São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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ARTIGO

Cerimônia merece o 1º ouro olímpico

Mais hollywoodiana do que a própria Hollywood, festa de abertura extrapola os limites da imaginação do cineasta Zhang Yimou

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim conhecia o terreno onde pisava quando anunciou, em abril de 2006, que o cineasta Zhang Yimou, 56, seria o diretor-geral das cerimônias de abertura e encerramento do evento.
Filmes de ação como "Herói" (2002), "O Clã das Adagas Voadoras" (2004) e "A Maldição da Flor Dourada" (2006), em que os personagens revogam a lei da gravidade, sugeriam que nem mesmo o céu seria limite para a imaginação de Yimou.
A escolha também levou em conta a identificação da obra do cineasta com valores históricos chineses. Além disso, ele é um mestre da luz e da cor, como demonstram "Sorgo Vermelho" (1987) e "Lanternas Vermelhas" (1991), entre outros.
Esse perfil o transformou em coordenador ideal (ou "comandante-em-chefe") de uma vasta equipe de colaboradores, que inclui entre seus generais o coreógrafo Zhang Jigang e o compositor Chen Qigang, e da qual Steven Spielberg foi consultor.
A parte inicial da cerimônia de abertura foi concebida como um longa-metragem dividido em grandes seqüências, todas baseadas, como em um épico de ação, no conceito de integrar muita gente a muita tecnologia e movimento quase incessante.
Até a fase neo-realista de Yimou, de "Nenhum a Menos" e "O Caminho para Casa", ambos de 1999, gerou ecos em momentos mais minimalistas da cerimônia, como os que envolveram crianças e fotos de sorrisos captados mundo afora.
A tônica dominante, no entanto, foi mais hollywoodiana do que a própria Hollywood poderia conceber -e basta lembrar quão opacas se tornaram, na comparação, as aberturas dos Jogos de Los Angeles, em 1984, e de Atlanta, em 1996.
Embora tenha sido oficialmente nomeado há pouco mais de dois anos, Yimou teve ao menos quatro anos para pensar no que vimos ontem. Ele já havia produzido oito minutos para a cerimônia de encerramento dos Jogos de Atenas e, desde então, estava engajado no projeto olímpico chinês.
Como um dedicado embaixador, realizou vídeos promocionais e divulgou o evento em diversos países. Foi também figura-chave na escolha das cinco propostas finalistas, selecionadas entre as 409 inscritas, para os shows de abertura e encerramento do evento esportivo.
Yimou havia dito que seu objetivo era conduzir a cerimônia de ontem em direção a um "momento inesquecível" - supostamente, o da tocha olímpica. Nesse aspecto, "fracassou": o espetáculo gerou diversos outros picos, com imagens igualmente belíssimas.
O presidente do comitê organizador, Liu Qi, acreditava que o sucesso dos Jogos dependeria em boa medida da qualidade da cerimônia de abertura. Pois entregue-se uma medalha de ouro simbólica à equipe de Yimou, e aguardemos os novos recordes.


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