São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2011

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LOS GRINGOS - JOHN CARLIN

A liga anunciada


A corrida pelo título espanhol, exceto nas partidas entre os dois grandes, será um tédio


A EXCITAÇÃO imediata do planeta futebol está centrada nos dois jogos da "Supercopa" que Real Madrid e Barcelona disputarão no domingo e na quarta seguinte, como vencedores da Liga espanhola e da Copa do Rei na temporada passada. Mas a perspectiva tem também um lado deprimente.
Primeiro, devido à possibilidade de que os jogos envenenem a atmosfera da nova temporada antes mesmo que ela comece. Basta um pênalti dúbio, uma expulsão controvertida, e com certeza -especialmente se forem contra o Real- haverá recriminações e veremos uma repetição do rancor entre os times que tivemos de suportar em 2010/11 depois que o Real perdeu por 5 a 0 diante de Messi e cia. no Camp Nou, em novembro.
José Mourinho começará a falar de conspirações sinistras, os torcedores e a imprensa de Madri seguirão seu exemplo e as conversas pelos nove meses seguintes não vão girar em torno da qualidade do futebol das equipes, mas sim da sinistra disputa política -mesmo que imaginária ou fictícia- subjacente a esse nem sempre belo esporte.
A segunda coisa deprimente quanto ao confronto é que ele servirá para confirmar nossa impressão quanto ao grau absurdo em que La Liga se transformou em disputa bilateral.
Até três ou quatro anos atrás, você não seria declarado maluco se cogitasse no início da temporada que o Valencia, o Sevilla ou o Atlético de Madri pudessem ganhar o título. Hoje, isso já não procede.
Agora, jogadores, equipes técnicas e torcedores desses três times admitem livremente que o melhor a que podem aspirar é o terceiro ou quarto posto.
A distância entre os dois grandes e os demais se amplia a cada temporada, e La Liga, longe de ser o melhor campeonato do mundo, parece-se mais e mais com a triste primeira divisão escocesa, na qual Celtics e Rangers dominam desde sempre, sem quaisquer rivais que venham à memória.
Em termos de espetáculo, de circo, o Barcelona é o que existe de melhor no mundo, e é possível que o Real não fique muito abaixo na nova temporada. Mas em termos de drama, que afinal constitui a alma do futebol, melhor procurar em outra parte. A corrida pelo título espanhol, exceto nas partidas entre os dois grandes, será um tédio.
Talvez, pensando bem, o futebol da Espanha precise da língua venenosa de Mourinho, afinal, para incendiar de alguma maneira uma paisagem que de outro modo seria mortalmente tediosa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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