São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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FUTEBOL

Decisões estaduais expõem geração de novatos no comando dos clubes

Técnicos calouros correm atrás de batismo nas finais

LUÍS FERRARI
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

São Caetano e Paulista, finalistas em São Paulo, quebraram a monotonia de finais repetitivas nos estaduais. Por outro lado, Rio, Minas e Bahia assistem hoje a partidas que opõem adversários acostumados a decidir competições locais: Flamengo e Vasco, Atlético-MG e Cruzeiro e Bahia e Vitória, respectivamente.
O ponto em comum entre a decisão paulista no Pacaembu e as finais dos outros Estados estará sentado no banco de reservas.
Todos os oito técnicos desses quatro jogos duelam pelo seu primeiro título "caseiro" dentro de seu respectivo Estado.
No Rio, o rubro-negro Abel Braga e o vascaíno Geninho se enfrentam a partir de hoje pelo direito de dar a sua volta olímpica inaugural no Maracanã.
Já em São Paulo, o recém-lançado treinador Zetti almeja sua primeira taça do currículo contra Muricy Ramalho, que já brilhou no Sul, mas busca agora o primeiro triunfo no futebol que o consagrou como jogador nos anos 70.
A história se repete em Minas Gerais e na Bahia: o atleticano Paulo Bonamigo e Paulo César Gusmão, do Cruzeiro, também chegam à decisão de um Campeonato Mineiro pela primeira vez. Enquanto isso, Oswaldo Alvarez, pelo Bahia, tenta levar a melhor sobre o Vitória do estreante treinador Agnaldo Liz.
A lista aumenta se for incluído o Campeonato Goiano, que tem no ex-atacante Evair o treinador que pode dar o título local ao Vila Nova, e ainda Mário Sérgio, que busca o primeiro título no Paranaense com o Atlético.
Essa coincidência encontra justificativa na pindaíba dos clubes.
A falta de dinheiro tornou proibitivos salários como os R$ 150 mil mensais que o Cruzeiro pagava a Wanderley Luxemburgo, técnico que mais vezes conquistou o título do Campeonato Brasileiro (quatro troféus) e que está atualmente desempregado.
No futebol de hoje, a política do bom e barato avançou também sobre as comissões técnicas.
"Os salários dos treinadores mais famosos se tornaram muito caros para a situação atual dos clubes. Com essa mudança no mercado, os técnicos mais tarimbados abriram uma lacuna, que está sendo bem aproveitada por uma nova geração nos bancos", afirma o técnico do Vitória, Agnaldo Liz, 32, finalista do primeiro campeonato em que dirigiu uma equipe profissional.
Assim como o ex-zagueiro que comanda o time baiano, Evair, ex-atacante do Palmeiras e técnico do Vila Nova, acredita que a mudança no mercado precipitou a renovação das comissões técnicas dos clubes.
"Mas não é o único fator. Além de procurar por treinadores mais baratos, os clubes privilegiam aqueles que tiveram um histórico como atletas", opina o finalista do Campeonato Goiano, para quem a nova geração beneficia o futebol com a introdução de formações táticas mais ousadas.
Para Paulo César Gusmão, a redução dos gastos originou o espaço para que novos treinadores surgissem nos principais clubes.
"Os times grandes querem técnicos consagrados, mas não podem mais pagar salários altíssimos. Assim, o treinador que mostrar um bom trabalho nos clubes menores logo terá sua chance nas principais equipes do país. Hoje, existe céu para todo mundo", afirma o técnico cruzeirense, que sucedeu Luxemburgo no comando do campeão brasileiro.
A falta de dinheiro afetou até mesmo treinadores mais rodados, como Geninho. Após deixar o Corinthians, o treinador acabou aportando no combalido futebol carioca. "O Vasco estava em crise, mas vem se acertando. Os salários estão quase em dia", declara.
Abel Braga, que já foi campeão no Paraná e em Pernambuco, é outro que convive com o atraso salarial no Flamengo. "O Flamengo está tentando equilibrar a situação financeira. Esse cenário é geral. Agora temos de superar isso para buscar o título carioca", diz o treinador, que no ano passado chegou a passar até três meses sem receber da Ponte Preta.


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