São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Terceira geração de droga força "recall" de doping olímpico

COI irá reavaliar amostras de Pequim para detectar o Cera, substância flagrada em método criado no mês passado

Após ciclista ser pego, união de laboratórios desvenda variante que está mais perto da fisiologia humana do que EPO e motiva ação de comitê


FERNANDO ITOKAZU
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Comitê Olímpico Internacional anunciou ontem que realizará "recall" de todas as 5.000 amostras de sangue e urina colhidas em exames antidoping nos Jogos de Pequim.
A decisão foi motivada pela descoberta feita na Volta da França de ciclismo da substância dopante Cera (Ativador Contínuo do Receptor de Eritropoietina, na sigla em inglês), considerada a terceira geração da EPO (eritropoietina).
Usada em doentes renais e como substância dopante pelo menos desde os Jogos de Sydney-2000, a EPO estimula a produção de glóbulos vermelhos, o que favorece a oxigenação sangüínea e, conseqüentemente, aumenta a resistência física. O Cera, lançado pelo laboratório suíço Roche em 2007 contra anemia em paciente com doença renal crônica, tem os mesmos efeitos.
"O Cera tem a vantagem de que é preciso injetá-lo menos vezes", afirma Gérard Dine, especialista do Instituto de Biotecnologia de Troyes (França).
Segundo a gerente médica da divisão de nefrologia da Roche no Brasil, Anita Campos Mendonça Silva, é necessária a aplicação de uma dose mensal do Mircera (nome comercial do Cera) para obter os mesmo efeitos de duas aplicações semanais da versão anterior.
Isso porque o efeito do Mircera se aproxima mais da fisiologia do organismo do que as demais versões de EPO.
Uma das metas das pesquisas laboratoriais é aproximar as substâncias sintéticas dos hormônios produzidos pelo organismo, o que dificulta a detecção pelos testes antidoping.
O COI tomou a decisão de reavaliar testes de Pequim após os ciclistas Leonardo Piepoli (ITA) e Stefan Schumacher (ALE) serem flagrados com a droga, graças a novo método criado no mês passado e aplicado pelo laboratório francês Chatenay-Malabry e o de Lausanne. Neste último, serão estocadas as amostras da Olimpíada, segundo Emmanuelle Moreau, porta-voz do comitê.
A Roche informou que colaborou para o desenvolvimento do método ao fornecer amostras e reagentes do Cera.
Piepoli era companheiro de quarto de Ricardo Riccó, que foi flagrado durante a Volta de França -com Cera. Testes de Piepoli na ocasião não encontraram nada. Mas, após a criação do método mais complexo, combinando urina e sangue, desenvolvido em conjunto pelos dois laboratórios, o atleta foi flagrado em dois exames.
Pequim teve sete casos de doping (incluindo Rufus, cavalo de Rodrigo Pessoa), bem abaixo dos 26 de Atenas-2004. Agora o COI espera que esse número suba para 40. "Não faremos testes no escuro. Iremos olhar onde temos parâmetros para a suspeita. Provas de resistência despertam nosso interesse", afirmou Arne Ljungqvist, chefe da comissão médica do COI.
Além do Cera, o "recall" visa detectar novas drogas.
A Agência Mundial Antidoping apoiou a ação. "Análises retroativas terão efeito dissuasivo importante", disse o presidente da entidade, John Fahey.
O prazo de prescrição de casos no esporte é de oito anos.


Com agências internacionais


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