São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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CARLOS ALBERTO PARREIRA

O desenho tático da Copa do Mundo


Sistema bom é aquele que ganha e que aproveita melhor as características dos atletas. A Coréia do Sul montou uma bela equipe


Creio que ainda seja muito cedo para qualquer tipo de análise técnica mais profunda. No entanto, com relação aos sistemas de jogo, como já era esperado, o velho 4-4-2, com seus 36 anos (foi usado pela primeira vez pelos ingleses em 1966), continua em plena forma e ainda largamente utilizado. Além disso, há uma tendência nesta Copa. Dos dois atacantes, um joga mais adiantado e o outro vem de trás, um pouco mais recuado -como faz, por exemplo, a Dinamarca com Sand e Tomasson. Configurando um 4-4-1-1.
Há quem aposte no 3-5-2 ou na sua variação, o 5-3-2. No Brasil já estamos familiarizados com os dois modelos. O atual campeão Brasileiro, o Atlético-PR, joga em um autêntico 3-5-2. Também a nossa seleção, que adota o sistema nesta Copa.
O modelo holandês 3-4-3, ora implantado na seleção coreana, pelo técnico Guus Hiddink, já era conhecido desde os tempos do Ajax de Cruyff.
Vi e gostei da Coréia na sua primeira vitória em Copas -2 a 0 sobre a Polônia. Me agradou muito a postura, a distribuição do time em campo -a facilidade com que as jogadas saíam e como se defendiam e atacavam.
De uma maneira bem simples, o 3-4-3 funciona assim:
1) três zagueiros na extrema defesa: dois marcam os dois atacantes adversários, e o terceiro joga na sobra -de líbero;
2) no meio-campo, dois volantes jogam lado a lado (tipo Mauro Silva e Dunga), e dois meias atuam pelos flancos, bem abertos, como se fossem pontas;
3) no ataque, jogam dois pontas bem abertos, e um ponta-de-lança no meio da área.
De posse da bola, a equipe usa muita velocidade e movimentação, fazendo uma troca permanente entre os pontas e os meias, e com os dois volantes subindo para encostar no ataque. Atacam quase sempre com sete jogadores. Começam a jogar com o líbero, que é o responsável pelas saídas de bola. A marcação atrás é individual. Os pontas voltam com os laterais até o fim da jogada.
Diz-se que sistema bom é aquele que ganha e que melhor aproveita as características individuais dos jogadores. Após dois anos de trabalho, o treinador coreano montou uma bela equipe, que, com certeza, vai dar muita dor de cabeça. Houve um perfeito encaixe entre a qualidade técnica dos jogadores e o futebol de velocidade e determinação que é característico dos coreanos. Podem chegar às oitavas-de-final e até fazer uma graça, dependendo rival.


Carlos Alberto Parreira, 59, foi o técnico campeão da Copa de 1994, nos EUA, e atualmente dirige o Corinthians



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