Niko Kranjcar, filho do técnico, gera polêmica na imprensa croata, que o acusa de estar acima do peso, como Ronaldo

Jogador se recusa a falar sobre assunto, e técnico Zlatko fica contrariado ao ser questionado sobre a escalação de seu único filho

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BAD BRÜCKENAU

Difícil saber se é literal ou só trocadilho, mas o fato é que o jogo Brasil x Croácia, na terça, estréia dos times na Copa, terá um duelo de pesos-pesados.
De um lado Ronaldo, cuja massa corporal tornou-se quase uma questão de Estado após os comentários do presidente da República. Do outro Niko Kranjcar, 21 anos, filho do técnico da equipe, Zlatko Kranjcar. É um meia habilidoso, amado por metade da Croácia e contestado por outra. Entre estes últimos, a queixa principal é que Niko é lento e pouco ágil, entre outras coisas por estar acima do peso.
Os que acham que se trata de um típico caso de nepotismo esportivo -como o Otto Baric, antecessor do atual treinador- até admitem que Kranjcar filho tem talento, mas não o suficiente para ser titular.
As críticas cresceram após a fraca atuação do meia nos amistosos preparatórios do time, especialmente no empate em 2 a 2 com o Irã em maio, quando foi vaiado pela torcida.
"Estou entre os muitos croatas que acham que Niko Kranjcar está acima do peso. Basta olhar para ele, veja você mesmo, está gordo", disse à reportagem, no treino da Croácia em Bad Brückenau, o jornalista Davorin Olivari, repórter do diário "Sportske Novosti".
Assim como Ronaldo, Niko não parece gordo à primeira vista, mas está longe de ser magro. O que dá força à tese dos críticos é sua vagareza em campo -é daqueles meio-campistas de toque refinado que intercalam flashes de alta técnica com longa sonolência.
Outra semelhança com o colega brasileiro é a forma com que ele lida com a polêmica. De acordo com a mídia croata, o meia esquiva-se do assunto e se irrita se alguém o aborda, mas sem nunca dizer qual o seu peso verdadeiro. Segundo dados oficiais da federação croata, mede 1,85 m e pesa 80 kg. De perto, parece ser mais baixo.
No esquema 3-4-1-2 da Croácia, Niko Kranjcar é o "1", o elo meio-campo/ataque. Divide as honras de craque com o atacante Prso e o meia Niko Kovac.
Ex-jogador da seleção da extinta Iugoslávia, o pai-técnico defende o único filho homem com afinco. Em entrevista coletiva ontem, Zlatko Kranjcar gastou mais de cinco minutos, sua intervenção mais longa, para responder a uma questão da Folha sobre as críticas de que ele é titular pelo parentesco.
Falando em croata, e com os olhos fixos num ponto perdido da sala, como buscando se controlar, lembrou que Niko foi destaque em todas as seleções de base de seu país, sempre como prodígio.
"Não é um erro meu, não tenho culpa de ele ser meu filho e saber jogar bem futebol. Aqui temos uma relação técnico-jogador, e não pai-filho."
O treinador disse que houve uma comoção nacional quando Otto Baric não convocou o jovem meia para a Eurocopa-2004 e provocou o repórter.
Quando o intérprete que traduzia simultaneamente a entrevista para o inglês avisou que iria resumir a resposta, dada a sua longa duração, Zlatko Kranjcar o interrompeu. "Não, eu quero que você traduza tudo, ponto por ponto, para que ele gaste muita tinta da caneta com isso, como muitos jornalistas croatas já gastaram."
O intérprete atendeu só parcialmente o pedido, já que não traduziu a ironia do técnico -o repórter só tomaria conhecimento dela mais tarde, com o auxílio de outros jornalistas.


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