São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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O PROFETA

"Ex-brasileiro" vê seleção no grupo errado

Técnico de Costa Rica acha que seria melhor para Brasil pegar rivais de peso logo de cara

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depende do ponto de vista. Festejado pela seleção como o mais fraco do Mundial, o grupo do Brasil pode virar um inferno. Havia quem achasse melhor pegar adversários de mais tradição. É o caso de Alexandre Guimarães, 42, brasileiro naturalizado costarriquenho, técnico do time da América Central adversário do Brasil no Grupo C.
Antes mesmo da realização do sorteio, indagado pela Folha sobre que chave consideraria ideal para a seleção, Guimarães -ou Guima, como é conhecido na Costa Rica- não titubeou. ""Um grupo forte seria o melhor. Com adversários de mais peso, como Inglaterra, Portugal ou Nigéria, o Brasil não entraria necessariamente como favorito, não teria tanta pressão e poderia surpreender positivamente."
Contra equipes menos experientes, como Turquia, Costa Rica e China, pode sofrer a ""síndrome das eliminatórias", diz Guimarães. ""Se vencer, não fez mais que a obrigação. Se perder, é o fim do mundo."
Na Costa Rica desde os 11 anos de idade -""meu pai era funcionário da Organização Pan-Americana de Saúde [e se instalou no país""-, o técnico queria ter seguido carreira no basquete, mas só deu certo nos gramados.
Nos anos 80, naturalizou-se costarriquenho para poder defender a seleção do país. ""Marquei [gol" nas eliminatórias de 86 e joguei na Copa da Itália [em 90, quando perdeu do Brasil"."
Após o torneio, lançou um livro sobre a experiência no Mundial, feito que está sendo repetido neste ano, pois lançará outra obra em dezembro, agora sobre seu trabalho como técnico.
Ex-auxiliar de Gilson Nunes na seleção costarriquenha, Guimarães assumiu o time no final do ano passado, antes da repescagem contra a Guatemala. Em julho, na Copa América, levou-o até as quartas-de-final, quando perdeu para o Uruguai.
Atuando no 3-3-3-1 (três zagueiros, uma segunda linha com três atletas, sendo um volante e dois alas, três meias e um atacante), adota sistema parecido com o do São Caetano, que também coloca um zagueiro no meio -Serginho- e só deixa um homem fixo no ataque -Magrão.
Mesmo assim, diz que nunca se inspirou no futebol brasileiro, apesar de admirá-lo bastante.
""São muitos anos de Costa Rica. Minha experiência de Brasil, em termos de futebol, é mais a de um observador à distância."
Confiante na classificação para a segunda fase, ele considera uma grande vantagem o tempo que terá para treinar a Costa Rica. ""Só temos um jogador [atuando" no futebol europeu. Como os chineses, temos facilidade para reunir o grupo e mais de três meses para afiná-lo", diz o costarriquenho, que tem em Bora Milutinovic, o técnico da China, seu ídolo no futebol.
""Quando iniciei a carreira de técnico [em 94", foi nos ensinamentos dele que me inspirei", disse, lembrando que, em 1990, foi o sérvio quem dirigiu o time da América Central na Copa.
Pelo jeito, será mais difícil para ele, em termos emocionais, ver Bora do outro lado, logo em seu jogo de estréia na Copa, do que o Brasil, o país em que nasceu.



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