São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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JUCA KFOURI

E a pergunta continua no ar

A Vila Belmiro foi palco de um clássico com todos os ingredientes que fazem a felicidade do torcedor

O QUE você quer de um grande jogo de futebol?
Belos gols? Milagres dos goleiros? Equilíbrio? Lealdade? Erros de arbitragem? Técnica apurada? Duelo tático? Pois teve tudo isso no clássico entre os dois melhores times do país na atualidade e que terminou com o justo empate de 1 a 1, na Vila Belmiro, sob chuva torrencial.
O São Paulo foi melhor no primeiro tempo, e o Santos, bastante superior no segundo.
Além do mais, a bandeirinha Ana Paula errou ao anular um gol de Jonas, coisa que ela mesma admitiu numa tocante cena, de mãos dadas com Vanderlei Luxemburgo, ao cair da noite, na beirada do gramado, porque o amor é mesmo lindo.
Ilsinho fez um golaço de furar a rede santista, e Carlinhos fez outro, nos acréscimos.
No capítulo erros da arbitragem, é verdade, houve outro equívoco, que ninguém quer, mas faz parte: a não marcação de pênalti de Fábio Costa, que pegou até pensamento, em Aloísio, ao sair com as travas da chuteira nas pernas do atacante, mesmo com a bola já em suas mãos.
Seria o caso de dizer que todo mundo saiu feliz, porque o Santos permaneceu na liderança e o São Paulo manteve sua incrível invencibilidade, além do torcedor, que viu um jogaço. Mas, sabemos, não é bem assim, porque as circunstâncias deram ao Santos o sabor de vitória e ao São Paulo o de derrota.
E feliz mesmo deve estar Pedrinho, que entrou ainda no primeiro tempo e mostrou mais uma vez que Luxemburgo e o fisioterapeuta Filé o devolveram para o futebol.
De resto, uma pergunta sobreviverá até o fim do Campeonato Paulista: quem é melhor, Santos ou São Paulo? Aguardemos. Outra pergunta: se o interior gosta tanto dos Estaduais, porque só 4.408 torcedores viram o decisivo Noroeste e Paulista, num estádio em que cabem mais de 18 mil?

Armadilha real
Em sua conhecida simploriedade, o rei Pelé está em vias de cair em mais uma arapuca. Não bastasse o famigerado Pacto da Bola de que participou em 2001, ainda no governo FHC, eis que agora se deixa envolver pelos que querem rever a legislação esportiva do país e buscam seu aval. O pretexto, está cada vez mais claro, é rediscutir aspectos trabalhistas da Lei Pelé.
Pelé está preocupado com a saída de jovens para o exterior e topa reavaliar o tema, embora seja óbvio que, no máximo, será possível ampliar o prazo do primeiro contrato entre o jogador e o clube formador.
Qualquer outra medida fora dessa será ou inconstitucional (como impedir, por exemplo, que um pai autorize a ida de seu filho menor para fora do país, em busca de melhores condições de vida?) ou uma inaceitável volta da Lei do Passe, coisa impensável no século 21 e, além do mais, inócua nas relações internacionais desde o Caso Bosman, em 1995, quando a Fifa deixou de considerá-la como válida.
Na verdade, o que está em jogo são outras mudanças, aquelas que responsabilizam a cartolagem por seus atos tanto no Estatuto do Torcedor quanto na chamada Lei de Moralização do Futebol.
E o texto que está em discussão na Câmara Federal, basicamente inspirado nas idéias reacionárias do jurista da CBF, Álvaro de Melo Filho, alivia a barra dos cartolas de maneira quase pornográfica.
A armadilha é essa: Pelé avaliza uma mexida cosmética nas relações trabalhistas, mas é responsabilizado como avalista das demais, pelas quais ele nem passou.
Sem se dizer que ter Vanderlei Luxemburgo como companhia num esforço para proteção dos jovens talentos nacionais é uma brincadeira de mau gosto.


blogdojuca@uol.com.br

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