São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Diretas já!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caro (e)leitor, caríssima (e)leitora, eu vos pergunto: O que Médici, Geisel, Figueiredo e Mustafá Contursi têm em comum? E eu vos respondo: Todos eles chegaram ao poder graças a colégios eleitorais diminutos.
Os três generais foram eleitos por meio do voto dos congressistas, numa eleição indireta. O mesmo acontece com Mustafá, que se re-re-re-re-reelegeu presidente do Palmeiras com os votos de 177 lordes alviverdes. E as nações brasileira e palmeirense têm milhões de pessoas, não apenas umas poucas centenas.
Os pequenos colégios eleitorais costumam ter, pelo menos, dois problemas. O primeiro é sua baixa representatividade. O presidente de uma instituição, seja um sindicato, um clube de futebol, ou de um país, só é realmente representativo se todos os interessados puderem escolher este presidente.
O segundo é a facilidade de se corromper os poucos eleitores. Quantos conselheiros (e deputados) não vendem seu voto por dinheiro, pelo autógrafo de um craque, por uma obra em sua cidade, por uma vaga no estacionamento do clube, por um cargo para uma sobrinha ou por uma viagem com todas as despesas pagas?
Esta idéia de apenas uma elite ter direito ao voto não é nova. Ela vem desde os primeiros dias da república brasileira, quando havia o chamado "voto censitário". Ou seja, só quem tivesse mais do que uma determinada renda poderia votar.
Mas, mesmo depois do fim do voto censitário e da ditadura, os amantes do poder conseguiram aprovar regras que os deixaram mais tempo no trono. Sarney, por exemplo, após ter herdado a presidência com a morte de Tancredo (também eleito indiretamente), conseguiu esticar seu mandato em mais um ano. E, para que o Congresso apoiasse tal medida, foi distribuído um bom número de concessões de rádio e TV.
Tempos depois houve um novo golpe legal: Fernando Henrique conseguiu aprovar sua reeleição. Como conseguiu isso, ainda não se sabe direito. Ainda mais que ele conseguiu brecar a CPI da Corrupção.
Este tipo de golpe legal, ou legalizado, também chegou ao futebol. É mais ou menos o que fez 1-0-0 Dualib por estes dias no Corinthians. Mudou a data da eleição e ainda aumentou seu mandato de dois para três anos.
Assim como Palmeiras e Corinthians, diversas agremiações brasileiras ainda vivem na época do voto censitário, ou seja, não sabem o que é democracia. Elas são governadas por tiranos que mudam os estatutos dos clubes tantas vezes quantas forem necessárias. É claro que eles dizem fazer isso pelo clube, mas poucos empobreceram durante a presidência.
A solução para tornar as eleições nos clubes mais democráticas seria que mais pessoas participassem da votação. Quando o número de votantes aumenta, fica mais difícil, e mais caro, corromper-se o colégio eleitoral.
Em vez do atual modelo elitista, poderíamos optar por uma forma mais ampla, com a inclusão dos sócios, pois eles pagam mensalidades e têm direito de decidir sobre o destino do clube que frequentam e financiam.
O ideal, aliás, seria contar com o voto dos torcedores, já que são uma espécie de acionistas do clube, pessoas que lotam os estádios, fortalecem a marca, ajudam a perpetuá-la e que, portanto, deveriam ser ouvidas na hora de decidir os rumos da agremiação.
Enfim: Diretas já!

1994
A volta de Parreira acena para uma seleção que se defende muito bem, troca passes com frieza e espera pacientemente pela oportunidade de gol. É um prêmio pelo conjunto da obra do Corinthians, que foi, no fim das contas, o mais eficiente time da temporada 2002, apesar de alguns shows do São Paulo e embora tenha perdido (rê!, rê!) a final do Brasileiro para o Santos.

Justiça
Outra curiosidade na democracia clubística é que ela ainda não chegou à divisão do poder em três partes independentes: legislativo, judiciário e executivo. Assim, o conselho fiscal é eleito com os presidentes, ou seja, não é impossível que tenham olhos míopes para alguns zeros. Isso é tão absurdo quanto um prefeito escolher um juiz do Tribunal de Contas ou um presidente escolher o procurador-geral da União.

E-mail torero@uol.com.br


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