São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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Parreira volta e promete enterrar filosofia do penta

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Ricardo Teixeira, da CBF, veste agasalho da seleção em Carlos Alberto Parreira, gesto que, desde a apresentação de Scolari, simboliza a passagem do cargo de técnico



 Técnico "esquece" promessas e assume pela terceira vez a seleção

 Time vai abandonar esquema de Scolari e retornar ao 4-4-2

 Zagallo repete dobradinha do tetra e será o coordenador técnico



MARIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Meio ano após conquistar seu quinto título mundial, moldada pelas idéias de Luiz Felipe Scolari, que a levou de novo à condição de melhor do planeta, a seleção brasileira de futebol vai mudar. Passará a ter uma nova "filosofia".
O anúncio foi feito ontem no Rio por Carlos Alberto Parreira, 59, na entrevista em que foi apresentado pela terceira vez em sua carreira como técnico da seleção. O novo coordenador técnico, Mário Jorge Lobo Zagallo, 71, disse a mesma coisa.
Ao antecipar que manterá o núcleo da equipe que venceu em 2002, Parreira demarcou suas diferenças com Scolari: "O bom senso aconselha que se mantenha essa base, até com outra filosofia, outra maneira de trabalhar".
Em seguida, deu um exemplo de mudança: "A seleção jogava com três zagueiros. Prefiro uma característica mais própria do futebol brasileiro, que é a linha de quatro [defensores], marcação por zona, dois zagueiros".
Com um zagueiro a menos, o meio-campo ganha um jogador a mais. Em tese (nem sempre é assim), com esse sistema (disposição dos jogadores em campo) a equipe fica mais ofensiva. Mas menos protegida na defesa.
Apesar de prometer mudança, Parreira elogiou Scolari, que assinou contrato, depois de ter conquistado o penta no Japão, para dirigir a seleção de Portugal na Eurocopa de 2004.
Disse que o gaúcho devolveu a auto-estima à seleção. Sobre a estrutura, afirmou: "Nossa função é aprimorar o que está muito bom. Buscar quase a perfeição".
Zagallo acrescentou: "Prefiro que a nossa cultura não seja mexida. Mesmo nós sendo pentacampeões, acho que o nosso futebol evolui mais [com dois zagueiros]. Ganhamos mais um homem de armação no meio".
Parreira e Zagallo reeditam a dupla que triunfou na Copa dos Estados Unidos, em 1994, nas mesmas funções.
Zagallo foi campeão mundial como jogador em 58 e 62. Como técnico, em 70. Como coordenador, em 94. Em 98, quando o Brasil foi vice, era o treinador. Na volta ao país, deixou a seleção.
No tri de 70, Parreira foi um dos preparadores físicos. Em 94, o técnico. Saiu após a Copa por iniciativa própria.
Américo Faria se mantém na função de supervisor mesmo com a saída de Scolari, que decidiu abandonar a seleção após o Mundial Coréia/Japão. Faria foi supervisor no tetra (94) e no penta (2002). Nunca o Brasil teve uma comissão técnica tão vitoriosa.
Adiantando outras novidades, Parreira citou quatro jovens atletas que considera promissores: Diego e Robinho, do Santos; e Gil e Kléber, do Corinthians. É entusiasta de Kaká. Disse que Robinho, 18, já pode ser integrado ao time. Descartou Romário, ao lembrar que o atacante estará na casa dos 40 anos na Alemanha-2006.
Parreira negou que um dia tenha dito que o gol é um detalhe no futebol. Afirmou que a frase era: "o gol não aconteceu por detalhe". Contra-atacou ontem: "Mas, afinal, o gol não é o detalhe mais importante do futebol, a sua essência?" Refutou a imagem de defensivista, reforçada por alguns críticos em 94. "Havia equilíbrio, tanto no ataque como na defesa."
Num clima de ufanismo, Zagallo prometeu: "Todo mundo [não esclareceu quem] diz que a Alemanha é favorita. Mas acho que estamos bem a caminho do hexa. Eu estou passando essa energia desde já para todos, de mãos dadas. Temos condições de levantar esse título novamente. Queiram ou não". Para as fotos, Parreira mostrou um dedo. Zagallo, cinco. Para somar seis, de hexa.
Na mesa da entrevista estava Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Após duas Comissões Parlamentares de Inquérito terem investigado o esporte, uma na Câmara, a outra no Senado, o dirigente, ex-genro de João Havelange, segue no cargo na CBF. Ainda no primeiro semestre deste ano haverá eleição na entidade, em data a ser marcada.


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