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JUCA KFOURI
E a pergunta continua no ar
A Vila Belmiro foi palco de um clássico com todos os ingredientes que fazem
a felicidade do torcedor
O QUE você quer de um grande
jogo de futebol?
Belos gols? Milagres dos
goleiros? Equilíbrio? Lealdade? Erros de arbitragem? Técnica apurada? Duelo tático?
Pois teve tudo isso no clássico entre os dois melhores times do país na
atualidade e que terminou com o
justo empate de 1 a 1, na Vila Belmiro, sob chuva torrencial.
O São Paulo foi melhor no primeiro tempo, e o Santos, bastante superior no segundo.
Além do mais, a bandeirinha Ana
Paula errou ao anular um gol de Jonas, coisa que ela mesma admitiu
numa tocante cena, de mãos dadas
com Vanderlei Luxemburgo, ao cair
da noite, na beirada do gramado,
porque o amor é mesmo lindo.
Ilsinho fez um golaço de furar a rede santista, e Carlinhos fez outro,
nos acréscimos.
No capítulo erros da arbitragem, é
verdade, houve outro equívoco, que
ninguém quer, mas faz parte: a não
marcação de pênalti de Fábio Costa,
que pegou até pensamento, em Aloísio, ao sair com as travas da chuteira
nas pernas do atacante, mesmo com
a bola já em suas mãos.
Seria o caso de dizer que todo
mundo saiu feliz, porque o Santos
permaneceu na liderança e o São
Paulo manteve sua incrível invencibilidade, além do torcedor, que viu
um jogaço. Mas, sabemos, não é bem
assim, porque as circunstâncias deram ao Santos o sabor de vitória e ao
São Paulo o de derrota.
E feliz mesmo deve estar Pedrinho, que entrou ainda no primeiro
tempo e mostrou mais uma vez que
Luxemburgo e o fisioterapeuta Filé
o devolveram para o futebol.
De resto, uma pergunta sobreviverá até o fim do Campeonato Paulista: quem é melhor, Santos ou São
Paulo? Aguardemos.
Outra pergunta: se o interior gosta
tanto dos Estaduais, porque só
4.408 torcedores viram o decisivo
Noroeste e Paulista, num estádio em
que cabem mais de 18 mil?
Armadilha real
Em sua conhecida simploriedade, o rei Pelé está em vias de cair em
mais uma arapuca. Não bastasse o
famigerado Pacto da Bola de que
participou em 2001, ainda no governo FHC, eis que agora se deixa
envolver pelos que querem rever a
legislação esportiva do país e buscam seu aval. O pretexto, está cada
vez mais claro, é rediscutir aspectos trabalhistas da Lei Pelé.
Pelé está preocupado com a saída
de jovens para o exterior e topa reavaliar o tema, embora seja óbvio
que, no máximo, será possível ampliar o prazo do primeiro contrato
entre o jogador e o clube formador.
Qualquer outra medida fora dessa
será ou inconstitucional (como impedir, por exemplo, que um pai autorize a ida de seu filho menor para
fora do país, em busca de melhores
condições de vida?) ou uma inaceitável volta da Lei do Passe, coisa
impensável no século 21 e, além do
mais, inócua nas relações internacionais desde o Caso Bosman, em
1995, quando a Fifa deixou de considerá-la como válida.
Na verdade, o que está em jogo
são outras mudanças, aquelas que
responsabilizam a cartolagem por
seus atos tanto no Estatuto do Torcedor quanto na chamada Lei de
Moralização do Futebol.
E o texto que está em discussão
na Câmara Federal, basicamente
inspirado nas idéias reacionárias
do jurista da CBF, Álvaro de Melo
Filho, alivia a barra dos cartolas de
maneira quase pornográfica.
A armadilha é essa: Pelé avaliza
uma mexida cosmética nas relações trabalhistas, mas é responsabilizado como avalista das demais,
pelas quais ele nem passou.
Sem se dizer que ter Vanderlei
Luxemburgo como companhia
num esforço para proteção dos jovens talentos nacionais é uma brincadeira de mau gosto.
blogdojuca@uol.com.br
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