São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
Estudo da defesa vê falha em cálculo de CPI, segundo o qual o técnico teria de justificar entradas de R$ 18,8 milhões
Luxemburgo contesta cifras do Senado

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

Wanderley Luxemburgo começou a se mexer.
Depois de ter dito, em depoimento à CPI do Futebol, não ter a menor possibilidade de explicar depósitos de aproximadamente R$ 10,32 milhões não declarados ao Fisco, ele começa a contestar as cifras apresentadas pelo Senado.
A Folha apurou que assessores do treinador, além de terem lhe recomendado a contratação da Price Waterhouse para analisar sua movimentação bancária, têm em mãos números diferentes dos apresentados pelo senador Geraldo Althoff (PFL-SC).
Relator da CPI do Futebol, Althoff disse que o ex-técnico da seleção recebeu, entre 1995 e 1999, R$ 18,82 milhões, dos quais R$ 4,6 milhões em dinheiro vivo. Luxemburgo, no entanto, só teria declarado R$ 8,5 milhões.
Mas sua defesa vê erros nos cálculos da equipe de Althoff.
Um escritório paulista especializado em direito tributário está com um relatório em mãos, que será encaminhado a Michel Assef e Marcos Malucelli, advogados do treinador, segundo o qual as entradas nas contas de Luxemburgo somaram R$ 12,62 milhões -e não R$ 18,82 milhões.
Haveria, portanto, uma diferença de R$ 6,2 milhões em relação às cifras citadas por Althoff durante depoimento do ex-técnico da seleção, em 30 de novembro.
Se os dados do treinador estiverem corretos, ele teria de explicar a origem de R$ 4,12 milhões, e não mais de R$ 10,32 milhões.
Procurada pela Folha, a assessoria de Geraldo Althoff diz que não houve erros nos cálculos exibidos durante o depoimento.
O técnico teria recebido R$ 1,50 milhão em 1995, R$ 2,51 milhões em 1996, R$ 3,05 milhões em 1997, R$ 5,8 milhões em 1998 e R$ 5,96 milhões no ano passado. Assim sendo, o total das entradas chegaria a R$ 18,82 milhões.
Mas a defesa do treinador não concorda. Por quê? Nos cálculos do Senado, argumenta, foram desconsideradas as saídas de suas contas, bem como empréstimos feitos pelo treinador e transferências de dinheiro entre ele, a mulher Josefa e as três filhas do casal.
Como Luxemburgo emprestaria dinheiro a muita gente, as entradas teriam sido ""infladas" no cálculo do Senado.
E sua defesa dá até um exemplo: ao receber pagamento de R$ 80 mil do Excel, banco que patrocinava o Corinthians, o técnico pode ter feito um empréstimo no mesmo valor para um amigo. Ao receber os mesmos R$ 80 mil de volta, teria entradas totalizando R$ 160 mil -R$ 80 mil do Excel mais R$ 80 mil de devolução do empréstimo-, quando, na verdade, seu rendimento foi de apenas metade.
Outro argumento a ser apresentado é que parte das aplicações de Luxemburgo estaria em nome de sua mulher. Quando ela tirava o dinheiro aplicado e o transferia para a conta do marido, o valor era considerado como entrada.
Não bastaria, portanto, tirar fora dos cálculos apenas as transferências feitas entre as contas do próprio treinador, mas também outras com as de sua mulher e as das três filhas do casal.
Tirando o que diz ter recebido com devolução de empréstimos e transferências recebidas da mulher e das filhas, as entradas não explicadas cairiam para R$ 12,62 milhões. O relatório preliminar da defesa indica que elas totalizam R$ 970 mil em 1995, R$ 1,46 milhão em 1996, R$ 1,25 milhão em 1997, R$ 4,21 milhões em 1998 e R$ 4,73 milhões no ano passado.
Apesar de mais baixo do que as cifras do Senado, os novos números em mãos do treinador ainda assustam sua defesa. Poderiam aumentar substancialmente a dívida de Luxemburgo com a Receita Federal -atualmente está na casa de R$ 1,4 milhão.
Por isso, eles só deverão ser tornados públicos depois de analisados pela Price. E, mais do que isso, após o treinador apresentar explicações para, auxiliado por seus advogados, justificar sua vida fiscal nos últimos cinco anos.



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