasil, torcedores de comunidades ligadas ao Comando Vermelho (CV) e à facção Amigos dos Amigos (ADA) se enfrentaram na arquibancada lotada. O CV e a ADA são os maiores grupos criminosos da cidade.
Antes da briga, torcedores trocavam provocações com refrões em homenagens às suas facções e hostilizando a rival.
O comandante do Gepe afirma que o fenômeno não se limita aos torcedores do Flamengo. ""Isso acontece em todas as organizadas. A Força Jovem do Vasco, por exemplo, está acabando. Ela foi dividida em cinco por causa desta nova rivalidade", diz Pessoa.
A Força Jovem do Vasco é a organizada mais violenta do clube de São Januário. Os dissidentes dela já criaram, somente neste ano, a Guerreiros do Almirante e a Ira.
""Quando eles se encontram, a violência sempre acontece", comenta o comandante do Gepe, que se recusa a identificar as facções criminosas que se confrontam nas organizadas.
Pessoa já desenvolveu um novo esquema de policiamento para evitar confrontos nos estádios durante os jogos. Um grupo de pelo menos 20 policiais faz a segurança próximo das organizadas conflituosas. No Fla-Flu de quarta-feira, pelo Brasileiro, as brigas foram evitadas no Maracanã.
Nos jogos, o Gepe adota um perfil semelhante ao implantado pela polícia nos morros do Rio. ""O nosso trabalho é basicamente como o de policiamento comunitário [adotado em favelas do Rio]. Destacamos sempre homens que são torcedores do mesmo clube de onde vão trabalhar. Tentamos amenizar ao máximo esse clima de conflito", declara o major.
Segundo o comandante do Gepe, os torcedores ligados a facções criminosas não vão ao estádio para assistir aos jogos. ""Na verdade, eles são marginais. Ficam de costas para o campo, apenas trocando provocações entre si e se aproveitam do anonimato para criar confusão", conclui o comandante, acrescentando que a maioria dos brigões freqüenta a organizada mas não é filiada, o que dificulta o trabalho da polícia.


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