São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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FUTEBOL

Sonho do Sarriá renasce na Alemanha

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Arrependimento não mata. Cria. Na raiz do triunfo acachapante de 5 a 0 sobre o Chile está, ao lado de uma geração de futebolistas fabulosos, um homem que se arrependeu. Chama-se Carlos Alberto Parreira. Arrepende-se de ter se mudado para a Espanha dias depois do tetra.
Foi o que ele contou aos repórteres João Henrique Medice e Daniel Tozzi, do UOL. Não se deu a chance de desfrutar a consagração, após as derrotas do Brasil em cinco Copas. Quando voltou, o encanto findara. Para muita gente, e essa dor Parreira não expõe, a vitória nos EUA teve o signo da mediocridade.
Tremenda injustiça. O técnico fez o que era preciso: rebaixou riscos ao perseguir o título para um país que cansara de fracassar. A falta de reconhecimento empolga-o à virada: quer fazer a Alemanha, talvez no seu derradeiro Mundial como treinador, com um time que enfeitice.
No embate existencial, o artista, pintor de marinas quando sobra algum tempo livre, se sobrepõe -ou se associa- ao professor de tática e pragmatismo com seus velhos slides.
A agenda da seleção brasileira não pode ser outra. Com todos os talentos que tem, o desafio é brilhar e vencer.
O essencial é brilhar. Se vencer sem brilhar, será um desperdício. Se brilhar sem vencer, também. Mas, neste caso, ficará no coração como a equipe de 82. Parreira será ídolo como Telê.
O carioca foi para o Valencia em 94 porque Telê recusou o convite do clube espanhol. O itabiritense deslumbrara a Espanha e o mundo. Não falta quem ainda diga que seu timaço descuidou-se na defesa. O buraco era mais à frente: o Brasil levaria a Copa se os dois atacantes jogassem como os cinco que hoje disputam vaga como um dos fab-four.
Robinho nem era nascido. Com Kaká, Adriano e os Ronaldos, ele corre para não sobrar. Parreira busca o brilho, mas teme o suicídio e evita o quinteto. Em 82, o quarteto era Falcão, Cerezo, Zico e Sócrates. Nas laterais, Leandro e Júnior. Com eles a seleção redescobriu seu fascínio, mais de uma década depois do tri.
No estádio Sarriá, ficou um pouco do sonho de que o futebol sedutor deve prevalecer. Outros cacos de sonhos quebrados ficaram nos gramados de 54, com a Hungria de Puskas, e 74, com a Holanda de Cruijff. Um novo campeão espetacular, como em 58 e 70, há de colar cacos que seguem perdidos por aí.
A turma que vai à Alemanha precisa aprender com a que peleou na Espanha: favoritismo não dá caneco. Tem de aprender mais: futebol foi feito para encantar. No campeonato da minha vida, os craques de Telê serão sempre campeões.
No meu sonho do hexa, os eleitos para o quarteto e os laterais retalham a medalha e dão metade aos antecessores de 82. Idem os grandes técnicos Parreira e Zagallo. Generosamente, a dupla solda as duas metades e entrega uma medalha inteira a Telê. Foi ele quem ensinou que, também no futebol, gente é pra brilhar.

Quinteto violado
Idéias boas têm pais demais, as que não prosperam são órfãs. A idéia do quinteto ofensivo é boa porque, a essa altura, não se pode recusar seu teste, nem que seja para usá-la em caso de desespero. É irresistível a tentação de ver o que aconteceria com a utopia em campo. Depois da Copa das Confederações, quando se discutia quem deve sobrar no quarteto, Rodolfo Fernandes sugeriu no "Globo" o quinteto. Nenhum craque ficaria de fora. Logo a proposta ganhou outros pais. Para iniciar os jogos, (por enquanto) prefiro o quarteto. Dá para brilhar assim. Com dois volantes-volantes. Minha seleção: Marcos; Cafu, Edmílson, Juan e Roberto Carlos; Emerson e Gilberto Silva; Kaká e Ronaldinho; Ronaldo e Robinho.

E-mail mario.magalhaes@uol.com.br


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