São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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BOXE

O que vai, volta

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O semblante de Oscar de la Hoya depois do combate de sábado contou toda a história.
Os três jurados, Paul Smith, Dave Moretti e Michael Glienna, foram unânimes em favor de De la Hoya. O cinturão de campeão dos médios da OMB foi colocado ao redor da cintura do americano.
A feição de De la Hoya, bastante séria, permaneceu inalterada depois do combate, durante e após o anúncio de que havia vencido Felix Sturm, tornando-se o primeiro a ganhar cinturões em seis categorias distintas de peso.
Os risos ficaram por conta de Joel, pai de De la Hoya, que, ao ouvir o anunciador de ringue Michael Buffer dizer que seu filho era ""o novo campeão", tentou animá-lo. Sem efeito visível.
Mas não foi o caso de Sturm ter impressionado. Não fez nada demais, só o feijão-com-arroz. Porém De la Hoya fez menos ainda.
Os golpes do norte-americano freqüentemente paravam na guarda, sempre alta, do alemão.
De la Hoya buscou trabalhar a zona de cintura de Sturm. Entretanto seus golpes, bastante abertos, careciam de precisão -e potência. Além disso, tampouco contragolpeava com eficiência.
Aliás, ironicamente, apesar de Sturm ser o médio (limite de 72,5 kg) natural e de De la Hoya ter subido desde a categoria dos superpenas (até 58,9 kg), fisicamente o ""Garoto de Ouro" parecia ser o mais robusto dos dois. O alemão mostrou-se mais veloz.
Juntos, esses fatores produziram a vantagem, ao menos estatística, de Sturm (mas é bom lembrar que as estatísticas são apenas um instrumento, não ""a" resposta).
Segundo o levantamento da empresa especializada em contagem de golpes Compubox, que analisou o combate para a HBO norte-americana, De la Hoya conectou 188 de 792 socos lançados (58 jabs e 130 golpes potentes) -com aproveitamento de 24%.
O alemão conectou 234 socos (112 jabs e 122 golpes potentes) em um total de 541 tentativas, atingindo aproveitamento de 52%.
Minha contagem ficou de acordo com o indicado pelo semblante de De la Hoya. Para mim ele venceu apenas 3 de 12 assaltos.
Fica difícil entender como os jurados viram (e deram) vitória de De la Hoya por 115 a 113, senão para manter viva a milionária unificação de títulos com seu compatriota Bernard Hopkins, dono dos cinturões de CMB, AMB e FIB, marcada para setembro.
De la Hoya e seu promotor, Bob Arum, protestaram, xingaram e pediram investigações federais depois de derrotas discutíveis para Félix Trinidad e Shane Mosley.
Será que farão o mesmo agora?

Muito se falou do fato de De la Hoya ter sido o primeiro pugilista a ganhar títulos em seis categorias distintas de peso. Mas para fazê-lo precisou de três cinturões da OMB (superpenas, leves e médios), que não levam o mesmo peso daqueles de CMB, AMB e FIB.
Nessa mesma linha, faz-se agora Carnaval em torno do fato de que o vencedor de De la Hoya x Hopkins será o primeiro a unificar os quatro títulos ""mundiais" em qualquer categoria de peso.
Mas qual a importância disso?

Popó 1
O promotor das lutas de Popó, o norte-americano Arthur Pelullo, acerta contratação polêmica. Trata-se de Anthony Mundine, ex-campeão dos supermédios pela AMB. O australiano ganhou notoriedade internacional quando frases suas foram interpretadas como sendo pró-terror, em 2001, logo após os ataques terroristas de 11 de setembro. Afirmou que "foi a América que provocou os ataques terroristas". Por conta disso foi retirado do ranking do CMB, além de ter se tornado alvo de insultos de parte da mídia norte-americana.

Popó 2
Trata-se de mais um passo do promotor de Popó rumo à internacionalização. No mês passado, Pelullo já havia assinado com o tailandês Yodsanan Nanathachai, campeão superpena pela AMB.

E-mail: eohata@folhasp.com.br


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