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FUTEBOL
Sonho do Sarriá renasce na Alemanha
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Arrependimento não mata. Cria. Na raiz do triunfo
acachapante de 5 a 0 sobre o Chile
está, ao lado de uma geração de
futebolistas fabulosos, um homem que se arrependeu. Chama-se Carlos Alberto Parreira. Arrepende-se de ter se mudado para a
Espanha dias depois do tetra.
Foi o que ele contou aos repórteres João Henrique Medice e Daniel Tozzi, do UOL. Não se deu a
chance de desfrutar a consagração, após as derrotas do Brasil em
cinco Copas. Quando voltou, o
encanto findara. Para muita gente, e essa dor Parreira não expõe,
a vitória nos EUA teve o signo da
mediocridade.
Tremenda injustiça. O técnico
fez o que era preciso: rebaixou riscos ao perseguir o título para um
país que cansara de fracassar. A
falta de reconhecimento empolga-o à virada: quer fazer a Alemanha, talvez no seu derradeiro
Mundial como treinador, com
um time que enfeitice.
No embate existencial, o artista,
pintor de marinas quando sobra
algum tempo livre, se sobrepõe
-ou se associa- ao professor de
tática e pragmatismo com seus
velhos slides.
A agenda da seleção brasileira
não pode ser outra. Com todos os
talentos que tem, o desafio é brilhar e vencer.
O essencial é brilhar. Se vencer
sem brilhar, será um desperdício.
Se brilhar sem vencer, também.
Mas, neste caso, ficará no coração
como a equipe de 82. Parreira será ídolo como Telê.
O carioca foi para o Valencia
em 94 porque Telê recusou o convite do clube espanhol. O itabiritense deslumbrara a Espanha e o
mundo. Não falta quem ainda diga que seu timaço descuidou-se
na defesa. O buraco era mais à
frente: o Brasil levaria a Copa se
os dois atacantes jogassem como
os cinco que hoje disputam vaga
como um dos fab-four.
Robinho nem era nascido. Com
Kaká, Adriano e os Ronaldos, ele
corre para não sobrar. Parreira
busca o brilho, mas teme o suicídio e evita o quinteto. Em 82, o
quarteto era Falcão, Cerezo, Zico
e Sócrates. Nas laterais, Leandro e
Júnior. Com eles a seleção redescobriu seu fascínio, mais de uma
década depois do tri.
No estádio Sarriá, ficou um
pouco do sonho de que o futebol
sedutor deve prevalecer. Outros
cacos de sonhos quebrados ficaram nos gramados de 54, com a
Hungria de Puskas, e 74, com a
Holanda de Cruijff. Um novo
campeão espetacular, como em
58 e 70, há de colar cacos que seguem perdidos por aí.
A turma que vai à Alemanha
precisa aprender com a que peleou na Espanha: favoritismo não
dá caneco. Tem de aprender
mais: futebol foi feito para encantar. No campeonato da minha vida, os craques de Telê serão sempre campeões.
No meu sonho do hexa, os eleitos para o quarteto e os laterais
retalham a medalha e dão metade aos antecessores de 82. Idem os
grandes técnicos Parreira e Zagallo. Generosamente, a dupla solda
as duas metades e entrega uma
medalha inteira a Telê. Foi ele
quem ensinou que, também no
futebol, gente é pra brilhar.
Quinteto violado
Idéias boas têm pais demais, as
que não prosperam são órfãs. A
idéia do quinteto ofensivo é boa
porque, a essa altura, não se pode recusar seu teste, nem que
seja para usá-la em caso de desespero. É irresistível a tentação
de ver o que aconteceria com a
utopia em campo. Depois da
Copa das Confederações,
quando se discutia quem deve
sobrar no quarteto, Rodolfo
Fernandes sugeriu no "Globo"
o quinteto. Nenhum craque ficaria de fora. Logo a proposta
ganhou outros pais. Para iniciar
os jogos, (por enquanto) prefiro o quarteto. Dá para brilhar
assim. Com dois volantes-volantes. Minha seleção: Marcos;
Cafu, Edmílson, Juan e Roberto
Carlos; Emerson e Gilberto Silva; Kaká e Ronaldinho; Ronaldo e Robinho.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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