São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Virar o fio

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Sem forçar muito, alternando momentos de brilho com períodos de inércia, o Brasil passou fácil pela Venezuela.
Mesmo assim, acabamos tomando, numa só partida, o mesmo número de gols que os venezuelanos haviam marcado contra nós nas 15 anteriores. Isso mostra, a meu ver, duas coisas: que a Venezuela evoluiu bastante nos últimos tempos e que o Brasil deu uma relaxada em seu sistema defensivo no jogo de sábado.
Nada que possa tirar o sono do torcedor ou de Parreira. As seleções do Brasil e da Argentina são tão superiores às demais do continente que só uma grande zebra, ou uma série delas, poderá tirar as duas da próxima Copa.
Talvez seja bobagem minha, mas o perigo que vejo, paradoxalmente, é o de que as eliminatórias sejam fáceis demais.
Basta ver o que aconteceu com a Argentina na Copa-2002. O time de Bielsa teve campanha espetacular nas eliminatórias e chegou à Ásia como um dos favoritos ao título. Acabou caindo fora na primeira fase. ""Virou o fio" antes da hora, como se costuma dizer.
O Brasil, ao contrário, chegou à última Copa aos trancos e barrancos, depois de campanha dramática nas eliminatórias, em que queimou dezenas de jogadores e três técnicos. E ficou com o título.
Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, a seleção brasileira também passou por maus bocados, classificou-se no final e acabou campeã do mundo.
Não estou dizendo, obviamente, que fazer uma má campanha eliminatória garanta uma boa Copa -e vice-versa. (Em 1969, por exemplo, o Brasil venceu todas as partidas das eliminatórias e repetiu a dose no ano seguinte no México, conquistando o tri.) Mas um pouco daquela tensão, daquela adrenalina que acaba por unir um grupo em torno de um objetivo, talvez seja essencial.
Voltando à goleada de sábado: o primeiro gol, marcado por Kaká, foi um daqueles lances que valem por um nocaute. A jogada, tão bonita e surpreendente, realizada com a calma de quem faz um treino, decretou uma superioridade técnica e moral insofismável. A Venezuela podia ter saído de campo na mesma hora.
O único fato lamentável foi a contusão de Juninho Pernambucano, o volante que melhor se encaixou nessa seleção.
As substituições de Parreira, além de poupar a canela e o fôlego dos titulares, mostraram que Alex e Adriano são boas opções para entrar durante o jogo e dar uma nova dinâmica ao time. O atacante fez um belo gol, no seu estilo matador, e Alex cobrou uma falta com perfeição de geômetra, fazendo a bola cobrir a barreira e bater no pé da trave, depois de descrever uma curva.
Em suma: com o elenco de que dispõe, e disputando uma competição em turno e returno por pontos corridos -a forma mais justa e imune a zebras-, o Brasil somente não irá à Copa se ocorrer uma catástrofe ou houver muita incompetência.
Na Alemanha em 2006, sobretudo nas fases de mata-mata, serão outros 500.

A lebre e a tartaruga
Alguns amigos santistas já começam a achar que seu time também chegou ao ápice antes da hora, começando a ratear e perder terreno para o Atlético-PR. Pode ser. Penso que o próprio Vanderlei Luxemburgo, no fundo, já dava o título como praticamente ganho e ficava buscando metas acessórias para motivar seus jogadores: ultrapassar os cem gols, conseguir a maior série de vitórias etc. Havia chão demais pela frente e, como a tartaruga da fábula, o Atlético-PR surpreendeu a lebre. É cedo para saber se o Santos retomará a ponta. Mas nenhum outro clube, além do Furacão, lhe faz páreo. Ontem, o São Paulo dominou o primeiro tempo, mas foi impotente para marcar. No segundo, bastou a entrada de três titulares para o Santos se impor.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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