São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ GERALDO COUTO

O maior espetáculo da terra


Com astros repatriados e talentos nascentes, o Brasileirão deste ano tem tudo para encher os olhos

C OMEÇA HOJE aquele que já foi considerado o maior torneio nacional de futebol do mundo e que, por conta da economia global do esporte, sofreu nos últimos anos um acentuado esvaziamento.
Mas eis que a mesma economia global, somada a fatores diversos que vão desde agressivas campanhas de marketing até insondáveis crises pessoais, propiciou neste ano a volta ao país, ou a permanência nele, de uma porção de jogadores de primeira linha.
Repatriados como Ronaldo, Adriano e Fred vêm se juntar a talentos florescentes como Keirrison, Taison e Neymar e a "valores seguros" como Nilmar, Kléber (do Cruzeiro) e Kléber Pereira, entre outros.
Não por acaso, até agora só falei de atacantes. Se depender dos que estão por aqui nesta temporada, teremos um Brasileirão cheio de gols.
Mas há Hernanes, Ramires, Elias, D'Alessandro, Jean, Ibson e tantos outros meio-campistas de respeito, que estão trazendo de volta aos gramados o toque de bola e a inteligência, após uma era de brucutus.
Com o início do campeonato, começa também a temporada de apostas, previsões e profecias, um vício inerente não apenas aos cronistas esportivos mas aos homens e mulheres em geral. Mas são tantas as variáveis envolvidas, tantos os fatores e contingências que cercam o futebol globalizado, para não falar dos mistérios da alma humana, que não arrisco palpite nenhum.
É tudo tão frágil e volátil que não sei nem mesmo se a primavera de bom futebol que se anuncia nas contratações e escalações vai durar ou vai cair bruscamente como as tardes, as ações da Bolsa e os viadutos.
Para resistir à tentação dos palpites, tento sempre me lembrar das previsões desastrosas que já fiz, algumas delas por escrito, outras felizmente reservadas a poucos amigos.
Num arroubo de sinceridade autopunitiva, compartilho agora um punhado delas com você. Quando o Corinthians contratou Tevez, confidenciei a amigos: "Não vai dar certo. O cara vem para cá pensando na Europa, não vai se empenhar, vai desagregar o grupo".
Aconteceu o contrário. Poucos atletas tiveram uma sintonia tão grande com o alvinegro e sua torcida. Quando Lopes, aquele meia alto e de grande força física, apareceu no Palmeiras uns anos atrás, eu disse: "Esse é craque". Depois disso, ele despontou para o anonimato.
Por fim, quando anunciaram Ronaldo no Corinthians, comentei com meu grupo de peladeiros: "Grande jogada de marketing, mas ele só vai entrar em campo para posar para as fotos e fazer um ou outro gol de pênalti". Sem comentários.
Várias dessas previsões furadas, percebo agora, têm a ver com uma espécie de medo de ser feliz, de me deixar levar pela euforia de torcedor. Mas, como nos filmes de Buñuel, os sonhos às vezes ganham a mesma densidade da assim chamada realidade.
Por falar em medo de ser feliz, que sempre me lembra o Botafogo, o cineasta Sylvio Back está preparando o filme "Tem Coisas que Só Acontecem no Botafogo", que ele define como um "docudrama" (mistura de documentário e ficção) com "história e estórias, baixarias e "altarias'" do clube da estrela solitária.
É esperar para ver.

jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor: Dia da verdade
Próximo Texto: Folga faz Palmeiras festejar e irrita Sport
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.