São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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Após rusga com técnico do clube, atacante vira o único titular escalado por Parreira para duelo em La Paz e promete brilhar ao lado de Robinho

Estrela, Adriano procura a paz que perdeu na Itália

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Uma recente troca de farpas com o técnico da Inter de Milão afetou seu prestígio e chacoalhou sua aura de intocável no clube.
A rusga, porém, não abalou a solidez de Adriano na seleção brasileira. Hoje, em La Paz, o atacante vive experiência rara no time nacional: será o protagonista, o único titular escalado por Carlos Alberto Parreira para o duelo -outros astros ganharam folga.
Artilheiro da seleção na última Copa América e na Copa das Confederações, ele concedeu entrevista à Folha na última sexta.
Carioca de 23 anos, nascido na favela da Vila Cruzeiro, Adriano aposta no sucesso da dupla com Robinho diante dos bolivianos.
Com um brinco de diamante na orelha esquerda, relata também seu apreço por bons vinhos, comenta a infância pobre e a paixão pelo funk carioca.

Folha - O seu relacionamento com o treinador da Inter de Milão, Roberto Mancini, está abalado?
Adriano
- É difícil. Depois da última derrota [para a Juventus], ele chegou no vestiário falando algumas coisas que não aceitei. Não jogo sozinho. Tem que ter alguém para jogar comigo. Desta maneira, fica muito difícil jogar. Tivemos uma conversa um pouquinho mais áspera.

Folha - O que ele queria?
Adriano
- Queria que eu prendesse mais a bola. Estava falando que os atacantes adversários prendiam bem a bola para a defesa sair. Mas eles tinham jogadores para ajudá-los.

Folha - O relacionamento de vocês está abalado agora?
Adriano
- Ele já foi atacante e se sentiu no direito de falar algumas coisas, que não aceitei. Não nos encontramos mais por causa da seleção, mas vamos conversar.

Folha - Contra a Bolívia, você vai jogar com Robinho. O que acha dessa dupla de ataque?
Adriano
- Jogar com ele sempre é bom. O Robinho é excelente, tem muita habilidade, dá bons passes. Fomos muito bem na Copa das Confederações. Temos que aproveitar para ficarmos na equipe.

Folha - A Copa já está perto. Quem será o grande nome?
Adriano
- É muito difícil fazer uma previsão desta. A certeza que tenho é que será alguém da seleção. Temos jogadores bons.

Folha - O Brasil é favorito?
Adriano
- Acho que sim. Já provamos isto nos últimos anos. Só temos que tomar cuidado para não deixar a euforia tomar conta.

Folha - Nos treinos da seleção, todos os jogadores que estão no time adversário temem o seu chute. Você já mediu a velocidade dele?
Adriano
- Na Itália, já fizeram isto. Fiquei até impressionado. A média é de 115 a 120 km/h. Não fico muito ligado nisto. A minha preocupação é com a maneira com que vou bater na bola. Se o chute sair forte, fica melhor ainda. Mesmo assim, nunca levei nenhum adversário a nocaute.

Folha - Você teve uma infância na Vila Cruzeiro [uma das favelas mais violentas no Rio]. Sua avó vendia pastel para pagar a sua passagem para os treinos...
Adriano
- Me sinto muito bem em ajudar todos eles. O meu passado foi um pouco difícil. Eles me deram força para continuar. Tenho esta grande responsabilidade de ajudá-los. A minha mãe e minha avó são as duas pessoas que merecem tudo.

Folha
- Com o sucesso na carreira, você faz extravagâncias?
Adriano
- Não desperdiço muito. Mesmo assim, não nego que gosto de comer bem, freqüentar bons restaurantes. Sempre levo a minha mãe e minha avó. A minha avó principalmente fica muito impressionada com os preços.

Folha - Você tem fama de gostar de beber vinhos caros...
Adriano
- Sempre tomamos vinho no jantar. Elas adoram também. Quando estamos no restaurante, sempre peço bons vinhos. Mas tomo cuidado para a minha avó não ver os preços na carta. Ela já me deu algumas broncas depois que viu alguns preços.

Folha - O que você, funkeiro assumido, acha da decisão da polícia de indiciar 13 cantores por apologia ao tráfico?
Adriano
- Eu já curti isto. Acho que eles estão tentando ganhar o dinheiro deles. De alguma forma, eles tentam não passar fome. Muitos falam de problemas que têm nas comunidades. É um lado até legal, mas depende da forma que se fala. Escuto muito funk.

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