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Após rusga com técnico do clube, atacante vira o único titular escalado
por Parreira para duelo em La Paz e promete brilhar ao lado de Robinho
Estrela, Adriano procura a paz que perdeu na Itália
SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS
Uma recente troca de farpas
com o técnico da Inter de Milão
afetou seu prestígio e chacoalhou
sua aura de intocável no clube.
A rusga, porém, não abalou a
solidez de Adriano na seleção brasileira. Hoje, em La Paz, o atacante
vive experiência rara no time nacional: será o protagonista, o único titular escalado por Carlos Alberto Parreira para o duelo -outros astros ganharam folga.
Artilheiro da seleção na última
Copa América e na Copa das
Confederações, ele concedeu entrevista à Folha na última sexta.
Carioca de 23 anos, nascido na
favela da Vila Cruzeiro, Adriano
aposta no sucesso da dupla com
Robinho diante dos bolivianos.
Com um brinco de diamante na
orelha esquerda, relata também
seu apreço por bons vinhos, comenta a infância pobre e a paixão
pelo funk carioca.
Folha - O seu relacionamento com
o treinador da Inter de Milão, Roberto Mancini, está abalado?
Adriano - É difícil. Depois da última derrota [para a Juventus],
ele chegou no vestiário falando algumas coisas que não aceitei. Não
jogo sozinho. Tem que ter alguém
para jogar comigo. Desta maneira, fica muito difícil jogar. Tivemos uma conversa um pouquinho mais áspera.
Folha - O que ele queria?
Adriano - Queria que eu prendesse mais a bola. Estava falando
que os atacantes adversários
prendiam bem a bola para a defesa sair. Mas eles tinham jogadores
para ajudá-los.
Folha - O relacionamento de vocês está abalado agora?
Adriano - Ele já foi atacante e se
sentiu no direito de falar algumas
coisas, que não aceitei. Não nos
encontramos mais por causa da
seleção, mas vamos conversar.
Folha - Contra a Bolívia, você vai
jogar com Robinho. O que acha
dessa dupla de ataque?
Adriano - Jogar com ele sempre é
bom. O Robinho é excelente, tem
muita habilidade, dá bons passes.
Fomos muito bem na Copa das
Confederações. Temos que aproveitar para ficarmos na equipe.
Folha - A Copa já está perto.
Quem será o grande nome?
Adriano - É muito difícil fazer
uma previsão desta. A certeza que
tenho é que será alguém da seleção. Temos jogadores bons.
Folha - O Brasil é favorito?
Adriano - Acho que sim. Já provamos isto nos últimos anos. Só
temos que tomar cuidado para
não deixar a euforia tomar conta.
Folha - Nos treinos da seleção, todos os jogadores que estão no time
adversário temem o seu chute. Você já mediu a velocidade dele?
Adriano - Na Itália, já fizeram isto. Fiquei até impressionado. A
média é de 115 a 120 km/h. Não fico muito ligado nisto. A minha
preocupação é com a maneira
com que vou bater na bola. Se o
chute sair forte, fica melhor ainda.
Mesmo assim, nunca levei nenhum adversário a nocaute.
Folha - Você teve uma infância na
Vila Cruzeiro [uma das favelas mais
violentas no Rio]. Sua avó vendia
pastel para pagar a sua passagem
para os treinos...
Adriano - Me sinto muito bem
em ajudar todos eles. O meu passado foi um pouco difícil. Eles me
deram força para continuar. Tenho esta grande responsabilidade
de ajudá-los. A minha mãe e minha avó são as duas pessoas que
merecem tudo.
Folha
- Com o sucesso na carreira, você
faz extravagâncias?
Adriano - Não desperdiço muito. Mesmo assim, não nego que
gosto de comer bem, freqüentar
bons restaurantes. Sempre levo a
minha mãe e minha avó. A minha
avó principalmente fica muito
impressionada com os preços.
Folha - Você tem fama de gostar
de beber vinhos caros...
Adriano - Sempre tomamos vinho no jantar. Elas adoram também. Quando estamos no restaurante, sempre peço bons vinhos.
Mas tomo cuidado para a minha
avó não ver os preços na carta. Ela
já me deu algumas broncas depois que viu alguns preços.
Folha - O que você, funkeiro assumido, acha da decisão da polícia de
indiciar 13 cantores por apologia
ao tráfico?
Adriano - Eu já curti isto. Acho
que eles estão tentando ganhar o
dinheiro deles. De alguma forma,
eles tentam não passar fome.
Muitos falam de problemas que
têm nas comunidades. É um lado
até legal, mas depende da forma
que se fala. Escuto muito funk.
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