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Discreto, Miranda vira o 1º da classe
Sem agente nem holofote, atleta do São Paulo com mais jogos no ano depois de Rogério é o principal alicerce da defesa
Caçula de 12 filhos joga na zaga em homenagem ao irmão mais velho, morto em acidente, e quase deixou a carreira após perder o pai
Fernando Santos/Folha Imagem
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O zagueiro Miranda, jogador de linha que mais atuou pelo São Paulo nesta temporada, em treino da equipe no CT da Barra Funda
JULYANA TRAVAGLIA
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Breno marcou contra a própria meta o segundo
gol do Juventude, em um jogo
que não mudava em nada a vida
do São Paulo, Miranda ficou
mais abatido que os demais.
"Que golaço, hein, juvenil?!",
exclamou depois, em tom de
brincadeira, mas sem perder a
autoridade que já tem no clube.
Afinal, pela primeira vez em
um jogo, sua defesa sofria dois
gols no Nacional que já é seu. E
ninguém zelou mais por esses
números que Miranda. Depois
do técnico, é quem melhor pode explicar a defesa que levou
apenas 15 gols em 35 jogos.
"Acho que foi a concorrência
que deixou a defesa tão boa.
Ninguém podia dar bobeira senão perderia a vaga", afirma.
Jogador de linha que mais
atuou no ano (62) e homem de
confiança de Muricy Ramalho,
João Miranda de Souza Filho
não é assediado por Real Madrid e Bayern (como o novato
Breno) nem foi presença certa
na seleção de Dunga (como
Alex Silva, hoje lesionado).
No entanto, é praticamente
um ídolo da comissão técnica.
"Ele é sempre o primeiro a chegar e o último a sair. É extremamente profissional", diz o auxiliar técnico, Milton Cruz, um
dos principais olheiros do clube, dando pistas do perfil de
atleta que o clube procura. "Ele
é a cara do São Paulo: bom jogador, casado, bom caráter."
O superintendente Marco
Aurélio Cunha concorda."Parece veterano, nunca deu trabalho. É o primeiro da classe."
Com pouco mais de um ano
no clube, Miranda alcançou
dentro do São Paulo um status
de exemplo profissional que só
perde para o goleiro Rogério.
"Quando ele sente alguma
dor, chega antes no CT e faz reforço muscular. Por isso não se
machuca", afirma Milton Cruz.
Miranda, 23, parece mais experiente do que é. Além disso, é
caso raro de jovem sem agente:
60% dos seus direitos são do
São Paulo, e 40% são repartidos
entre o atleta e o Sochaux.
Diz que já teve dois agentes:
um que tentou lhe cobrar depois que o contrato entre eles já
havia expirado, e outro, francês, que pouco ajudou.
"Meu empresário é o meu futebol. Só tenho um advogado
que me ajuda com os contratos", diz ele, que renovou até
2011 com o São Paulo.
A escolha da posição no futebol e o amadurecimento vieram cedo. Caçula de 12 irmãos,
optou pela defesa em uma homenagem ao irmão Vicente, o
Piu, morto quando Miranda tinha 6 anos. "Na minha cidade
[Paranavaí, no PR], até hoje dizem que ele era melhor que eu."
Vicente deixou o futebol para
ajudar a sustentar a família.
Trabalhador da companhia de
luz local, perdeu a vida em um
acidente elétrico que o carbonizou. "Acho que quis continuar o
caminho que seria dele, por isso virei zagueiro", diz Miranda.
Cresceu nas divisões de base
do Coritiba e atuou no clube em
2005. Aos 19, casado com Jaqueline, já grávida do menino
João Victor, recebeu proposta
do Sochaux -e quase parou.
Na mesma época, perdeu o
pai, João Miranda, o que fez sua
mãe, Maria, 69, lhe pedir que
não fosse para a França.
"Cheguei a pensar em abandonar o futebol, até porque não
sabia se ia vingar. Estava fragilizado", recorda. Continuou, e
um ano e meio depois, jogando
pouco no time, decidiu voltar.
Hoje, bicampeão e valorizado no São Paulo, mantém a
mesma discrição ao não prometer virar ídolo da torcida como já é para a comissão técnica.
"Futebol é dinâmico, é difícil ficar três anos no mesmo lugar."
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