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FUTEBOL
Virar o fio
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Sem forçar muito, alternando momentos de brilho com
períodos de inércia, o Brasil passou fácil pela Venezuela.
Mesmo assim, acabamos tomando, numa só partida, o mesmo número de gols que os venezuelanos haviam marcado contra
nós nas 15 anteriores. Isso mostra,
a meu ver, duas coisas: que a Venezuela evoluiu bastante nos últimos tempos e que o Brasil deu
uma relaxada em seu sistema defensivo no jogo de sábado.
Nada que possa tirar o sono do
torcedor ou de Parreira. As seleções do Brasil e da Argentina são
tão superiores às demais do continente que só uma grande zebra,
ou uma série delas, poderá tirar
as duas da próxima Copa.
Talvez seja bobagem minha,
mas o perigo que vejo, paradoxalmente, é o de que as eliminatórias
sejam fáceis demais.
Basta ver o que aconteceu com
a Argentina na Copa-2002. O time de Bielsa teve campanha espetacular nas eliminatórias e chegou à Ásia como um dos favoritos
ao título. Acabou caindo fora na
primeira fase. ""Virou o fio" antes
da hora, como se costuma dizer.
O Brasil, ao contrário, chegou à
última Copa aos trancos e barrancos, depois de campanha dramática nas eliminatórias, em que
queimou dezenas de jogadores e
três técnicos. E ficou com o título.
Nas eliminatórias para a Copa
do Mundo de 1994, a seleção brasileira também passou por maus
bocados, classificou-se no final e
acabou campeã do mundo.
Não estou dizendo, obviamente, que fazer uma má campanha
eliminatória garanta uma boa
Copa -e vice-versa. (Em 1969,
por exemplo, o Brasil venceu todas as partidas das eliminatórias
e repetiu a dose no ano seguinte
no México, conquistando o tri.)
Mas um pouco daquela tensão,
daquela adrenalina que acaba
por unir um grupo em torno de
um objetivo, talvez seja essencial.
Voltando à goleada de sábado:
o primeiro gol, marcado por Kaká, foi um daqueles lances que valem por um nocaute. A jogada,
tão bonita e surpreendente, realizada com a calma de quem faz
um treino, decretou uma superioridade técnica e moral insofismável. A Venezuela podia ter saído
de campo na mesma hora.
O único fato lamentável foi a
contusão de Juninho Pernambucano, o volante que melhor se encaixou nessa seleção.
As substituições de Parreira,
além de poupar a canela e o fôlego dos titulares, mostraram que
Alex e Adriano são boas opções
para entrar durante o jogo e dar
uma nova dinâmica ao time. O
atacante fez um belo gol, no seu
estilo matador, e Alex cobrou
uma falta com perfeição de geômetra, fazendo a bola cobrir a
barreira e bater no pé da trave,
depois de descrever uma curva.
Em suma: com o elenco de que
dispõe, e disputando uma competição em turno e returno por pontos corridos -a forma mais justa
e imune a zebras-, o Brasil somente não irá à Copa se ocorrer
uma catástrofe ou houver muita
incompetência.
Na Alemanha em 2006, sobretudo nas fases de mata-mata, serão outros 500.
A lebre e a tartaruga
Alguns amigos santistas já começam a achar que seu time também chegou ao ápice antes
da hora, começando a ratear e perder terreno para o Atlético-PR. Pode ser. Penso que o próprio Vanderlei Luxemburgo, no fundo, já dava o título como praticamente ganho e ficava buscando metas acessórias para motivar seus jogadores: ultrapassar os cem gols, conseguir a maior série de vitórias etc. Havia chão demais pela frente e, como a tartaruga da fábula, o Atlético-PR surpreendeu a lebre. É cedo para saber se
o Santos retomará a ponta. Mas nenhum outro clube, além do Furacão, lhe faz páreo. Ontem, o São Paulo dominou o primeiro tempo, mas foi impotente para marcar. No segundo, bastou a entrada de três titulares
para o Santos se impor.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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