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Clóvis Rossi
Nada inolvidável
SANTIAGO Segurola,
editor de Esportes do
jornal espanhol "El
País", extraordinário cronista de impecável texto,
definia o resultado da Copa
do Mundo na edição de ontem, antes, portanto, da
partida final: "Nem França
nem Itália passarão à história pelo intrépido de seu
jogo. Não se converterão
em seleções inolvidáveis".
Perfeito. O jogo final, a
prorrogação e, como se fosse pouco, os pênaltis não
alteram minimamente o
veredicto. É verdade que
Segurola parece saudosista
de um futebol-arte que
tantos esperamos ver de
volta algum dia, mas que
nunca (ou raramente) aparece nos Mundiais.
Tanto que ele comenta o
paradoxo de que, "na etapa
de maior desenvolvimento
midiático e econômico do
futebol, cada vez são menos os jogadores capazes
de parecer-se a Zidane".
Não sei, não. O problema
talvez esteja mais no Mundial do que no futebol propriamente dito. A concentração das atenções sobre
os atletas, o formato de
grupos eliminatórios seguidos de mata-mata, a
época (final da temporada
européia, da qual participam os principais atores),
tudo isso leva a partidas/
seleções "esquecíveis".
Nos clubes, nos torneios
nacionais ou regionais, não
é bem assim. Ronaldinho
Gaúcho do Barcelona é
uma coisa, bem melhor que
o Ronaldinho Gaúcho da
seleção. Thierry Henry fez,
pelo Arsenal, jogo "inolvidável" contra o Real Madrid, em pleno Bernabéu,
na Copa dos Campeões.
Acresce que as seleções,
na Copa, parecem chamadas a redimir pecados extracampo. Para ficar só nas
finalistas: a Itália deveria
apagar a mancha do escândalo de manipulação de resultados, enquanto a França carregava o peso de resgatar o "declinismo" que
invade a alma dos franceses, para usar neologismo
do próprio presidente Jacques Chirac.
Michel Platini, o grande
ídolo francês até aparecer
Zidane, dizia outro dia que
em sua época (anos 80) havia só um jornalista a postos para ouvi-lo. Agora, há
considerável multidão.
Cria-se uma expectativa
muito acima da capacidade
de os jogadores/seleções
atenderem-na. A cada Copa fica, inexoravelmente, a
sensação de que se destina
ao esquecimento, exceto
para a vencedora. Natural
que o Mundial da Alemanha deixe o mesmo sabor.
Até ao menos as eliminatórias para 2010.
crossi@uol.com.br
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