São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Os verdadeiros melhores do ano

RODRIGO BUENO
COLUNISTA DA FOLHA

B atram Suri, Commins Menapi, Henry Fa'arodo, Paul Kakai, Mahlon Houkarawa... Nenhum deles concorre ao prêmio de melhor jogador da temporada, mas todos já ganharam o ano, a vida. Os heróis das Ilhas Salomão podem ter apanhado feio ontem (a coluna é escrita na sexta-feira), mas nada irá apagar o que eles fizeram na trilha da Copa de 2006.
Quando a disputa na Alemanha começar daqui a dois anos, quase ninguém lembrará que a Nova Zelândia foi eliminada por um amontoado de ilhas (quase mil), que um quase desconhecido país (?) colocou em perigo a Austrália em sua casa e esteve a ponto de desafiar o quinto colocado da América do Sul nas eliminatórias. Na terça, em Sydney, as Ilhas Salomão poderão (não contem com isso) beliscar até uma vaga na Copa das Confederações, torneio no qual enfrentariam Alemanha, Argentina ou até o Brasil.
E a situação não é só fantástica do ponto de vista esportivo. Muito mais que isso. Há aproximadamente um ano as Ilhas Salomão estavam financeiramente e socialmente quebradas e sofriam com uma guerra civil, recebendo soldados australianos, não jogadores do "gigante oceânico". Ontem, um playoff final histórico com a Austrália valendo o continente começaria na capital Honiara (a disputa para chegar à repescagem do Mundial será um outro playoff no ano que vem). "É inacreditável. Todo mundo está maluco. É o maior momento da história das Ilhas Salomão", diz o presidente da federação local, Matthew Kausime. "O futebol tem sido sempre um fator de unificação", afirma Allan Gillet, técnico do time.
As Ilhas Salomão têm um diferencial interessante em relação a todas às nações vizinhas: vê o futebol, e não o rúgbi, como seu esporte nacional oficialmente. Nos anos 50, a febre da bola começou por lá. Na década de 60, surgiram disputas anuais. E, nos anos 70, os primeiros bons resultados regionais. A paixão dos filhos de Salomão pelo futebol (uma "religião" no local, segundo relatos) incentivou a criação até de federações vizinhas, como as de Papua-Nova Guiné e Vanuatu. Hoje o esporte é praticado em todas as escolas do simpático arquipélago, um potencial celeiro de craques da região com o futebol menos desenvolvido do planeta.
Quase todos os cerca de 500 mil habitantes saíram às ruas para festejar o épico 2 a 2 em plena Adelaide com a Austrália, resultado que deixou o time na decisão continental. Nada de 13 a 0 ou coisa do tipo em campo. Nada de guerra civil. O povo celebrou a classificação unido, cantando o hino do país, e saudou os heróis dias depois em um desfile digno do campeão mundial.
Um horizonte tão diferente quanto imenso se abriu para as Ilhas Salomão, cuja seleção não tem patrocinador, cujos uniformes têm que ser comprados e cuja maioria dos atletas vê ainda o amadorismo.
Enquanto o mundo venera de novo Ronaldinho, Henry, Ronaldo, Zidane, Roberto Carlos e Beckham, a coluna celebra, neste momento e neste ano, Maemae, Omokirio, Samani, Leo, Waita...

As minas
As Ilhas Salomão figuram na 125ª posição no ranking da Fifa. Dentre os países com ilhas no nome, é o mais destacado. As Ilhas Faroë, que jogam na Europa, estão em 135º lugar. Ilhas Virgens (180º), Ilhas Cook (190º) e Ilhas Virgens Norte-Americanas (199º) estão atrás.

Os manos
O estádio Lawson Tama, em Honiara, tem capacidade para 20 mil pessoas e gramado novo. "As Ilhas Salomão são ótimo lugar para ir e jogar", afirma Allan Gillett, o técnico inglês da equipe.

Os manos e as minas
Na eleição de melhor da Fifa, destacaram muitos brasucas, mas Henry é nome fortíssimo. Nas minas, Marta está firme na parada.
E-mail rbueno@folhasp.com.br

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