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FUTEBOL
Diretas já!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Caro (e)leitor, caríssima
(e)leitora, eu vos pergunto: O
que Médici, Geisel, Figueiredo e
Mustafá Contursi têm em comum? E eu vos respondo: Todos
eles chegaram ao poder graças a
colégios eleitorais diminutos.
Os três generais foram eleitos
por meio do voto dos congressistas, numa eleição indireta. O
mesmo acontece com Mustafá,
que se re-re-re-re-reelegeu presidente do Palmeiras com os votos
de 177 lordes alviverdes. E as nações brasileira e palmeirense têm
milhões de pessoas, não apenas
umas poucas centenas.
Os pequenos colégios eleitorais
costumam ter, pelo menos, dois
problemas. O primeiro é sua baixa representatividade. O presidente de uma instituição, seja um
sindicato, um clube de futebol, ou
de um país, só é realmente representativo se todos os interessados
puderem escolher este presidente.
O segundo é a facilidade de se
corromper os poucos eleitores.
Quantos conselheiros (e deputados) não vendem seu voto por dinheiro, pelo autógrafo de um craque, por uma obra em sua cidade,
por uma vaga no estacionamento
do clube, por um cargo para uma
sobrinha ou por uma viagem com
todas as despesas pagas?
Esta idéia de apenas uma elite
ter direito ao voto não é nova. Ela
vem desde os primeiros dias da
república brasileira, quando havia o chamado "voto censitário".
Ou seja, só quem tivesse mais do
que uma determinada renda poderia votar.
Mas, mesmo depois do fim do
voto censitário e da ditadura, os
amantes do poder conseguiram
aprovar regras que os deixaram
mais tempo no trono. Sarney, por
exemplo, após ter herdado a presidência com a morte de Tancredo (também eleito indiretamente), conseguiu esticar seu mandato em mais um ano. E, para que o
Congresso apoiasse tal medida,
foi distribuído um bom número
de concessões de rádio e TV.
Tempos depois houve um novo
golpe legal: Fernando Henrique
conseguiu aprovar sua reeleição.
Como conseguiu isso, ainda não
se sabe direito. Ainda mais que
ele conseguiu brecar a CPI da
Corrupção.
Este tipo de golpe legal, ou legalizado, também chegou ao futebol. É mais ou menos o que fez
1-0-0 Dualib por estes dias no Corinthians. Mudou a data da eleição e ainda aumentou seu mandato de dois para três anos.
Assim como Palmeiras e Corinthians, diversas agremiações brasileiras ainda vivem na época do
voto censitário, ou seja, não sabem o que é democracia. Elas são
governadas por tiranos que mudam os estatutos dos clubes tantas vezes quantas forem necessárias. É claro que eles dizem fazer
isso pelo clube, mas poucos empobreceram durante a presidência.
A solução para tornar as eleições nos clubes mais democráticas seria que mais pessoas participassem da votação. Quando o número de votantes aumenta, fica
mais difícil, e mais caro, corromper-se o colégio eleitoral.
Em vez do atual modelo elitista,
poderíamos optar por uma forma
mais ampla, com a inclusão dos
sócios, pois eles pagam mensalidades e têm direito de decidir sobre o destino do clube que frequentam e financiam.
O ideal, aliás, seria contar com
o voto dos torcedores, já que são
uma espécie de acionistas do clube, pessoas que lotam os estádios,
fortalecem a marca, ajudam a
perpetuá-la e que, portanto, deveriam ser ouvidas na hora de decidir os rumos da agremiação.
Enfim: Diretas já!
1994
A volta de Parreira acena para uma seleção que se defende muito bem, troca passes
com frieza e espera pacientemente pela oportunidade de
gol. É um prêmio pelo conjunto da obra do Corinthians,
que foi, no fim das contas, o
mais eficiente time da temporada 2002, apesar de alguns
shows do São Paulo e embora
tenha perdido (rê!, rê!) a final
do Brasileiro para o Santos.
Justiça
Outra curiosidade na democracia clubística é que ela ainda não chegou à divisão do
poder em três partes independentes: legislativo, judiciário e executivo. Assim, o
conselho fiscal é eleito com os
presidentes, ou seja, não é
impossível que tenham olhos
míopes para alguns zeros. Isso é tão absurdo quanto um
prefeito escolher um juiz do
Tribunal de Contas ou um
presidente escolher o procurador-geral da União.
E-mail torero@uol.com.br
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