São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Clóvis Rossi

Nada inolvidável

SANTIAGO Segurola, editor de Esportes do jornal espanhol "El País", extraordinário cronista de impecável texto, definia o resultado da Copa do Mundo na edição de ontem, antes, portanto, da partida final: "Nem França nem Itália passarão à história pelo intrépido de seu jogo. Não se converterão em seleções inolvidáveis".
Perfeito. O jogo final, a prorrogação e, como se fosse pouco, os pênaltis não alteram minimamente o veredicto. É verdade que Segurola parece saudosista de um futebol-arte que tantos esperamos ver de volta algum dia, mas que nunca (ou raramente) aparece nos Mundiais.
Tanto que ele comenta o paradoxo de que, "na etapa de maior desenvolvimento midiático e econômico do futebol, cada vez são menos os jogadores capazes de parecer-se a Zidane".
Não sei, não. O problema talvez esteja mais no Mundial do que no futebol propriamente dito. A concentração das atenções sobre os atletas, o formato de grupos eliminatórios seguidos de mata-mata, a época (final da temporada européia, da qual participam os principais atores), tudo isso leva a partidas/ seleções "esquecíveis".
Nos clubes, nos torneios nacionais ou regionais, não é bem assim. Ronaldinho Gaúcho do Barcelona é uma coisa, bem melhor que o Ronaldinho Gaúcho da seleção. Thierry Henry fez, pelo Arsenal, jogo "inolvidável" contra o Real Madrid, em pleno Bernabéu, na Copa dos Campeões.
Acresce que as seleções, na Copa, parecem chamadas a redimir pecados extracampo. Para ficar só nas finalistas: a Itália deveria apagar a mancha do escândalo de manipulação de resultados, enquanto a França carregava o peso de resgatar o "declinismo" que invade a alma dos franceses, para usar neologismo do próprio presidente Jacques Chirac.
Michel Platini, o grande ídolo francês até aparecer Zidane, dizia outro dia que em sua época (anos 80) havia só um jornalista a postos para ouvi-lo. Agora, há considerável multidão. Cria-se uma expectativa muito acima da capacidade de os jogadores/seleções atenderem-na. A cada Copa fica, inexoravelmente, a sensação de que se destina ao esquecimento, exceto para a vencedora. Natural que o Mundial da Alemanha deixe o mesmo sabor. Até ao menos as eliminatórias para 2010.


crossi@uol.com.br

Texto Anterior: Pilares da equipe fracassam na decisão
Próximo Texto: "Caos" nos ingressos atinge até a final
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.