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Terceira geração de droga força "recall" de doping olímpico
COI irá reavaliar amostras de Pequim para detectar o Cera, substância flagrada em método criado no mês passado
Após ciclista ser pego, união de laboratórios desvenda variante que está mais perto da fisiologia humana do que EPO e motiva ação de comitê
FERNANDO ITOKAZU
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Comitê Olímpico Internacional anunciou ontem que
realizará "recall" de todas as
5.000 amostras de sangue e urina colhidas em exames antidoping nos Jogos de Pequim.
A decisão foi motivada pela
descoberta feita na Volta da
França de ciclismo da substância dopante Cera (Ativador
Contínuo do Receptor de Eritropoietina, na sigla em inglês),
considerada a terceira geração
da EPO (eritropoietina).
Usada em doentes renais e
como substância dopante pelo
menos desde os Jogos de
Sydney-2000, a EPO estimula a
produção de glóbulos vermelhos, o que favorece a oxigenação sangüínea e, conseqüentemente, aumenta a resistência
física. O Cera, lançado pelo laboratório suíço Roche em 2007
contra anemia em paciente
com doença renal crônica, tem
os mesmos efeitos.
"O Cera tem a vantagem de
que é preciso injetá-lo menos
vezes", afirma Gérard Dine, especialista do Instituto de Biotecnologia de Troyes (França).
Segundo a gerente médica da
divisão de nefrologia da Roche
no Brasil, Anita Campos Mendonça Silva, é necessária a aplicação de uma dose mensal do
Mircera (nome comercial do
Cera) para obter os mesmo
efeitos de duas aplicações semanais da versão anterior.
Isso porque o efeito do Mircera se aproxima mais da fisiologia do organismo do que as
demais versões de EPO.
Uma das metas das pesquisas
laboratoriais é aproximar as
substâncias sintéticas dos hormônios produzidos pelo organismo, o que dificulta a detecção pelos testes antidoping.
O COI tomou a decisão de
reavaliar testes de Pequim após
os ciclistas Leonardo Piepoli
(ITA) e Stefan Schumacher
(ALE) serem flagrados com a
droga, graças a novo método
criado no mês passado e aplicado pelo laboratório francês
Chatenay-Malabry e o de Lausanne. Neste último, serão estocadas as amostras da Olimpíada, segundo Emmanuelle
Moreau, porta-voz do comitê.
A Roche informou que colaborou para o desenvolvimento
do método ao fornecer amostras e reagentes do Cera.
Piepoli era companheiro de
quarto de Ricardo Riccó, que
foi flagrado durante a Volta de
França -com Cera. Testes de
Piepoli na ocasião não encontraram nada. Mas, após a criação do método mais complexo,
combinando urina e sangue,
desenvolvido em conjunto pelos dois laboratórios, o atleta foi
flagrado em dois exames.
Pequim teve sete casos de doping (incluindo Rufus, cavalo
de Rodrigo Pessoa), bem abaixo
dos 26 de Atenas-2004. Agora o
COI espera que esse número
suba para 40. "Não faremos testes no escuro. Iremos olhar onde temos parâmetros para a
suspeita. Provas de resistência
despertam nosso interesse",
afirmou Arne Ljungqvist, chefe
da comissão médica do COI.
Além do Cera, o "recall" visa
detectar novas drogas.
A Agência Mundial Antidoping apoiou a ação. "Análises
retroativas terão efeito dissuasivo importante", disse o presidente da entidade, John Fahey.
O prazo de prescrição de casos no esporte é de oito anos.
Com agências internacionais
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