São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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TOSTÃO

Complexo de grandeza


Antes, prevalecia o complexo de vira-lata. Agora, é tão ou mais forte o complexo de grandeza


Neste domingo, os quatro primeiros colocados jogam fora. Não será surpresa se todos perderem. O campeonato ficaria mais indefinido.
Uma das deliciosas expressões criadas por Nelson Rodrigues é o complexo de vira-lata para falar do sentimento de inferioridade do brasileiro diante do mundo, no futebol e em outros setores.
O complexo de vira-lata continua presente. Porém existe hoje, bastante forte, o sentimento oposto, o complexo de grandeza.
Sentimentos, hábitos e movimentos sociais opostos costumam ocorrer em paralelo. A história mostra isso. Além disso, somos todos ambivalentes e contraditórios.
Apesar de tanta corrupção, violência, graves problemas de saúde pública, de educação, de transporte e de saneamento básico, existe hoje uma euforia, um sentimento de grandeza, em parte da sociedade, como se o Brasil estivesse uma maravilha e muitos outros países, falidos.
No futebol, ouço, com frequência, que o Brasileirão está espetacular, cheio de craques, que Neymar já é tão bom quanto Messi e que o jogador brasileiro não precisa mais jogar em um dos grandes clubes da Europa.
Mesmo com muitas dívidas, os clubes do país gastam fortunas para pagar salários e contratar jogadores. São os novos ricos.
Enquanto isso, a média de público é baixíssima, há muitos péssimos gramados, excessivas jogadas aéreas, muita correria, chutões para se livrar da bola, a seleção não consegue ganhar de fortes adversários e, no ano anterior, não houve nenhum jogador brasileiro entre os melhores do mundo.
Após a recente derrota para a Alemanha, escrevi que, em 1968, o Brasil levou um baile dos alemães e, dois anos depois, na Copa de 1970, encantou o mundo. Apenas relatei o fato.
Não quis ser otimista. Tenho apenas esperanças.
Era uma situação também diferente. Em 1968, além de Pelé, ausente nesse amistoso, Gerson, Rivellino, Carlos Alberto e Jairzinho já eram craques, prontos. O problema era coletivo. Agora, ao contrário do que dizem, é mais individual.
A apressada imprensa brasileira descobre um craque a cada semana. Acaba frustrada.
Com frequência, elegem um novo grande time, e um novo jogador é pedido na seleção. Criticaram a ausência de Thiago Neves. Agora, criticam sua presença no time dos que atuam no Brasil.
Os apressados, os otimistas sem senso crítico e a turma do oba-oba estão eufóricos. O comple-xo de grandeza é, hoje, tão ou mais forte que o de vira-lata.


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