São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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BOXE

Campeão dos pesados da AMB, que tem pais porto-riquenhos, crê que novos latinos podem ganhar o cinturão em breve

Para Ruiz, triunfo abre mercado a latinos

DA REPORTAGEM LOCAL

Assegurar que os latinos tenham mais oportunidades para lutar por títulos entre os pesos-pesados. Esse é um dos objetivos do campeão dos pesados da Associação Mundial de Boxe, John Ruiz, quando subir ao ringue pela terceira vez com Evander Holyfield no sábado, nos EUA.
Filho de porto-riquenhos, Ruiz, 29, nasceu em Massachusetts (EUA), mas cresceu na terra dos pais, mais precisamente em Sabana Grande, tornando-se o primeiro latino campeão da categoria máxima de peso ao derrotar, em março deste ano, na revanche, Evander Holyfield, por pontos.
Ruiz, apelidado de ""The Quiet Man" (""O Discreto"), tem 37 vitórias, 27 nocautes, e 4 derrotas.
Em entrevista à Folha, ele disse que sua conquista ""destrancou as portas para que mais latinos disputem o título dos pesados", o que resultaria em mais deles com cinturões. (EDUARDO OHATA)

Folha - Por que demorou tanto para um latino ser campeão dos pesados [o primeiro a tentar o título foi o argentino Luis Firpo, que perdeu por nocaute para Jack Dempsey em 1923"? Qual foi o erro dos que falharam nas últimas décadas?
John Ruiz -
Não os conheci, por isso prefiro não discutir esses casos especificamente, mas as chances aumentam com mais quantidade. Os latinos lutam pelo título só a cada quatro, cinco, seis, oito anos. O que gostaria de ver é um latino disputando um título por ano, [o que resultaria em" mais latinos campeões dos pesos-pesados. Isso ajudaria o esporte. Os latinos lutam com muita paixão, eles amam boxe. Eu, como eles, sempre dou 100% de mim.

Folha - Qual o impacto do fato de você ter conquistado o cinturão?
Ruiz -
Acho que destranquei as portas para que mais latinos subam de peso e invadam a divisão dos pesados. Todos estão acostumados a ver grandes latinos nas divisões leves, mas, ultimamente, na categoria máxima, um ou dois. Quero ver mais do que isso.

Folha - Alguns viram o fato de você dizer que é latino como um truque para promover seu combate.
Ruiz -
Sou latino, mesmo tendo nascido nos EUA. Não acho que realmente importa onde você nasceu, mas seu sangue, o que você sente em seu coração. Sempre disse que tenho orgulho disso. Definitivamente sou porto-riquenho, mi mama y mi papa [sic" nasceram em Porto Rico e eles decidiram imigrar para os EUA para ter uma vida melhor, acho. Acabei nascendo nos EUA. Mas sou 100% porto-riquenho, aquele lugar é um lar para mim. Cresci em Sabana Grande, tenho boas lembranças quando volto para lá, sempre me divertia com meus amigos, jogava beisebol.

Folha - Após ganhar o título, você e sua mãe passaram a enfatizar sua nacionalidade porto-riquenha, porque fizeram isso?
Ruiz -
Porque Don Félix Trinidad, pai de Félix ""Tito" Trinidad [ex-campeão mundial" estava espalhando que eu não era porto-riquenho. Por isso fizemos questão de afirmar às agências de notícias que somos porto-riquenhos.

Folha - O que você achou do fato de Don Félix ter dito que a Federação de Boxe de Porto Rico não deveria homenagear você?
Ruiz -
Fiquei triste. Trinidad é o empresário de outro pesado [Fres Oquendo" e talvez quisesse que ele fosse o primeiro. Ele é de Chicago, não? Então é estranho falar algo assim de mim, se o seu lutador é de Chicago.

Folha - O que você diz quando afirmam que você não seria campeão se não fosse a AMB destituir Lennox Lewis?
Ruiz -
Lewis perdeu o cinturão por não querer me enfrentar. Ele, segundo o regulamento, tinha a obrigação de enfrentar o desafiante obrigatório, e eu era o primeiro do ranking. Lewis só escolhe as lutas mais fáceis pelas maiores bolsas que pode obter. Sei que poderia vencer Lennox Lewis.

Folha - Qual sua avaliação sobre a derrota de Lewis para o azarão Hasim Rahman [apesar de ter recuperado o cinturão na revanche"?
Ruiz -
É uma vergonha, isso só prova que eu venceria Lewis.

Folha - Qual será o resultado de sua terceira luta com Holyfield?
Ruiz -
Desta vez será uma luta curta. Ele tentará me nocautear. Mas estou preparado, vou vencer em quatro assaltos. Não passa disso. Eles não vão estar disponíveis no futuro próximo, mas gostaria de pegar Lewis ou [Mike" Tyson.

Folha - Você acha que o fato de ser campeão fez o público esquecer o nocaute que sofreu para David Tua em 19 segundos?
Ruiz -
Para mim, será algo que sempre estará lá. As pessoas poderão esquecer, mas sempre me lembrarei disso. Estava pronto, mas ele me pegou logo no início da luta. A lembrança [desse combate" apenas me faz ficar mais concentrado para cada luta, pois não quero que isso se repita.

Folha - Você conhece Acelino Freitas, o Popó?
Ruiz -
Acho que é um boxeador, mas realmente não sigo o esporte de perto, prefiro dedicar o tempo livre à minha família.



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