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FUTEBOL
Força que ergue e destrói
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Duas décadas atrás, um dos
últimos casarões da avenida
Paulista começou a ser destruído
da noite para o dia. O teto e a fachada foram arrancados e seu esqueleto ficou exposto como se fosse uma gigantesca casa de bonecas. Na parede do banheiro, com
seus azulejos brancos, alguém
protestou: "A força da grana que
ergue e destrói coisas belas"
("Sampa", de Caetano Veloso).
"A força da grana" foi a expressão que me ocorreu ao ler o Esporte de ontem (e evocou essa
imagem antiga). Impressionante
como o dinheiro -muito dinheiro- perpassa todo o noticiário
do futebol, enquanto dirigentes
querem continuar sendo "amadores" no pior e mais falso sentido
da palavra. Fortunas são transferidas enquanto clubes seguem no
buraco. E ainda há os que insistem no auto-elogio e na resistência fanática à profissionalização
dos departamentos de futebol.
Os clubes alegam falta de dinheiro para trazer reforços, reformar estádios e pagar dívidas. Mas
de Zurique vem a notícia de que
os 24 membros do Comitê Executivo da Fifa, que já tinham US$ 50
mil de salário, passarão a receber
US$ 100 mil e a contar com pensão vitalícia. Isso inclui Ricardo
Teixeira, presidente da CBF. Caetano Veloso outra vez: "Alguma
coisa está fora da ordem". O futebol é administrado por amadores,
os jogadores têm imensa dificuldade para fazer valer direitos básicos (como férias de 30 dias), os
clubes pedem ajuda ao governo
para tapar seus rombos, mas a alta cúpula tem dinheiro a rodo!
Mais grana: no Grêmio, um jogador de 16 anos (o meia Anderson) viu seu salário aumentar de
R$ 800 para R$ 40 mil para resistir ao assédio de empresários. A
preocupação procede, mas o que
será da cabeça do garoto?
Esse mesmo jogador pode ficar
até 97 dias longe do Grêmio por
causa da seleção sub-17. Ou seja,
o clube revela, investe, forma, remunera, e a CBF leva. CBF que
fatura milhões em patrocínio
vendendo o que não poderia lhe
pertencer, mas ela administra como propriedade privada: a imagem da seleção brasileira.
CBF que dificilmente perde
uma causa nos tribunais. Sua última eleição, em 2003, foi contestada judicialmente em Minas Gerais, mas a situação estaria "totalmente resolvida". A confederação admite que uma decisão de
primeiro grau que "sustou a eficácia do edital de convocação da
Assembléia" (que realizaria a
eleição). Mas a Assembléia aconteceu assim mesmo, re-reelegendo
Ricardo Teixeira. E o TJ de Minas
entendeu que, "em conseqüência
de já haver transcorrido e verificado a Assembléia e a eleição que
se pretendia impedir com o ajuizamento da ação, a pretensão estaria prejudicada, não mais sendo possível acatar-se a decisão recorrida que então determinara a
suspensão do pleito". Ou seja: por
decisão judicial, não era para a
eleição ter acontecido, mas já que
aconteceu, fica valendo. É isso?
O futebol e a "grana" que ele
movimenta têm poder de erguer e
destruir coisas belas. Um grande
desafio é fazer esse poder mudar
de mãos.
Por outro lado
Para não dizer que só tem desgraça: foi ótimo a CBF ter estabelecido que é a classificação no
Brasileiro que vai determinar
quem participa da Sul-Americana em 2006. É um ranking a
menos para se engolir como
"critério técnico", e o campeonato ganha um estímulo a mais.
Melhor do que isso, só se as
duas Copas continentais fossem simultâneas, e a Copa do
Brasil fosse disputada no segundo semestre (com os melhores do Brasileiro podendo
jogar também). Em vez do
campeão brasileiro estar nos
dois torneios internacionais,
disputaria só a Libertadores
-mas jogaria a Copa do Brasil.
Assombro
O que foi aquele segundo gol do
Ronaldinho?!
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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