São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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Fortalecimento de sindicato patronal da bola e falta de nome de consenso para sucedê-lo no Parque Antarctica motivam dirigente a comandar pela 7ª vez o Palmeiras

Mustafá esquece promessa e já articula novo mandato

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Depois de afirmar e reafirmar que deixaria a presidência do Palmeiras antes do fim de seu atual mandato, o sexto seguido, Mustafá Contursi, 63, costura nos bastidores nova candidatura nas eleições do clube, em janeiro de 2005.
O assunto ainda é tratado com reserva no Parque Antarctica porque ninguém quer desmentir o cartola, que desde a final da Série B, em novembro de 2003, diz que está contando os dias para passar o bastão que carrega desde 1993.
A Folha conversou com quatro homens do círculo íntimo de Mustafá no Palmeiras, que pediram para não ser identificados para não entrarem em atrito com o dirigente. Foram unânimes em dizer que o plano do cartola é tentar o sétimo mandato e, com ele, dar projeção ao Sindafebol, o sindicato patronal da bola.
A avaliação geral é que, no comando de um dos clubes mais influentes do país, Mustafá tem mais condições de transformar o Sindafebol, do qual também é presidente, em uma associação de relevo nos debates do esporte.
O plano geral está traçado. Quando as eleições do início do ano que vem estiverem mais próximas, Mustafá deverá fazer um pronunciamento anunciando oficialmente que não apoiará ninguém à sua sucessão.
Como nenhum nome aparece como consenso, pelo menos por enquanto, o atual presidente seria pressionado por seus pares a "fazer um sacrifício" pela manutenção da união no Parque Antarctica. A estratégia já foi utilizada após a mudança do estatuto do clube em 1995 e também por Eduardo José Farah, quando o ex-dirigente presidia a Federação Paulista (1988-2003).
Na eleição anterior, em que teve o economista Luiz Gonzaga Belluzzo como opositor, Mustafá desistiu de sair após o rebaixamento do clube à segunda divisão, em novembro de 2002. Sua bandeira de campanha foi "Fiz cair, vou fazer subir".
O primeiro ato público em favor da permanência de Mustafá deve acontecer no banquete do 90º aniversário do Palmeiras, em agosto. A intenção dos correligionários do presidente é fazer circular pela festa um abaixo-assinado para conseguir a adesão dos conselheiros ao manifesto.
Publicamente, Mustafá diz que não está em seus planos seguir no clube, fórmula que já utilizou anteriormente. "Fizemos uma lista com 15 nomes capazes de gerir bem o Palmeiras. Não tenho a intenção de ficar mais. Quando a gente começa a contar histórias da nossa gestão, está na hora de sair. Quero dar a minha contribuição como conselheiro vitalício", afirmou ontem o cartola, que, quando questionado pela reportagem sobre o assunto, declarou que não falaria sobre política para não "agitar o ambiente".
A Folha apurou, no entanto, que Mustafá tem se queixado a interlocutores da falta de um nome de consenso para administrar o clube. Aparentemente, não vê nenhum de seus quatro vices com com cacife para não rachar sua base de sustentação.
Affonso Della Monica, primeiro-vice e sucessor natural, é visto com reservas no Conselho Deliberativo. José Cyrillo Jr., Luiz Carlos Pagnotta e Luiz Augusto Belluzzo, irmão do candidato derrotado em 2003, não teriam "densidade eleitoral", nas palavras de um alto funcionário do clube.
Alguns dos aliados mais próximos do presidente foram sondados para integrar a chapa da situação. Existe a possibilidade de pelo menos um dos atuais vices não ser contemplado. O novo nome poderia ser trabalhado por Mustafá para ser seu sucessor em 2007.
Teoricamente, o presidente poderia ficar no clube até janeiro de 2009. Aprovado no início do ano, o novo estatuto palmeirense, que aumentou os poderes de Mustafá no combate à oposição interna, permite duas eleições. Mas o primeiro mandato só seria contado no biênio 2005-2007.
A oposição, que teve 20% dos votos no último pleito, não acredita nas palavras de Mustafá. "Toda eleição ele diz que vai embora, mas continua aí. Não é a primeira vez, é a terceira ou a quarta", declarou o conselheiro Seraphim Del Grande, um dos líderes da oposição palmeirense.
Ele, que foi vice de Mustafá no dois primeiros mandatos e rompeu com o cartola após não ver cumprida a promessa de ser seu sucessor, propõe uma terceira via para a pacificação no clube. "Até apoiaríamos outro candidato. Nossa bandeira é a renovação. O clube está envelhecido."



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